2021, a minha Odisseia particular – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Existe um filme de 1968 chamado “2001: Uma Odisseia no Espaço”, do diretor Stanley Kubrick, que fala dos efeitos e consequências dos então imaginados avanços tecnológicos e inteligência artificial. Passados 20 anos do dito ano da odisseia, eu, que até então imaginava que o meu ano de desafios e mudanças tinha sido 2020, vivi em 2021 o que eu carinhosamente batizei de Minha Odisseia Particular.

Comecei 2021 feliz, ao lado de quem me fazia muito bem, em lugares lindos, numa viagem maravilhosa, na expectativa de receber minha filha e seu namorado que viriam morar em Macapá início do ano.

Não sou muito boa com datas, e acho incrível quando converso com quem é ouvir que “tal coisa aconteceu em 27 de maio de 98” com tanta segurança que chego a ficar desconsertada, pois só sei de data mesmo os nascimentos da minha filha e o meu, e aniversário quem detém meu afeto, fora isso, eu lembro dos acontecimentos como me pareceram, sem a exatidão temporal. Sou melhor em sentir e lembrar o que marca, pois vivo dizendo que sou uma pessoa feliz, pois tenho memória ruim.

O ano seguiu e tudo seguiu tranquilo, até que vieram mais perdas de pessoas queridas, seja pela pandemia, sejam por outras causas. A própria vida afastando e unindo. Tirando e dando, numa dinâmica que pode parecer cruel, mas é necessária para nos fazer melhores quando assim o queremos.

Em algumas ocasiões fiquei na merda, mal mesmo, achando que não iria aguentar e sem compreender o motivo de tanta coisa, mas aí toda vez que eu afundava, o universo me enviava mãos que me puxavam, botes e coletes salva-vidas, e afundar ficou cada vez mais difícil, pois tais instrumentos vinham em forma de amor.

E quando falo amor, não me refiro ao amor romântico, casal, par, que envolve paixão, pele e todas essas outras maravilhas que nos tiram ou nos fazem achar os trilhos, mas de amor genuíno, de afeto, troca desinteressada, pequenos e grandes gestos e palavras que nos cercam diariamente que às vezes não nos permitimos enxergar.

O lance é que afundar mais uma vez nessa minha curta e intensa vida que já dura 44 anos me fez submergir de olhos bem abertos e sensibilidade à flor da pele. Comecei a enxergar melhor, o que já via, mas que era tão usual que sequer parava pra pensar na importância: a quantidade enorme de amor que me cerca.

E ao escrever esse texto, confesso que me emociono e meus olhos marejam, pois é lindo demais você acordar todos os dias com saúde, ter uma puta de uma mãe (não, ela não é nem tem vocação pra tal ofício, mas a associação é pra garantir a multiplicação do superlativo que a minha genitora merece). Além dela ser minha inspiração de caráter, honestidade, empatia e tudo o que há de melhor num ser humano, ela é apaixonada pelos filhos e neta de uma forma tão visceral que sim, eu acredito que ela mataria e morreria por mim. E todos os dias ela me prova isso. Tudo bem que ela pega no meu pé e às vezes eu me irrito, mas em seguida eu lembro do quanto essa mulher me ama e aí fica tudo certo. E depois quem sou eu, tão imperfeita, pra exigir perfeição de alguém, não é verdade?

Beleza, acordei com saúde, tenho uma puta de uma mãe e aí recebo um bom dia do amor da minha vida, a moleca, agora adulta, que eu pari parece que foi ontem, mas que cresceu e é um ser humano fantástico e uma profissional dedicada. Minha filha é o que eu tenho de melhor e me alimenta de amor diariamente, com palavras e atitudes. Acho lindo ela me trazer um doce toda vez que sai, como se a criança da relação fosse eu.

Aí eu lembro do meu irmão, que como quase todo homem criado por uma mãe que nem a minha, é um lorde comigo, minha filha e com sua Marcela. Nosso amor é lindo, nunca brigamos e somos super companheiros. Sei que posso contar com ele sempre e vice-versa. Ninguém solta a mão de ninguém.

E junto com esse povo que citei, vem meu padrasto que é o pai de coração da minha filha a quem eu sou agradecida por essa e todas as outras vidas que vier, vem a minha doce, calada, prendada, linda e amada cunhada já citada, que conheço só de olhar nos olhos; o namorado da minha filha e a família dele inteira, pessoas amorosas, gentis, presentes e também para quem serei grata por todas as minhas vidas pela forma com que amam minha filha.

Aí você me pergunta: mas o que foi que mudou entre você e essas pessoas em 2021, já que elas fazem parte da sua vida faz tempo? Eu respondo: TUDO. Não somente eles, mas os amigos que tenho de décadas e os que descobri caminhando recente, me presenteiam diariamente com afeto, respeito, cuidado, cor e alegria.

As perdas, dores e frustrações vividas em 2021, ao invés de me fazerem lamentar o que não tenho, me fizeram valorizar ainda mais o que eu tenho, e agradecer, agradecer, agradecer.

E antes que alguém diga: NÃO! Minha vida não é perfeita, e muito menos as pessoas que citei. NADA é. Sempre haverão dificuldades e problemas, mas conseguir enxergar todo esse AMOR faz com que nosso fardo seja menos pesado, pois temos a certeza de que não estamos sozinhos.

Gostaria de citar aqui TANTA gente que me é valiosa, mas já me alonguei demais, mas todos os que me cercam sabem o quanto me são importantes pois os lembro de vez em quando, ora com palavras, mas muito mais com atitudes e desde que me permiti enxergar, receber e devolver melhor todo esse amor, como diz um grande amigo irmão, NADA ME VENCE. Nem eu mesma. Perceber a grandeza das pequenas coisas foi a minha odisseia, que significa “longa perambulação ou viagem marcada por aventuras, eventos imprevistos e singulares”, que em resumo foi o meu 2021. Gratidão a todos os que participaram dele e os aguardo ansiosa para viver 2022.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

  • Realmente amiga Parabéns pela Bela Crônica, demonstrando como o ano de 2021, influenciou na nossa vida, desde o avanço tecnológico de forma progressiva, quanto aos nossos sentimentos de amor ao próximo, amor de mãe e de filha.. Feliz Natal e um feliz ano 2022.

  • Dizer o que mesmo ?!
    Te amo , e tenho orgulho da sua coragem de viver em plenitude!
    A intensidade é genética,.. raso, só o prato (em tempos de dieta)

  • Verdade foram momentos como disse de muitas perdas e como disse vc, talvez estão melhores que nos , amor sim melhor é aquele que se sente no ar, amei só não vou comentar mas pois hj o dia foi difícil mais amo mande sempre bjss

  • Mais uma vez Telma nos emociona com um belo texto, onde em algumas partes eu li e reli para então perceber que algumas coisas fazem parte do nosso dia dia e cabe refletir o que nos seres humanos vivemos e o que aprendemos com este 2021 que já está indo embora e consigo levou pessoas queridas deixando apenas a memória enraizada de eternas saudades.

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