EXÍLIO
era por causa do poeta
que havia orvalho nas folhas
e por causa dele o mar se agitava
por causa dele o outono vinha
e o vento segredava mistérios
o poeta existia
para que as flores
se abrissem
e a madrugada derrubasse estrelas
para que o sol
invadisse as casas
e secasse lágrimas
de um abandono
o poeta existia
para que nas noites de insônia
viessem os vagalumes
e para que as auroras trouxessem sorrisos
o poeta existia
para que o amor
pudesse transbordar sua fúria
e depois descansar
em alvas camas
e para que a ternura
brotasse em mãos calosas
o poeta existia
para que os homens pudessem
beijar à distância
para que desejos
fossem saciados
para que a saudade
pudesse apenas ser
e para que toda a música
fizesse dançar a tarde
mas era tão duro o mundo
e tão cegas e surdas as pessoas
que um dia o poeta se foi
e ninguém percebeu
Patrícia Andrade
2 Comentários para "Poema de agora: EXÍLIO – Patrícia Andrade"
Que lindo, Pat Andrade 😍
Excelente poema. Vc nunca se cansa de cutucar minha alma com versos que acalmam e me revoltam!
Amo suas obras, elas todos os dias são melhores!