A primeira vez do tricolor Braga no Mangeirão – Por Rebecca Braga – @rebeccabraga

Por Rebecca Braga

Era terça-feira e eu e o velho Braga, inexperientes nas aventuras futebolísticas, saímos de casa por volta das seis da tarde para ir até o estádio Mangueirão, reformado e moderno, para acompanhar o jogo Paysandu X Fluminense pela Copa do Brasil.

O caminho, que leva não mais de 40 minutos em dias de trânsito normal, levou quase 1 hora e meia mas, ainda assim, chegamos antes do jogo começar.

Enquanto caminhávamos até o portão que dava acesso ao setor de cadeiras A1, destinado à torcida do Fluminense, sentia essa tensão dentro de mim. Medo da violência (inclusive policial), preocupação com o bem estar do meu pai, e também excitação.

Era a minha primeira vez num estádio e eu, que sou Flamenguista e sempre sonhei em ver o Mengão no Maracanã, estava indo a um jogo do Flu contra o meu rival paraense Paysandu. Sim, também sou Remista. Ambas paixões eu divido com meu tio Fabio Lucio.

Eu já ouvi muitas críticas a respeito da minha torcida ao Flamengo, seja por ele ser um time carioca, seja por questões políticas. Sobre a última meu pai, sabiamente, me disse uma vez: “Não se pode confundir o time e seus torcedores com sua diretoria”. Assumi isso pra mim desde então.

Certo é que também não se explica o amor pelo time do coração. Ele simplesmente acontece, te arrebata, te tira lágrimas, gritos e gargalhadas.

Mas eu mesma não levo futebol à sério. Se alguém me perguntar a escalação ou o técnico do Flamengo em 1997, eu não faço a mínima ideia e, honestamente, não me importa. Vez ou outra eu vou saber qual a colocação do time na tabela, o resultado do último jogo ou talvez a última contratação. Mas o que me importa mesmo é vê-lo jogar. “Seja na terra, seja no mar…”

Meu pai, ao contrário, vê todos os jogos. É conhecido por torcer de maneira bastante entusiasmada, com gritos e palavrões.

No estádio ele chegou tímido e dando passos calculados, mas feliz igual uma criança. Percebemos que o lugar onde íamos ficar era bem perto do campo, logo atrás do gol do Paysandu. Se o Fluminense marcasse no primeiro tempo, a gente veria de pertinho.

O gramado verde, a onda azul celeste nas arquibancadas, o amontoado singelo de camisas grená, as luzes… Era tudo muito impressionante e eu sou do tipo que acha tudo isso divino maravilhoso.

Os times entrando ao som de vaias e aplausos, as crianças de mãos dadas com os jogadores, os letreiros luminosos de propaganda e o placar gigantesco me faziam crer que estávamos mesmo vendo dois times incríveis entrando em campo: o melhor e o desafiante da casa.

Acontece que no estádio tudo é diferente. Não tem a narração gritando Rrrrrrrrrs infinitos e soltando comentários como “é ele, Kennedy, o presidente”.

Toda a emoção você administra acompanhando a bola com os olhos e se deixando levar pelo grito da torcida. Dentro do meu peito eu sentia a pulsação dos bumbos e surdos que soavam ininterruptamente na torcida do Papão. É o tipo de coisa que quase te coloca em transe.

Papai distraiu a frustração de ter esquecido o radinho de pilha que usaria para ouvir o jogo com os meus comentários de “ele chutou pra fora”, “escanteio, pai, é o Ganso que vai bater”, “a juíza deu falta pro Paysandu”. E assim eu consegui contar um pouquinho do que estava acontecendo em campo pra ele que quase não enxerga.

1 gol. 2 gols. Mudamos de lugar pra acompanhar o time no ataque e, faltando 15 minutos pro jogo acabar, decidimos deixar o estádio pra tentar uma saída mais tranquila. Quando chegávamos ao portão o barulho da torcida anunciava o terceiro gol do Fluminense. Que sorte a nossa, hein?

Os gritos de “e-li-mi-na-do” da torcida tricolor nos arrancou risos, e o silêncio na torcida do Paysandu dava um pequeno vislumbre da tristeza de quem, até o fim, acreditou. Valeu, Papão.

Eu que não sou muito crente pensei: “Obrigada ao Deus do futebol por esse dia”. E lembrei-me de Galeano no seu primoroso Futebol ao sol e à sombra:

“E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre – sem me importar com o clube ou o país que o oferece.”

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