Calma, gente! Tô em transição! – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Selfie de Telma Miranda que causou questionamento por parte de algumas pessoas.

Crônica de Telma Miranda

Postei uma foto nas minhas redes sociais onde meu cabelo está solto e espalhado na cama, e as raízes brancas ENORMES geraram muitos questionamentos. Pessoas querendo saber o motivo de eu “estar assim”, se ainda vou pintar, se estou bem, etc. Vamos então, por partes, explorar a pauta.

Tenho 44 anos completados em dezembro, logo, na época de aparecerem os cabelos brancos que a tantas mulheres apavora pelo aspecto de “desleixo” que emite e tanta gente acha lindo em homens.

Meus cabelos são grisalhos desde que tenho cabelos. Nasci com um sinal na cabeça enorme na parte de trás e ao redor dele os cabelos sempre cresceram brancos. Antes dos meus 30 anos eu já estava uma grisalha completa e fazia uso de tintura sem amônia, por ser alérgica.

Toda vez que chegava na casa da minha avó Amélia, no Trem, quando eu retocava as raizes , ela logo falava: “Menina, essa química ainda vai te matar!”, e eu, sempre com uma resposta na ponta da língua, devolvia: “Pode até matar, vó, mas estarei belíssima no caixão!”, cruzando os braços no peito e ela apenas sacudia a cabeça como se soubesse o que aconteceria num futuro próximo.

Meus avós maternos tinham os cabelos bem branquinhos, quase prateados. Meu vô Miranda usava sempre cortado ao estilo militar, bem curtinho, e a vó Amélia com seus cabelos brancos e longos até a cintura, usando-os trançados ao costurar, externava a pouca vaidade que tinha ao soltá-los e penteá-los sempre com muito cuidado.

E cá eu, grisalha e com uma alergia cada vez mais agressiva com o passar dos anos, que não é à amônia, mas ao pigmento, ou seja, qualquer substância que eu use que contenha cor vai causar reação, cada vez que retocava minhas raízes ultimamente, quando ficava com meu couro cabeludo em ferida aberta por mais de uma semana, acompanhado das glândulas do meu pescoço inflamadas, que impediam de mexer a cabeça e também causavam muita dor, junto com as orelhas, olhos, boca e pele inchados, lembrava de quem?!?! DA VOVÓ FALANDO QUE A TINTA IA ME MATAR! E gargalhava sozinha e pensava que ela não ia desistir enquanto eu não parasse de pintar meu cabelo.

Mas como eu vou parar? Vão me chamar de relaxada, vai me envelhecer, vou ficar feia, ser julgada, medida, sofrer bullying, preconceito. Pensei nisso? NÃO!!! Somente um dia decidi que não queria mais sofrer esse processo de adoecimento que o retoque de raiz me trazia. Simplesmente parei. E assim tem sido. Parei e tô deixando meus cabelos crescerem. Já cortei duas vezes desde que parei de pintar. Hoje eles alcançam minha cintura. E eu lembro da velha Amélia falando e abro um sorriso.

Meu sorriso se deve ao fato de que em momento algum, por todas as perguntas e comentários que meus cabelos causam, sejam na minha frente ou não, eu pensei em desistir, mesmo que não seja fácil. Não é fácil você ouvir da sua mãe que conhece uma tinta vegana que pode não te fazer mal, da sua amiga que você fica mais bonita de cabelo pintado, ver os olhares que principalmente outras mulheres lançam que praticamente dão pra ler a legenda de julgamento e diminuição.

Eu não preciso agradar ninguém se eu estiver feliz e para isso não invadir espaços alheios. Eu me aceito, com a idade que tenho e as marcas que ela traz, pois junto com cada marca vem experiência, aprendizado, melhoria. O pneuzinho cada vez mais difícil de sair, a celulite, a estria, os cabelos brancos, as rugas, a flacidez: tudo isso faz parte do processo. Claro que podemos retardar muita coisa com os avanços estéticos. Os 50 hoje são os 30 de ontem.

Mas independente do investimento na prevenção ou cuidado, o tempo passará para todos nós. Uns mais belos por dentro que por fora, outros o oposto. Haverão os belos por dentro e por fora e os que pouco terão o que oferecer. Não importa. Cada um que siga o caminho que escolheu e que isso seja respeitado. Respeitar as escolhas do outro é muito importante para que as pessoas possam fazer o que gostariam de fato, pois nem todo mundo nasceu com aquela tecla “F” ligada ininterruptamente como eu.

Sou uma jovem senhora de um metro e meio, agora grisalha, que toma shake todos os dias, brigando com a balança, que pratica esporte, mas depois do COVID ficou mais tola, que não ultrapassa limites ou faz loucuras para ficar linda, perfeita e admirada. Pelo contrário.

Sou imperfeita. E nessa minha consciência de imperfeição, tem dias em que acordo linda, diva, irretocável, a mulher mais gostosa das galáxias e em outros (poucos, confesso!), nem quero me olhar no espelho ou me arrumar por estar me achando um lixo, mas a grande maioria dos dias me sinto bem e feliz, ou seja, coluna do meio. Feliz por ser exatamente quem eu sou, e vou continuar sendo independente da cor que meus cabelos estiverem.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

  • Todos querem a liberdade, mas , a maioria a teme !
    Parabéns por ser liberta dos estereótipos, que alimentam um mercado impositivo, que vende o padrão da beleza !
    Mas nada é mais bonito que viver a delícia de “ser o que é “.
    Beleza? É o que vc trás de dentro pra fora , o resto é adereço!
    E viva a liberdade!

  • Linda colocação Telma, bom eu dês dos meus 15 anos já tinha cabelos brancos hoje com os meus 45 anos eu tenho a benção de ver meus cabelos grisalhos e confesso fui tentar fazer eles ficarem jovens rsrsrs confesso que não gostei e hoje eu sou grato a Deus por ter os meus cabelos brancos e sou muito feliz por isso. Gostei muito da sua crônica, agente só se sente envelhecido quando não aprende a se conhecer melhor e agradecer tudo que tem em especial a vida que Deus deu.

  • Nossa! Que história!!
    Nunca imaginei que fosse algo a ver com saúde.
    Tem que se cuidar mesmo, tinta agride muito o cabelo.
    O seu cabelo está lindo, natural, liso igual de índia, é perfeito, simplesmente.
    Admiro vc.
    Posta mais textos!!!
    Eu leria um livro seu, sem pensar duas vezes..

  • Amei sobrinha linda, cada vez mais sei que temos o mesmo sangue, me orgulho disso, pois suas crônicas vou conhecendo um pouco de mim, sou alérgica também e o mesmo motivo me levou a assumir os cabelos brancos, meu sinal tenho na frente , os cabelos quando pintava jamais a coloração fica mais que 07 dias,, amei o texto tenho certeza que mais mulheres empoderas irão se identificar, bjs sucesso

  • Sempre achei que esses cabelos grisalhos eram pra realçar ainda mais a beleza e elegância dessa mulher incrível. Hoje sabendo um pouquinho mais sobre a história dos tão temidos cabelos brancos tenho ainda mais respeito e admiração!

  • Texto perfeito, me vi ali escrevendo tudo o que penso, mas confesso, sem coragem ainda, pra chutar o balde, melhor dizendo, as tinturas🤭💐

  • 🙉 eras me identifiquei muito com sua postagem, EU assumi meus cachos por questão de saúde tbm , a progressiva, chapinha e até o alisamento no banho( produto que promete alisar o cabelo no chuveiro) me deixava cheia de bolhas na cabeça, eu tinha que alisar constantemente, minha raiz crescia rápido, eu vivia tomando antialérgicos, antiinflamatórios e teve vezes que eu tomava o antialérgico injetável para 6 meses e no segundo mês, eu não aguentava e tomava novamente, era muita alergia, ganhei peso pq antialérgico tem corticóide, e tudo foi piorando, eu me sentia muito mal, tentei parar de tomar o injetável e passei a tomar a pílula, era 1 ou 2 por dia pra aguentar, mas era paliativo.
    Até que decidi assumi meus cachos, no início foi bem difícil, mas hoje minha qualidade de vida é melhor e tô MUITO bem. 🙌 💃

  • Tenho 56 anos meu cabelos estao quase todos grisalhos, brancos em algumas partes. Incomoda certas pessoas. Mas, eu nunca me senti tao empoderada. Uma mecha bem branca eu tenho desde que nasci. Genetico. Um dos meus tios maternos tem, e minha mae me disse que meu avo tambem tinha, os 3 exatamente no mesmo lugar. Nao vou pintar jamais. Adorei a cronica. Parabens, mulher.

  • Não consegui responder aos comentários um a um, mas agradeço imensamente a Solange Evangelista (vou deixar naturalmente platinado!☺️), Kika Mendonça (sou sua fã demais!), Dalva Miranda, mais conhecida em casa como mamãe (graças à senhora eu sou o que sou! Te amo!), Elielson Cardoso (realmente se conhecer é parte muito importante nesse processo, você tem toda razão!), André Bezerra, Vitória (fiquei muito feliz em saber que você leria um livro meu!🥰 tô tentando caminhar pra isso!), Valdirene, minha querida tia (somos lindas grisalhas, plenas e livres! ❤️), Suzana Reis (sempre tão carinhosa!), Sandra Casimiro (feliz e honrada com seu comentário!), Juliana Silva (agora você sabe mais um pouquinho e conto com você nos próximos textos! ☺️), Silvia Castro (a coragem é um processo. O importante é você estar feliz e satisfeita!), Gessica Lacerda (fiquei tão feliz de você se identificar com a questão dos cachos e se sentir representada! Você é linda de qualquer jeito! 🥰), Petrolina Tavares (cada palavra sua me encheu de felicidade!), Fernando Canto (não tenho nem palavras para agradecer e saiba que hoje dormirei me achado, pois o FERNANDO CANTO comentou meu texto!) e Luiz Afonso (meu amigo, sempre tão gentil!). ENORME GRATIDÃO a todos vocês por lerem, curtirem e comentarem. 💐

  • Amei seu texto, suas colocações, palavras empoderadas.
    Vc é uma pessoa muito firme. Tive a satisfação de conhecê-la no curso de coach e passei admirá-la pela firmeza, ousadia e coragem.
    Quando vejo suas postagens sempre comento comigo mesma: essa mulher é F…

    Mas é isso. A vida nos permite fases para sermos felizes e não escravos.
    Que possamos ter mais coragem e ousadia para viver nossas fases nos preocupando com nós mesmo e não com as opiniões alheias. Abraços🥰

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