Show de humor, de Adilson Alcantara, acontece nesta quinta (24), em Macapá

Músico, humorista, cantor e compositor Adilson Alcantara – Foto: arquivo pessoal do artista.

Nesta quinta, feira, 24, tem show “Quem quer rir comigo” do humorista, cantor e compositor Adilson Alcantara, a partir das 19h, no espaço cultural Gastrobar Farofa Tropical, em Macapá.

O humorista paraense está de volta a Macapá e na apresentação contará com o humo amapaense Nilson Borges, conhecido pelo seu personagem Vardico da dupla que fazia com seu irmão Lurdico, dos Cabuçus, como participação especial.

Na parte musical terá os músicos Enrico de Miceli e Fineias Nelluty, este último além da parte musical, também conta com a veia humorista.

O show foi lançado em setembro de 2021 em Belém, um mix de humor e música, divido em 12 atos, em que cada um faz referência a um mês do ano e a partir de datas marcantes surgem histórias, causos e paródias, mostrando o cotidiano.

“O show é recheado de humor e música, por 4 anos com o colega de humor Epaminondas Gustavo, que faleceu vítima de Covid-19. E voltei a fazer e estou estendendo ele a outras cidades e estados, como Manaus, agora Macapá e toda a região Norte”, explica o artista.

Dirigido pela jornalista Márcia Freitas, o show marca mais um desafio na carreira de Adilson Alcântara: cantar e fazer humor ao mesmo tempo de forma leve a partir de situações vivenciadas no dia-a-dia das pessoas.

Serviço:

Show “Quem quer rir comigo” do humorista Adilson Alcantara
Data: 23-03 e 24-03
Horário: a partir das 20h
Local: Farofa Tropical
Endereço: Rua São José,1024, Centro
Informações e reservas: 98137-3130

Fonte: Blog da Alyne Kaiser.

De Santana-AP, Relson Cardoso sobe nos maiores palcos da comédia de São Paulo

As risadas das plateias já acompanham o santanense Relson Cardoso desde 2019, quando iniciou sua trajetória na comédia Stand Up, mas agora vão além do público conquistado entre seus conterrâneos e ecoam das maiores casas de shows de São Paulo (SP), onde o humorista passa a primeira temporada interestadual de sua carreira.

A princípio eram dias para conhecer o cenário e fazer contatos, mas Relson já ganhou notoriedade e pôde se apresentar nos comedy’s paulistas. “Viemos passar 15 dias para conhecer a cena e fazer networking com os comediantes daqui. Já consegui me apresentar em alguns locais aqui e um deles, inclusive, é a maior casa de comédia do Brasil, mesmo palco que já pisaram Whindersson Nunes, Afonso Padilha, Thiago Ventura, entre outros”, conta.

O humorista do Amapá conta que o momento do encontro com Whindersson Nunes ficará marcado em sua história, assim como a resposta de Thiago Ventura em uma de suas piadas.

“O ponto alto dessa nossa turnê por aqui, sem dúvida, foi ter encontrado com o Whindersson, ter conversado um pouco com ele. Outra coisa muito legal que aconteceu foi o Thiago Ventura ter curtido e comentado um vídeo meu que eu postei no meu Instagram”.

Tudo começou com as publicações do seu cotidiano como eletricista, o tom bem-humorado de Relson conquistou novos espaços e chegou aos vídeos produzidos na sua conta no Instagram (@relsoncardoso) obtendo mais de 100 mil visualizações em algumas postagens. O humorista também já se apresentou em diversos shows em Macapá e Santana, todos com casa cheia e a resposta de gargalhadas garantida.

Agora, o santanense tem percorrido as casas de shows paulistas sob a orientação da agência que compõe. A ideia central é justamente divulgar seu nome e abrir portas.

“Nesse tempo aconteceu muita coisa boa. Conheci muitos comediantes que antes eu só via pelo YouTube. Quando a gente fala que é do Amapá, eles dão muita atenção. São muito simpáticos, na sua maioria. Já dividi o palco com humoristas que tem no currículo participações em shows na Netflix”, conta.

O amapaense segue na temporada em São Paulo, mas tem planos para o futuro: “Fiz uns contatos muito importantes por aqui, com produtores de artistas a nível nacional. Voltarei com uma bagagem de conhecimento muito vasta”, conclui.

Marcelle Nunes – Jornalista
Contato: (96) 98106-4232
Assessoria de comunicação

CARTAZISTA: Um olhar urbano da crise econômica na pandemia (Por Fernando Canto)

Por Fernando Canto

Depois das perguntas de praxe, o delegado encara o preso e pergunta:

– O que é que tu fazes na vida além de vender drogas por aí?
– Sou letrista eu, falou Tinzinho, cheio de empáfia.
– Quer dizer que tu és compositor igual ao Osmar Júnior… o Zé Miguel…?
– Não, só letrista, com muito orgulho.
– Huumm! Ah é, é. Mas onde é que tu publicas teus trabalhos, malandro? Na baixada?
– Não, doutor, lá no centro.
– Como assim? É na banca do Dorimar? Em alguma livraria ou na boca de fumo?
– Não, doutor, é nas esquina.
– Como assim?
– Sou letrista e cartazista eu.
– Diz logo, seu féla. Não me deixa ficar enfezado.
– É que eu tô desempregado. Faço qualquer negócio.
– Para com a mentira. Olha a palmatória….
– É que eu me divido entre vender droga e fazer as letra eu.
– Quer dizer que és universitário, hem? Tu também vende drogas pros intelectuaisinhos da Universidade?
– Não, doutor.
– Me dá essa mão aqui.
– Pelamor, doutor. É com essa que eu faço as letra.
– Que letras, caralho?
– Dos cartaz.
– Que cartazes, filho de uma égua?
– Ai, ai, ai, doutor, não me bata.


– Não vou bater. – Ô Alcinão, dá-lhe um sapeca aiai nesse traficante safado e mentiroso. Olha só a conversa do malandro…
– Por favor, por favor, seu doutor delegado…
– Diz logo, seu corno. – Pra quem é que tu vendes essas porcarias.
– Eu pego com o Papacu lá do PHelp. E com o Cleoinsano da baixada Pará. Pronto. Falei. Não me bata doutor nem mande esse monstro aí me bater também de novo.
– Porra, Alcinão o artista aí te chamou de monstro… Se eu fosse tu não alisava.
– Ai, ai, ai, doutor não deixe ele me bater.
– Tá bom, mas tu vais me dizer que cartazes são esses. É propaganda pra vender drogas? Ou tu és cafetão de alguma putinha de menor?
– Não, seu delegado. Longe de mim ser isso.
– E como é que tu faturas, como ganhas teu l’argent?
– O que é esse tal de larjan, delegado.
– Não enrola, rapá. Olha o Alcinão só te abicorando com a palmatória. – Diz logo, porra!
– Eu escrevo os cartaz de papelão pros meus amigo desempregado que ficam pedindo nas esquina do centro da cidade. Cobro dez real. Pode ver, doutor, a caligrafia é a mesma…

O delegado coça a cabeça, respira fundo e fala:

– Ô Alcinão, libera esse artista filho da mãe. Cada um que me aparece…

Corrida Maluca: um exemplo PARA A VIDA – Crônica de Marcelo Guido

Clássicos nunca morrem, eu costumo dizer. Por muito tempo nos acostumamos a acreditar que o passado passou e não pode ser relembrado. Discordo!

Relembrando fatos da infância, divago por coisas que marcaram para sempre a minha existência. Uma delas, com certeza, são os quadrinhos, dos quais sou fã até hoje, e os desenhos animados (disco de rock, por serem especiais demais, nunca me atrevi a deixá-los de lado).

Tive muitos heróis cujo tempo, covardemente, fez questão de colocar em segundo plano em muitas fases de minha vida. Como pude esquecer, por exemplo, dos GALAXY RANGERS?, CENTURIONS, ZONO RAIDERS?

Mas antes vieram os básicos, minhas lembranças me levam aos primórdios aonde o que interessava mesmo era a diversão. Joseph Barbera e William Hanna eram especialistas nisso.

Os caras se conheceram em 1947 e tomaram um cano do Walt Disney, que prometeu contratá-los e nunca apareceu. Talvez por isso o Mickey seja tão chato.

Dessas duas mentes privilegiadas e brilhantes saíram “Tom & Jerry”, “Zé Colmeia e Catatau”, Fred Flintstone e Barney Ribble, dentre outros.

Em 1968, os caras resolveram se basear em um filme e lançar um desenho com 11 personagens principais, isso sim merece uma menção honrosa; imagina a dificuldade para que nenhum personagem ficasse em segundo plano. E assim nasceu a “Corrida Maluca”.

Inspirado no filme “A Corrida do Século” (1965), a “Corrida Maluca” era uma espécie de campeonato de carros que tinham os mais malucos participantes possíveis.

As corridas eram disputadas por esses caras no melhor estilo “vale-tudo”, e tinha de tudo… Imagine uma corrida com um carro que é um Avião pilotado pelo Barão Vermelho (carro nº 4) no mesmo Grid de largada de híbrido de tanque com carro (carro nº6), comandado por um cara chamado Meekley e com Sargento chamado Bombarda no Canhão? Ou com um cara com um carro de F1 que atente pela alcunha de Peter Perfeito (carro nº 9) (tem uma banda legal com esse nome) – era a formalização do herói perfeito, junto do Carro Mágico (nº 3) do Prof. Aéreo (um cara com feições de cientista maluco, mas que era do bem).

Ainda tinha o “Cupê Mal-assombrado” (nº 2) guiado por Medonho e Medinho, que ainda tinha uma torre (hummm) de onde saía um dragão, uma serpente, etc.; tinha o “Carrinho pra frente” (nº5) da Penélope Charmosa, o “Carro à prova de balas” (nº7), que muitos chamam de “Chicabum” e era comandado pela Quadrilha de Morte, “Serra Móvel” (nº 10) do Rufus o Lenhador, e do Dentes de Serra, a “Carroça a Vapor” (nº7) do Tio Tomás e do urso Chorão.

Todos os carros tinham as placas iniciadas com um “HN” em alusão aos criadores.

O meu preferido era o “Carro de Pedra” (nº 1) dos Irmãos Rocha (nome também de outra boa banda), que, mais tarde, deram origem ao “Capitão Caverna”. Sem contar, é claro, com a “Máquina do Mal” (nº 00) do Dick Vigarista e seu escudeiro Muttley, a Máquina do Mal, aparentemente, era o carro mais rápido e tecnológico dentre os competidores.

Apesar de tecnologicamente superior, o carro nº 00 nunca conseguiu vencer uma corrida. Muito mais pelo caráter duvidoso do seu piloto, que perdia muitas posições com planos mirabolantes e armadilhas para prejudicar os outros competidores.

A Revista “Mundo Estranho”, de julho de 2012, atribui o seguinte ranking:

• 1º Carro de Pedra/Irmãos Rocha – 81 pontos
• 2º Carro-a-prova-de-balas/Quadrilha de Morte – 74 pontos
• 3º Cupê Mal-Assombrado/Irmãos Pavor – 69 pontos
• 4º Carroça á vapor/Tio Tomás e Chorão – 68 pontos
• 5º Carro Tronco/Rufus Lenhador e Dentes-de-serra – 67 pontos
• 6º Carro de Mil e Uma Utilidades/Professor Aérao – 65 pontos
• 7º Carrinho pra Frente/Penélope Charmosa – 64 pontos
• 8º Lata Voadora/Barão Vermelho – 63 pontos
• 9º Carrão Aerodinâmico/Peter Perfeito – 60 pontos
• 10º Carro-tanque/Sargento Bombarda e Soldado Meekley – 39 pontos
• 11º Máquina do Mal/Dick Vigarista e Muttley – 00 pontos.

Essa é a moral da história: por mais que se tenha todo um aparato, você jamais conseguirá vencer se tentar trapacear. Assim é a vida…

Que os infindáveis Dicks Vigaristas continuem se dando mal. Porque, assim como na Corrida Maluca, na vida o bem sempre vence o mal.

O TRAÍDO DO BAR DA MARIAH – Conto de Fernando Canto

Conto de Fernando Canto

Estava anoitecendo e eu acabara de tomar solitariamente uma cerveja supergelada no bar da Mariah. Ao me despedir levantei a mão para um grupo de jovens empresários e profissionais liberais burguesinhos, que ora prescrutavam as redes sociais, ora discutiam e gesticulavam. Eram contumazes fregueses de fins de semana reunidos para beber em uma grande mesa de plástico, uma junção de três outras. Na passagem para pegar meu carro ouvi um deles dizer:

– O poeta já vai dormir. Saudou-me com reverência.
Em seguida, um rapaz de barriga proeminente, barba aparada e cabelos da moda, mas extremamente bêbado, rosnou como um hipopótamo, babando pela boca adiposa.

– Esse poeta deve ser é corno. E gargalhava e tossia uma tosse seca, quase se afogando.

Seus amigos o censuraram imediatamente:

– Eh, rapaz, para com isso. Tu nem conheces o cara…
Fiz ouvido de mercador e em vez de chegar ao carro voltei para comprar algo esquecido. Tomei mais uma cerveja, paguei a conta, deixei passar um tempo, passei na mesa deles e disse, olhando bem a cara do ofensor, um sujeito que realmente eu não conhecia.

– Ei, bicho, nunca te vi. Por que que tu me ofendes, seu filho de uma puta?
Falei alto para que todos ouvissem. Ficou um silêncio de arrepiar os pelos. Os olhos verdes do bêbado cresceram sob o baque inesperado da minha reação.

– Eu ouvi o que falaste, mas vou te dizer uma coisa: é melhor ser um poeta sozinho e corno do que um idiota como você, seu porco fascista, que pelo jeito já deve ter tido essa experiência, porque tens cara de pederasta depravado, seu porteiro de puteiro.

Todos me olharam estupefatos. O cavalo do rio então… Mandava raios roxos de raiva em minha direção. Eu aproveitei o momento da surpresa e continuei:

– Eu não sei se sou ou não porque todo mundo é livre pra trair e pra fazer o que quiser, mas se eu sou eu vou saber. E prossegui: – Eu acho que tua diversão em ofender as pessoas deve ser um reflexo do teu recalque como um chifrudo que tu – eu disse apontando para a cara dele – que tu és, com certeza.

E completei, pra acabar logo a frescura:

– Não tô nem aí pra processo. Foda-se o politicamente correto. Tu não me conheces, sua baleia dopada.

O impacto da minha fala ligeira e contundente ficou no ar e nos olhos do pesado insultador. Ele babava, e quando pegou o lenço no bolso traseiro da calça, para limpar a baba e os líquidos que escorriam do nariz e dos olhos, fiquei tenso, pois pensei que fosse uma arma. Os caras que eu conhecia nessa mesa me aplaudiram fazendo pilhérias dele. O porco se tocou e quis se levantar, rebarbado, mas foi amparado para não cair.

– Senta aí, porra. Tu tás porre.
– Viu o que dá, ficar ofendendo as pessoas de graça?
– Te aquieta que ninguém compra uma briga dessas.
– Vai pra tua casa, caralho que tu tás bêbado, seu otário.

Para a minha surpresa o cara se acalmou e começou a chorar. Depois se levantou cambaleante, como se estivesse iluminado de uma necessidade de falar, e disse, se voltando para um companheiro a seu lado:

– Minha mulher está me traindo contigo, seu filho da puta. Tás pensando que eu não sei? Eu descobri e ela confessou. Vê aqui esse vídeo de vocês dois se beijando. Eu que filmei. Tu és um amigo falso. Não sei como é que ainda pago cerveja pra ti, porra.

O porcão chorava e apontava o dedo para o amigo impiedosamente. O acusado o abraçou e redarguiu que era tudo mentira, que era fake news, mas o traído não acreditava. E mesmo chorando e puto da vida falava a todos:

– Esse porra é o meu melhor amigo desde a infância. Eu amo ele. Mas ele me traiu com a minha mulher que me traiu com ele.

Enquanto os dois se perdiam perdão chorando abraçados, esfregando testa com testa em cima da mesa e seus amigos pagavam a despesa, eu pensei: “isso vai dar merda. É melhor tirar o time de campo”. Fui saindo à francesa na direção do carro, mas me viram. Ao ligar a ignição ouvi o porcão gritar meio choramingando ainda:

– Desculpa aí, tio. O corno aqui sou eu. E você está certo. Eu sou um idiota mesmo. E voltou a desatar no choro a mostrar o vídeo para os componentes da mesa.
Pelo retrovisor vi seus amigos rindo e acenado a mão para mim. O mesmo cara que me conhecia gritou:

– O poeta já vai dormir o sono dos justos.

_ooo_

Ainda era cedo quando cheguei em casa pensando no que se sucedera no bar da Mariah, inclusive nas possibilidades de reação e caminhos que teria, no sofrimento que passaria e nas inúmeras desculpas e culpas recíprocas, se eu traísse ou viesse a ser traído pela minha amada mulher. Ela era muito bonita e bem mais jovem do que eu. Tínhamos uma relação de confiança e respeito, mesmo assim imaginava que a segurança de cada um acaba quando o diabo nos lambe o rosto com sua língua preta em tempo e lugar não imaginado. Vinha abrupto na minha frente o desenho bíblico da serpente ofertando a fruta proibida à Eva no paraíso. Em seguida o anjo portador da espada de fogo os expulsava para a realidade da vida, nus, sob intempéries, sob tormentas.

Eu lembrei do amigo Lúcio, um professor de filosofia falecido recentemente de Covid-19, que dizia: “Minha alma é como a sociedade de Hobbes, a que perverteu o homem. Eu era puro e fui corrompido quando amei pela primeira vez na adolescência ao encontrar a mulher da minha vida. O gênero humano se corrompe reciprocamente, por isso cada um é o lobo de si mesmo. Então eu amei e me perverti, amei e me corrompi sempre, mas nunca fui radical com as mulheres que amei, tanto que as deixei que se amassem e se corrompessem, afinal eram lobas que se devoravam a si mesmas. Isso também é poesia, meu poeta”, ele afirmava às gargalhadas. Dizia ainda que “todos nós somos corrompidos pela sociedade e pelas circunstâncias, que passam pela janela dos desajustados e até pela fantasia do amor, meu irmão. Por isso eu te digo: Hobbes tinha razão, Rousseau tinha razão, Locke tinha razão. Todos esses filhos da puta contratualistas tinham razão. Eles mudaram o rumo interpretativo da humanidade para provar que ainda somos e seremos uns filhos da puta por muito tempo”. E gargalhava como só ele sabia fazer.

Fiquei refletindo sobre os acontecimentos que já testemunhei em bares, dos que vivi como protagonista em brigas e confusões e sobre como eles nutrem de matéria-prima a construção de textos poéticos ou não, afinal as coisas da vida são feitas de realidades, mas também de sonhos e pesadelos, de poder, amor, sedução e traição. E de fatos que penetram a mente do poeta e são manipulados pela imaginação. Parece até que deixam o inconsciente prenhe de material do qual precisamos fazer dowload para gerar a literatura que nasce da memória, do que vimos e do que nunca vimos.

Claro que fiquei surpreso com a minha reação no bar da Mariah. Logo eu que abandonei essa vida de confuzeiro e brigão. Logo eu que me havia descoberto um poeta e publiquei dois livros. Porém, pensei no outro eu, aquele que já havia brigado em todo lugar. Saía para a porrada em silêncio, sempre esperando o ataque dos desafiadores, chamando-os com gestos e punhos cerrados, prontos para enfiá-los nos focinhos deles. Juro que me surpreendi comigo mesmo. Hoje, lá na Mariah, talvez eu estivesse usando a mesma técnica ameaçadora e inútil dos meus antigos contentores, gritando ofensas, e utilizando-as em minha defesa porque já estava ficando velho e não aguentaria mais uma briga de bar. Porra, o tempo passa e não dá para ganhar mais no grito. Ora, até a voz fica baixinha. Afinal, não foram as palavras do bêbado que me ofenderam, mas a forma gratuita como foram colocadas. Daí veio uma espécie de ferimento, um fulgor inesperado que me atingiu o brio e a dignidade da minha querida esposa.

Eu queimava os neurônios lembrando do esforço que fiz para acabar com meus preconceitos de um certo tempo para cá. “Caralho!”, eu dizia. Como é difícil se libertar dessas coisas arraigadas. Isso está no íntimo de toda a minha geração, um monte de palavras amarradas nos escaninhos da alma, prontas a serem libertadas quando os fatos da vida nos surpreendem e nos obrigam inconscientemente a vociferar palavras desagradáveis contra o mundo e até mesmo a ofender com humor, pois queira ou não, nunca estaremos preparados para nos policiar sempre, desde a infância. É difícil se reeducar sob um arcabouço de preconceitos ao qual estamos abrigados. Tudo é volatizado até nas brincadeiras e conceitos que trazemos sobre pessoas diferentes de nós.

_ooo_

Naquela noite de sábado minha mulher tinha um compromisso com sua velha turma da faculdade e me esperava sorrindo, igual o cachorro do Roberto Carlos – assim pensei com o meu humor cruel e viscoso, inerente ao meu modo de ser, infelizmente. Ela estava tão contente com os cabelos pintados e penteados… As unhas postiças enormes e coloridas. Parecia uma adolescente se mostrando para o namoradinho.

– Amor, ainda bem que você já chegou. Estou esperando a minha brodona Katiúscia me ligar pra gente ir na festa de aniversário da nossa formatura. Todos vão estar lá. Cuide das crianças, tá?

Ainda pensei em perguntar: “Todos? Inclusive aquele seu primeiro namorado, o tal de Ted Garanhão?”. Só pensei. E resolvi engolir o meu ciúme.
Abri a geladeira, peguei uma heineken long neck e a enfiei na boca de um gole só. Ela desceu as escadas linda e sensual, perfumada e feliz. E eu puto ali me lembrando do porco pirado que tinha me ofendido. Ela ensaiou uns passos de forró universitário e umas gingadas de samba e funk, só pra me deixar mais enciumado ainda. Mas nem pode perceber como eu estava, pois sua excitação para a festa era maior que qualquer preocupação. Me deu um beijo no rosto, “pra não manchar a boca de batom” e falou:

– Me dá a chave do carro, moreco. Não sei que horas volto. Vou pegar a minha amiga.
E saiu rebolando como eu nunca mais tinha visto. E justo ia logo junto com a sua amiga solteira, também conhecida no bairro como “A Fera da Noite”.
Tomei todas as cervejas da geladeira. Terminei de ler um livro do Bukowiski. Liguei a TV para assistir a um filme bom, entretanto os temas que escolhia aleatoriamente eram sempre sobre traição, vingança, essas porras… Eu pensava nela, em mim e até no gordo traído do bar da Mariah. Meio atormentado, eu dizia reclamando sem necessidade: “caralho”, “caralho”. Até que bati uma bronha para ela e adormeci.

De manhã ela me acordou no sofá. Estava desgrenhada e meio porrote ainda. E muito invocada. Ordenou:

– Vai fazer o café, caralho! E faz umas tapiocas do jeito que eu faço pras crianças que eu vou dormir até tarde. Não me chama.
Entrou no quarto e se jogou na cama de roupa e tudo. Roncando e babando. Balbuciava: “égua da festa escrota”, “égua da festa escrota”. “Essa Katiúscia é foda, mesmo”.

Eu, com os Fernandos Bedran e Canto, sempre rindo dos “otaros”, no Bar da Maria

Enquanto eu fazia o café o sol rompia lá fora num clima quente que só o do inferno, onde mora a língua preta do diabo. Passei a mão na careca suada, lembrei de novo do traído do bar da Mariah com uma respiração de alívio, para depois rir aparentemente à toa, enquanto as crianças chegavam à mesa da cozinha esfregando os olhos remelentos e bocejando horrores. Nem liguei para o pára-choque do carro enviesado na garagem, todo batido. Eu ria igual nas redes sociais – onde ninguém sabe se as coisas são verdadeiras mesmo. KKKKKK! E dizia me rasgando de rir: “fowda-se!” “fowda-se!”, e repetia, para o espanto das crianças que sempre me viam muito sério. KKKKK! Elas riam comigo: -KKKKK! KKKKK! Kkkkk! KkKkK!

Gírias e expressões do Amapá* – #Macapa264Anos

Cadernos artesanais com gírias do norte produzidos por Camila Karina (saca lá: https://www.instagram.com/camila_karina/ )

Atire a primeira gramática quem nunca falou uma gíria! Uma expressão tipicamente do Norte.

Se você não tem o hábito de falar “girioguês”, ponto pra você, que mantém a beleza de um bom português falado; mas há de concordar que o nortista tem uma irreverência singular quando se trata da língua portuguesa.

Já você, que não tem mais a noção do que é uma gramática, seu estado verbal é grave, procure o dicionário urgentemente, pois você corre o risco de não ser compreendido.

Muitos blogs já retrataram algumas expressões engraçadas e peculiares da nossa linguagem, mas recolhemos tudo que achamos e resolvemos explicar, da melhor forma, os seus respectivos sentidos. Aprenda, se informe e gargalhe.

No Amapá a gente fala:

Paid’égua! (muito legal!); Eita porra! (impressionado); Mas uh caralho! (muita admiração); Maninho, maninha (pode ser para qualquer pessoa, conhecido ou não); De rocha! (palavra ou assunto com convicção); Não, é cuia! (claro que é); Não, é pão! (claro que é também); Muito escroto (muito ruim); Nããooooooooo (ironizando uma negação); Égua, moleque, tu é doido! (fato realmente surpreendente); Fooolêgo! (muita admiração); Égua da largura! (muita sorte); Égua, moleque! (surpresa, alegria, raiva, este é muito usado); Vai querer queixar? (vais me negar?); Gala seca (idiota); Rapidola (rapidinho); Égua da potoca (que mentira); Ulha, disque! (espanto com desdém); Pega-te (tome esta ou pegue esta, torcida por um ponto feito ou gol marcado); Tu jura, não? (claro que não); Táááá, não! (nunca); Bora lá só tu! (Eu não irei); Tá lá uma hora dessas (eu não); Essa é de grife do varal (roupa roubada); Discunjuro até! (por conta do termo “Te esconjuro”, tipo Deus me livre); Levou o farelo (morreu); Só o filé da gurijuba e só a polpa da bacaba (bacana, legal, ótimo); Já tá do meio-dia pra tarde (quase acabando, velho ou quase morto); Ele é do tempo da calça “tucandeira” (calça com a barra curta). Taááá, “cheiroso!” (o mesmo de Tu Juura!); Virar o zêzeu (botar pra quebrar); Quede mano? (onde está?); Hum, tá não! (nem pensar); Tu acha isso bonito? (reprovação); Tá remando pra beira (tomando cuidado, voltando atrás, sendo cauteloso); Tu é o belo velho (O mesmo que “tá, cheiroso!); Esse é peidado do juízo (Este é louco); Paga uma aí (pague uma bebida); Só te dou-te na cara (vou te bater); É pissica da braba (mandinga); Só pode ser feitiço (quando algo dá errado); Vigia o que tu tás fazendo (preste atenção).

Vigia bem (preste muita atenção); Miudinho (pequeno); Logo quem, não? (já esperava isto dele); Muito enxerido! (intrometido); Bora lá (vamos lá); Umborimbora? (vamos embora?); Ééééééééguaaaa (muito espanto, surpresa); Égua, mas tu é muito cabeça de pica né? (gala-seca, otário); Zé ruela (babaca); Abestado (besta); Mas tu é muito pau no cu (abestado, idiota); Levou ou deu “um Nike” (levou um fora); Dizar (deu um fora, se esquivou); Asilando (dando em cima, paquerando); Na moral (na cara de pau); Paga pau (dá muita moral, invejoso); Migué (Mentira, mentiroso); Égua, não! (não acredito). Não, que não. (afirmando com convicção); Pior né? (afirmação tipo: é verdade!); Porrudo (algo grande); É o vai da estrela (com certeza ele(a) não vai); Charlando (se exibindo); Arreda aê (afasta aí); Teu cu (claro que não).

*(Texto que escrevi em parceria com a jornalista Camila Karina (saquem lá as artes dela: https://www.instagram.com/camila_karina/ ), em 2010 e republicado hoje pelos 264 anos de Macapá) – Elton Tavares

Programa de Recuperação de Imagem (P.R.I) – Por Cleomar Almeida

Tenho dito aqui – desde fevereiro de 2018 – que meu amigo Cleomar Almeida é cômico no Facebook (e na vida). Ele, que é um competente engenheiro, é também a pavulagem, gentebonisse, presepada e boçalidade em pessoa, como poucos que conheço. Um maluco divertido, inteligente, gaiato, espirituoso e de bem com a vida. Dono de célebres frases como “ajeitando, todo mundo se dá bem” e do “ei!” mais conhecido dos botecos da cidade. Quem conhece, sabe. Hoje ele deixa um serviço de utilidade pública, o Programa de Recuperação de Imagem (P.R.I). desenvolvido por ele mesmo. Leiam, aprendam e divirtam-se:

Programa de Recuperação de Imagem (P.R.I)

Por Cleomar Almeida

Depois de alguns eventos recorrentes de mau comportamento por mim cometidos acabei sendo impelido a participar do P.R.I – Programa de Recuperação de Imagem. Este Programa essencialmente é voltado aos maridos que, por vez ou outra acabam, sem querer é claro, cometendo faltas consideradas quase imperdoáveis por suas “Conjes”, faltas essas que de forma nenhuma serão aqui listadas. Na verdade, o motivo dessa postagem é dar conhecimento aos caros colegas do Programa e de suas implicações.

O programa basicamente é um misto de punições e restrições, dentre elas a obrigatoriedade de acompanhamento de novelas, no mínimo as três que passam a noite, de preferência sem muitas perguntas no sentido de entender o enredo. Ainda no item entretenimento, futebol e modalidades esportivas nem pensar, aliás, esqueça o controle remoto durante esse período.

Quanto à alimentação, no P.R.I. você come o que lhe for oferecido, se for oferecido, o que quase nunca ocorre, então prepare-se para cozinhar. Shakes e comida japonesa são praticamente obrigatórios em uma saída pra comer fora. O Shopping será seu habitat nessa fase difícil. Igrejas também serão usadas pra exorcizar este capeta que se apossa de você de vez em quando. Perceba aí um ponto essencial no P.R.I. , se você estiver liso nem pense em participar do Programa, o gasto com comida, passeios, com coisas que inevitavelmente irão quebrar, esbandalhar ou misteriosamente sumir da sua casa lhe darão uma despesa extra.

Comportar-se bem na frente dos parentes da madame também faz parte do pacote, mas pode ter certeza que quando você for elogiado por alguém pela boa educação e prestatividade ela revelará os verdadeiros motivos de sua boa vontade com um belo “Tá assim porque fez merda, ta tentando se limpar comigo!”, nem pense em discordar dela nessa hora ou ela conta até o que não aconteceu, vai por mim.

Os filhos são sua responsabilidade absoluta, nem parece que saíram dela, você fez, você que se vire, reze pra eles já não usarem mais fraudas.

Sexo, esqueça, ninguém participa de um P.R.I e transa, é o alicerce fundamental do Programa e pode acreditar, esposas são excelentes em seguir protocolos. Concentre-se e siga na fé, talvez ao fim de tudo você seja compensado de alguma forma, não conte com isso mas milagres às vezes acontecem.

Enfim, como dito no começo, P.R.I é punição, restrição e um pouco de constrangimento pra te fazer ver o tamanho das burradas que andas fazendo. Sem tempo definido, pode ser rápido, demorado mas nunca indolor. Eu mesmo já passei por umas três experiências e lhes digo, evitem amigos, O P.R.I é terrível!!!!

A “Confraria dos Otaros” – Uma crônica barateira de Elton Tavares e Fernando Canto (ilustrada por Ronaldo Rony)

Noite dessas, durante conversa com o Fernando Canto, ele me falou que alguns poetas do Amapá estão (pasmem!) comprando diplomas de instituições literárias gringas ou títulos com padrinhos tipo William Shakespeare (exemplo genérico, pois são vários figurões da arte literária mundial). Pensei: égua-moleque-tu-é-doido! Como diria esse último monstro da Literatura citado: “Há mais coisas entre o céu e a terra tucuju do que pode imaginar nossa vã filosofia”. É ou não uma verdadeira “Confraria dos Otaros”?

Má rapá. É deslumbramento e uma necessidade de se autovenerar. E pior, pelos nomes citados pelo amigo Canto, que para mim é o maior escritor vivo deste nosso lugar no mundo, alguns dos apadrinhados/diplomados pelos vultos literários são falsos intelectuais. Sim. Daqueles que nem falam e nem escrevem direito, mas…

Não entendemos o motivo dessa pavulagem. Sério mesmo. Não que queiramos atravessar vários minutos de discussão ou encher o saco dessas figuras. É que estou admirado mesmo.

A propósito, ancorados em suas inteligências superiores, será que esses intelectuais “otaros” ficam mostrando uns aos outros seus diplomas ou títulos, meio que competindo por quem tem um padrinho ou documento com mais peso histórico/literário e pensam que isso reflete em suas mentes foscas as fazendo brilhar?

Deve ser a tal “Teoria do Medalhão” do Machado de Assis. E ainda vão dizer que nossas críticas são motivadas por inveja. Afinal, todos temos o direito inalienável de sermos considerados inteligentes do jeito que queremos nos iludir. Né, não?

Somos amigos de alguns verdadeiros gênios. Mas eles são humildes. Sem essa boçalidade típica da “Confraria dos Otaros”. É como disse Nelson Rodrigues: “dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro”. Com certeza. Também compra um diploma de sabido ou apadrinhamento de figurão da história, falecido há séculos (risos).

Mas por que “Confraria dos Otaros”? Trata-se de parte de uma frase usada para o mesmo significado (otário), pois antes de ser atributo de pessoas de má fé, ingênuas, carrega o peso da vaidade. E toda vaidade é ilusória, fútil, jactanciosa e frívola, ainda mais no meio artístico em que muitos dos seus protagonistas se acham talentosos e dizem estar além da capacidade comum dos mortais. Muitos desses pavões se danam a produzir gestas sobre si mesmo, mas são verdadeiros valdevinos literários, estando ou não em grupos ou academias, o que, aliás, é o que não falta no Brasil. Para entrar em algumas delas basta comprar o diploma, como o fazem os falsos médicos e enganadores profissionais.

Um diploma ou uma medalha comprada não caracteriza um autor, pelo contrário, o ridiculariza perante os que não se deixam enganar pela fatuidade apresentada, tão típica dos que querem porque querem ser admirados, mesmo que não mereçam.

Não queremos com esta crônica ofender a honra de alguém ou de alguns. Entretanto, o pélago existente entre os “otaros” e os que levam a literatura a sério é maior que a Sofia do Porto de Santana e mais extenso que uma pororoca que havia no Araguari. Esses glabros de letras deviam era se esmerar para produzir uma literatura que nos faça melhor, que nos torne mais felizes e parar com essa onicofagia nervosa e permanente de autobajulação.

Ainda bem que vem uma geração com a literatura pulsante nas veias por aí. Por exemplo: os poetas Gabriel Guimarães in “Ágil Peste Celeste – Poemas Primeiros” (Portugal – Brasil – Angola – Cabo Verde), Chiado Books, 2021; Lara Utzig, in “Efêmera”, publicado pela editora Lura (2020); Rafael Massim, in “Amores, o Meio do Mundo e Outras Contemplações”, Edição do Autor, Macapá, 2020 e Gabriel Yared com o romance “Semente de Sangue”, Editora Corvus, Feira de Santana/BA, 2021. São escritores jovens, assim como muitos outros que estão revelando seu talento pós-pandemia.

Há alguns que ainda não publicaram livros, mas que estão “bombando” nas redes sociais, como é o caso de Jaci Rocha, Lorena Queiroz e outras tão marcantes quanto essa. Se não caírem nas asas da presunção, podem se tornar verdadeiras pedras angulares que sustentarão nossa literatura no futuro, ainda que lidar com a personalidade de artistas seja meio complicado.

Apesar dessas otarices, temos grandes escritores e poetas, homens e mulheres como Manoel Bispo, Alcinéa Cavalcante, Maria Ester, Paulo de Tarso, Ronaldo Rodrigues, Tiago Quingosta, Lulih Rojanski, Pat Andrade, Marven Junius Franklin, entre tantos outros, que não precisam de títulos ou de medalhas adquiridas pela compra, e que já estão inscritas na história da nossa literatura com muito mérito.

É verdade que cada um tem suas próprias escolhas por isso não condeno quem quer que seja, nem posso julgar a relação desses poetas com as instituições das quais fazem parte, pois não as conheço a não ser das postagens jactantes nas redes sociais. Sobre isso creio que o patrono Shakespeare já se antecipou, referindo em “Hamlet, Príncipe da Dinamarca”: to be, or not to be, that is the question.

E, antes que nos chamem de invejosos, digo estas palavras meio chulas oriundas do tupi (te’bi): toba ou não toba, ora vão tomar. A questão não é nossa. Enfim, essa galera deve achar uma bobagem antiquada aquele papo de “ler para ser”. E, sim, resolvemos escrever esse texto só de sacanagem, para rirmos depois. É isso!

Elton Tavares e Fernando Canto

A gente já riu muito de vocês, otaros!

*Uma dica: boa parte da “Confraria dos Otaros” apoiou a rasteira na poeta Pat Andrade.

Um amanhecer pra cada dia – Pequena crônica de Lorena Queiroz para o ano novo – @LorenaadvLorena

Por Lorena Queiroz

Todos os dias quando o sol nasce algo se renova ou se sepulta em cada vida. A vida dói, não é um jogo pra quem teve medo de merthiolate. Fernando Pessoa fazia seus heterônimos viverem essa vida por ele e, apesar de eu amar o Pessoa, concordo com Suassuna quando diz que essa vida o tinha maltratado, mas assim como ele e apesar dos maus tratos, eu também gosto da danada. O que a gente quer da vida é viver. É sugar da essência dela a música, a poesia, os risos dos momentos.

O que a gente quer é viver um dia interessante e rir em uma noite em que estamos cercados de gente com algo à dar. A gente quer é fazer merda pra usar o Programa de Recuperação de Imagem do Cleomar e, sim, rir de tudo e até da nossa desgraça, sem nunca lamentar.

Desejo que 2021 vá pra puta que pariu e que 2022 venha repleto de esperança pra todos nós, porque ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro.

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além de prima/irmã amada deste editor.

O pobre soberbo – Crônica/reflexão de Elton Tavares

Sabem, não que eu seja um estudioso da natureza humana, nada disso, escrevo sem propriedade alguma, somente baseado nos meus “achismos” e pontos de vista.

Bom, hoje falarei do “pobre soberbo”. Não, não sou elitista, na verdade, nunca liguei para quem tem grana ou sobrenome. Sempre andei com lisos bacanas e agradáveis desconhecidos, assim como eu. Acredito que gente legal atrai gente legal. Mas enfim, voltemos ao pobre soberbo.

Este tipo de cidadão possui uma renda mensal que está sempre abaixo do orçamento que gostaria de ter, até aí, tudo normal. O pobre soberbo costuma ter bom gosto com roupas, culinária e etecétera e tal. Mas é do tipo que gosta de manter a aparência de bacana, usar vestimentas de marcas famosas, mesmo que isso comprometa suas prioridades (como supermercado, prestações ou algo assim).

O importante para este tipo peculiar de pessoa é manter a capa. Elas costumam frequentar locais “chiques”, sempre conversando sobre futilidades e afins. Ah, os assuntos preferidos do pobre soberbo são carros e pessoas que ocupam cargos públicos. Sim, eles são afiados nessa ladainha sobre coisas e pessoas que nomeiam “importantes”.

O pobre soberbo conhece todo figurão ou seus filhos, por estudar anos a fio suas fisionomias, nas inúteis colunas sociais. Aí ele espera só uma oportunidade para “puxasaquear” o tal fulano e aplicar o seu marketing pessoal, pleiteando algum tipo de status.

Ah, quando um pobre soberbo consegue alcançar algum lugar dentro da sociedade, de acordo com sua percepção, fica pior do que os verdadeiros ricos, nojentão total. Conheci várias pessoas assim. Lembro de um figura, nos anos 90, que disse para mãe que iria se matar, se ela não comprasse um carro para ele. Lembro das meninas da faculdade dizendo: “É um Fulano do carro tal” ou “é o Cicrano, filho do Beltrano”.

Outra característica dos pobres soberbos é dizer o preço das coisas que usa: “Saca este sapato, dei R$ 500 nele”. Essas pessoas são de uma superficialidade incrível.

Estes figuras são cheios de falsas certezas. Basta o mínimo de percepção para arrancar suas máscaras. A maioria só faz figuração na vida. Parafraseando Arnaldo Jabor: “eles assumem a verdade das suas mentiras”.

Dos pobres soberbos, que não são pobres só de posses, mas de espírito, eu só sinto pena e desprezo. Deles, só quero distância.

Elton Tavares

Sou assim por causa do meu avô – Por Telma Miranda – @telmamiranda

Telma e sua filha Laís, com Seu Miranda, na Foz do Mazagão (AP), na casa de Dalva, mãe dela e filha do ilustre personagem deste texto. Foto: Arquivo familiar.

Todos que tivemos a feliz experiência de conviver com nossos avós e com absoluta certeza guardamos lembranças. Eu tive a felicidade de conhecer meus quatro avós, paternos e maternos, mas o amor da minha vida é o Seu Miranda.

Seu Miranda nasceu Sebastião Miranda, forte, curto e prático até no nome. Meu avô materno, pai da Dalva, um homem rústico e sábio, que ama abraçar filhos e netos, gargalhar, dançar agarrado dando pulinhos e levantando um dos pés e dizer para as netas que elas são lindas e maravilhosas, além, claro, de ensinar todo tipo de saliência pros netos.

Meu avô, apesar de ser um homem pequeno em estatura, possui uma alma enorme. Cabelos branquinhos e cortados bem curtos, desde sempre, cheiroso, vaidoso, alegre e colorido, sempre me foi a personificação do amor, colo e proteção.

Não quero dizer com isso que é perfeito, pois realmente não é. Como qualquer humano, tem suas fraquezas, e a dele, que nunca fumou, bebeu ou tolerou qualquer tipo de jogo, sempre foi mulher. Mas isso não tira meu encanto, amor ou respeito por ele, pelo contrário! Rende histórias hilárias, gargalhadas e grandes lições.

Um exemplo de quem é o meu avô foi quando eu engravidei adolescente, 17 anos, terminando o ensino médio, o pesadelo da minha mãe, que ligou pra ele, morador do município de Ferreira Gomes à época, para contar pessoalmente uma grande desgraça, segundo ela. Chegando lá meu avô preocupado pergunta que grande desgraça era essa e ela responde:

⁃ A Telma tá grávida!
⁃ Mas isso é uma felicidade, minha filha! Sinal que ela gosta de macho, e gosta de f$&@! Desgraça seria se o Thiago tivesse dando o rabo! – responde meu avô com grande tranquilidade, se referindo ao meu irmão em tempos nada politicamente corretos, me abraçando e desarmando minha mãe, que voltou pra casa com outro espírito depois da visita.

Pois essa figura é o meu avô!

Poderia contar inúmeras histórias dele, citar frases como “puta só, ladrão só!”, “o melhor estado civil é a felicidade”, “todo mundo quer ir pro céu, mas ninguém quer morrer”, etc. Ele é material pra uma série de inúmeras temporadas, mas o objetivo aqui é tentar externar pelo menos um pouco desse amor enorme que sinto por ele e explicar porque ele é a causa de eu ser assim.

Ele nunca fumou, só o tabacão carinhosamente chamado de “porronca” e não suportava bebida alcoólica, como eu. Ele diz que eu e ele já nascemos doidos e que não precisamos de desculpa pra aprontar. É verdade!

Outro traço em comum é a praticidade e leveza com que ele sempre administra as piores crises. Uma herança que faço muito uso. Ele me chama de “água de Maria”, uma alusão ao banho-maria, se referindo ao fato de eu sempre tentar compor, dialogar, negociar, sem embate. E soltando aqui e ali uma piada, uma graça, falando uma bobagem pra quebrar o gelo e pra lembrar que as cargas existem, mas precisamos ser leves.

Meu avô é e será sempre o amor da minha vida. Pega no meu pé, mas me diz que sou linda, maravilhosa, cheirosa e gostosa, sempre elevando minha autoestima e alimentando minha alma. Aprendi com o Seu Miranda que amar é falar, fazer e sentir. E esse homem que pescava e caçava, que pintou o barco antes chamado de São José de preto e rebatizou de Diabo pra ninguém mais pedir emprestado e devolver quebrado, aprendi a ser intensa, direta, verdadeira e conhecer meu tamanho e meu valor.

Gratidão, meu amor, e mesmo com esse ano inteiro sem mais te ter no plano terrestre, não há um dia que eu não me lembre, cite ou sinta você em mim. Gratidão por tudo, AVÔ da minha vida, amor da minha vida.

Telma Miranda

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

40 anos do soco de Anselmo Vingador – Um texto para flamenguistas

Como bom flamenguista, sempre leio, assisto e ouço tudo sobre o Flamengo. Entre os títulos conquistados pela máquina rubro-negra dos anos 80, comandada por Zico, um fato marcou a Libertadores de 1981, conquistada no dia 23 de novembro daquele ano: um soco. Sim, uma porrada desferida por Anselmo, atacante do Flamengo no zagueiro Mario Soto, do clube chileno Cobreloa.

Vamos por partes. Depois de passar invicto até a final, o Mengão, campeão brasileiro de 1980, decidiu com o torneio com o Cobreloa. No primeiro jogo das finais, realizada no Maraca, o time da casa venceu por 2×1, com dois gols de Zico. Na partida de volta, no Chile, o time do Flamengo apanhou muito dos donos da casa (agressões mesmo), liderados pelo zagueiro Mario Soto (o brabão) e acabaram ganhando o jogo por 1×0.

Nessa partida, o Mengo ficou desfalcado dos jogadores Lico, com um corte na orelha e Adílio, ferido no olho. Ambos abatidos pelo defensor chileno. Li em algum lugar que ele agredia os jogadores brasileiros com uma pedra no punho fechado, se é fato, não sei dizer. Relatam jornais da época que o próprio Pinochet (um dos enviados de Satanás à Terra), nas tribunas, virou-se para um adepto e disse chocado: “Não está exagerando, o nosso Mario Soto?” Imagine como o cara estava “virado no cavalo do cão”…

Então rolou a “negra”, uma terceira partida, em campo neutro, realizado há exatos 40 anos, no Estádio Centenário, em Montevidéu, no Uruguai. O Mengão, que tinha infinitamente mais bola, venceu pelo placar de 2×0, com dois gols do Galinho.

Anselmo dando o soco e hoje em dia.

Mas ainda faltava a forra contra Soto, foi aí que, no finalzinho do jogo, o técnico do Mengo, Paulo César Carpeggiani, chamou Anselmo, um jovem atacante de 22 anos, e disse: “ vai lá e dá um soco na cara do Mario Soto”. Anselmo entrou na partida, se aproximou do zagueiro chileno e, na primeira jogada, deu um pau na cara do chileno, que foi a nocaute. O lance causou um porradal, o jogador do Flamengo foi expulso junto com Mario Soto. A decisão logo acabou e o Flamengo virou campeão da América.

Depois foi só festa. No desembarque do time no Galeão, a delegação se deparou com uma imensa faixa escrito: “Anselmo vingador!” Pronto, Anselmo era tão herói quanto Zico. Mesmo suspenso, o “Vingador” viajou com o time para o Japão, onde o Mengão derrotou o Liverpool e sagrou-se Campeão Mundial Interclube, em 1981.

Mario Soto, do Cobreloa do Chile, após levar um soco de Anselmo, do Flamengo, na finalíssima da Taça Libertadores da América de futebol. Montevidéu, Uruguai. Foto publicada na revista Placar, edição 1206, em 1223/11/2001, página 37.

Li várias reportagens sobre este fato, mas as duas melhores declarações foram:

Este episódio exprime uma contradição insolúvel do futebol e da vida. Todos nós temos discursos humanistas e politicamente corretos em favor do espírito esportivo e do sentimento cristão. Mas quem sofre uma agressão covarde não esquece. Futebol é arte, balé, xadrez, mas é um jogo viril e abrutalhado em que façanhas como a de Anselmo refletem o alto grau de testosterona e de agressividade primitiva que nos leva a correr atrás da bola. Nosso lado civilizado homenageia aqueles que descartam a vingança física e se contentam com dar o troco na bola e no placar. Mas dentro de cada fã do futebol existe um brutamontes-mirim que não resiste à poesia de um murro bem dado” – Jornalista Braulio Tavares – Jornal da Paraíba.

Tenho sobre essa porrada uma tese irrefutável – ali, graças a Anselmo, as ditaduras latino-americanas que assombraram o continente durante a Guerra Fria começaram a desabar. O destino do próprio Pinochet foi selado naquele momento. Não é a toa que, em recente pesquisa publicada na Inglaterra, acadêmicos de renome consideraram que as três quedas mais impactantes da história foram a do Império Romano, a do Muro de Berlim e a de Mario Soto na final da Libertadores.” – Luiz Antonio Simas, professor carioca.

Bom, acredito que em certos momentos, extremos claro, um murro vale mais do que mil palavras (risos). Aquele soco lavou o peito de milhões de rubro-negros. Viva o Mengão e o Anselmo Vingador! Há 40 anos, direto do túnel do tempo…E hoje seremos novamente campeões da América. Mengão sempre!!

Elton Tavares – Jornalista e flamenguista em tempo integral (e bom de porrada, rs).

“Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”: 2ª livro de Elton Tavares é lançado nesta segunda-feira (22)

Viradas do cotidiano intenso e surpreendente povoam as páginas do segundo livro do jornalista Elton Tavares, fundador e editor do site De Rocha, portal mais do que enraizado nas buscas de internet dos amapaenses e fonte de cultura desde 2009. O lançamento de “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo” acontece nesta segunda (22), em um dos ambientes mais visitado e revisitado pelo autor, Bar e Restaurante Station 57.

Livro “Crônicas De Rocha – Sobre bênçãos e canalhices diárias”, lançado em 2020, foi o primeiro do autor- Foto: Flávio Cavalcante.

Assim como na primeira coletânea, lançada em 2020, o jornalista volta a envolver o leitor em histórias que acontecem no dia a dia de Macapá e em sua vida pessoal. Com linguagem coloquial que aproxima e convida o leitor a mergulhar na narrativa dessa construção repleta de tanta verdade, que é possível se sentir dentro das “estórias”. Assuntos inusitados, porém vivenciados, como a reclamar por ter que usar uniforme, como também, sonhando com uma máquina do tempo cinematográfica ou sentindo o cheiro da educada, elegante e sábia, vó Peró. Relatos e mistérios surpreendentes que somente a boa literatura poderia revelar.

Como grande é o universo descrito nas páginas do “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, ainda maiores são os integrantes desse projeto liderado por Elton. As ilustrações são do artista plástico Ronaldo Roni, projeto gráfico e diagramação são assinados pelo publicitário Andrew Punk, projeto do produtor cultural e jornalista Daniel Alves e revisões da poeta Jaci Rocha e jornalista Marcelle Nunes.

Autor de diversas obras e lenda da cultura tucuju, o escritor Fernando Canto assina o prefácio do livro, deixando claro que se trata de uma experiência de imersão: “Ele fala de si mesmo como se colocasse palavras nas nossas bocas leitoras, latentes bocas do inferno, bocas devoradoras de letras e de pensamentos Tavarianos”.

As 43 crônicas que compõem o novo livro de Elton Tavares foram publicadas originalmente em seu site, o De Rocha. A obra foi realizada com recursos da Lei Aldir Blanc, executados pela Secretaria de Estado de Cultura (Secult). “Há 12 anos o portal faz parte da vida cultural e política do amapaense, fico muito satisfeito em ver que o virtual é palpável e virou um segundo livro. Agradeço à Secult e ao secretário Evandro Milhomen pelo suporte e confiança, à equipe que me ajudou nesse trabalho e ao amigo Fernando Canto pelo apoio e incentivo”, ressaltou o autor.

Para Elton, a obra tem o intuito de materializar o imaginário e dar vida diária à memória e à identidade que todos os amapaenses carregam. “É isso que o De Rocha realiza há 12 anos: o olhar de muitos observadores, suas vivências, realidades e o modo de dizer meu, do Amapá e tudo que faz parte da construção histórica da nossa cultura, espero que gostem, é isso”, conclui.

Station 57, o local do lançamento.

Lançamento

O lançamento acontecerá no dia 22 de novembro, no restaurante Station 57. Bem frequentado, o aconchegante espaço reúne boa culinária, cervejas incontestavelmente geladas, vívida playlist e atendimento impecável. Localizado no coração de Macapá, a escolha do lugar para o momento é parte da garantia de uma noite agradável de confraternização entre amantes das palavras bem escritas.

Serviço:

Lançamento do Livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo” de Elton Tavares
Dia: 22/11/2021 (segunda-feira)
Local: Station 57
Endereço: Rio Plaza Shopping – Central, Macapá.
Horário: das 19h às 21h
Entrada franca
Apoio: Secult – Secretário Evandro Milhomen

Marcelle Nunes – Jornalista

O Tratado Noturno em uma mesa de bar  – Crônica de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Crônica de Lorena Queiroz

Como todo ser noturno que ama habitar à meia luz da boêmia, andando pelos caminhos incertos das garrafas verdes e marrons, já me deparei analisando várias vezes este mundo que, a princípio, parece a alguns, fútil e vazio de perspectivas. Ora, se você pensa assim deve ser um daqueles sujeitos estranhamente sóbrios que nunca contou um segredo a um garçom considerado, aquele que te apresenta a conta quando o dia nasce e que sabe mais da tua vida que a tua própria mãe. Agora vou mentir um pouco dizendo que não te julgo, pois todos sempre o fazem, dizer que cada ser sabe da própria felicidade e que os caminhos são próprios de cada um, mas na verdade, que vida incompleta penso eu ser a sua. Concordo com o pensamento Bukowski quando diz que ser são é fácil, mas pra ser bêbado tem que ter talento.

O fato é que a mesa de bar é um divã, um confessionário onde embalado pelo álcool e os petiscos que entupirão nossas artérias e nos trarão um péssimo dia seguinte, despejamos uma parte significativa de nós. Uma porção que nunca daríamos em outro lugar. Talvez a boemia tenha que ser promovida a religião, pois eu nunca contei para um padre o que já disse desavergonhadamente em uma mesa de bar. E se Jesus multiplicou o vinho, eis aí o aval de que eu precisava.

Não, caro leitor, não quero que você se torne um alcoólatra que acabará em alguma sarjeta com a cara lambida por algum vira-lata marrom e amistoso. Mas é como nosso velho safado disse, você precisa ter talento para se meter com os seres noturnos e se você não possui tal traquejo, beba sua água com gás e faça caminhadas quando o sol te agredir menos a pele. Eu gosto da filosofia da mesa de bar, esse tratado em que todos se entendem mesmo quando o peso do álcool torna as coisas desconexas, onde um sujeito só julgará o outro se este tiver bebido menos, assim, certamente estará ele no lugar errado. São momentos de liberdade e de amores que duram a eternidade que os minutos te proporcionam, e isso é bom, pois também é bom esquecer ou simplesmente não lembrar de tudo.

Portanto, seja paciente com os bêbados, seja gentil com a noite, mesmo se você for um ser diurno. Somos feitos de filosofia, histórias e saudade. Nossos devaneios nunca incomodarão ninguém, pois eles se esvaem quando fechamos a conta e o dia. Por fim, siga o conselho do poeta francês Charles Baudelaire: “Para não ser escravos martirizados pelo tempo, embriagai-vos, embriagai-vos, sem cessar! Com vinho, poesia ou virtude, a vossa escolha.”

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além de prima/irmã amada deste editor.