QUEM SOMOS NÓS? – Crônica legal de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Crônica de Lorena Queiroz

Hoje entrei no quarto da minha filha de onze anos e ela, enquanto dobrava umas roupas, assistia na TV um clipe do A-ha. Eu sempre soube que ela é uma menina um pouco estranha (e quem não somos?), mas saber de mais esta preferência dela me fez adicionar mais uma característica a reformulação diária em saber quem elas são, por isso trabalho no que serão. Mas será que realmente eu saberei algum dia, acertadamente, quem ela, você ou eu realmente somos?

Um, Nenhum e Cem Mil – Luigi Pirandello

Quem me conhece sabe, minha cabeça anda meio surtada nestes tempos pandêmicos, o que me faz ir nos lugares mais sombrios e divertidos, por isso cheguei no escritor italiano e ganhador do prêmio Nobel de literatura, Luigi Pirandello, mais exatamente na obra Um, nenhum e cem mil. O personagem Moscarda, enquanto olhava sua imagem no espelho, é informado por sua mulher que seu nariz era torto e ele nunca teria percebido.

A partir daquele momento ele percebe que as pessoas tinham uma imagem dele que era dissociada da imagem que lhe refletia o espelho. Experimente pedir para alguém fazer um avatar seu, pontuando suas qualidades e defeitos nele, e por fim, seja sincero em sua avaliação quanto a assertividade dele. O fato é que nós somos alguém para nossa mãe, alguém para um amigo no trabalho, outra pessoa para determinado amigo e, a despeito de qualquer coisa, um filho da puta pra alguém. Sim, ninguém nunca escapa disso. Mas será que cada uma destas pessoas que você é representado, em cada um, corresponde a quem você realmente é?

Vivemos em uma sociedade que é regida por costumes sociais que mudam, se alteram e se reformulam o tempo inteiro. Acredito que seja por este necessário eterno ciclo de mudanças que fica mais difícil ser livre para ser quem somos, ou melhor, para mostrar quem nos tornamos. Que vai desde um modismo á um conservador que tem dificuldades de viver com as mudanças, bem como aqueles que tem vergonha de dizer que mudaram de ideia. Aquilo que chamamos de julgamento. E é este o ponto, nos tornamos mais um todos os dias. Pirandello, através de Moscarda, diz na mesma obra que, os acontecimentos do passado são as piores e mais injustas das prisões. Pois ficamos eternamente presos á eles. Você pode não ser mais àquela pessoa que cometeu determinado ato no passado, mas para alguém, você sempre será conhecido por algo que não mais te pertence, seja pra bem ou para mal. A personalidade que temos é algo muito mais pessoal e que temos a necessidade de ponderar ou até mesmo polir, pelos costumes que já mencionei anteriormente. Menino não chora, veste azul. Essas coisas. Ou você não fumar na frente da sua mãe. Não minta, sabemos que é bem mais que respeito. Até porque esse respeito também é proveniente do que nos foi ensinado onde vivemos.

Ter a consciência de saber quem somos para nós e para o mundo, será sempre difícil pela própria volatilidade das coisas. Zygmunt Bauman, disse que você tem que passar a vida redefinindo a sua identidade, porque o estilo de vida que é considerado bom por um, não é nada para o outro. E que as coisas atraentes mudam tantas vezes nas nossas vidas. Quem será você na semana que vem?

Mas mesmo assim, nos temos uma identidade que apresenta pistas algumas vezes, nós temos a tendência de nos aproximarmos de pessoas que, a princípio, se assemelham á nós. Pessoas que se juntam por que reconhecem umas nas outras um pouco do que são, ou do que querem ser. Sabe aquela máxima: “um tatu cheira o outro”. Pois é, a gente tem necessidade de ajuntamento com quem nos identificamos, mas mesmo assim, quantas pessoas diferentes tem aí na tua roda de amigos? E quantos tem a mesma imagem um do outro? E isso nunca deveria ser problema para ninguém porque sabemos que somos diferentes. E a gente sempre vai ter um guardado para uma novidade que vai surgir.

No filme Eu, eu mesmo e Irene, Hank Evans, a segunda personalidade e total oposto de Charlie, toma seu corpo e reage violentamente aos abusos que as pessoas cometiam costumeiramente contra Charlie. Na minha opinião nada técnica e só para fins de achismo mesmo e interpretação lúdica, todos nós carregamos um Hank dentro de nós, não falo de um louco, mas de outros que vão surgindo conforme o rumo que as coisas tomam para cada um.

Ainda dentro deste contexto lembrei de um episódio de uma animação, Hora de aventura. O personagem Rei gelado, quando ainda era Simon, estava em um apocalipse zumbi. Portava uma coroa que o transformava em Rei gelado e lhe dava poderes. Ele protegia Marceline ainda criança. Mas a cada vez que ele colocava a coroa, a personalidade de Rei gelado tomava um pouco mais o corpo de Simon, até Simon sumir. Ele fez isso pelo amor a Marceline, o que foi lindo, mas ele se perdeu dele mesmo. Acabou por se tornar um vilão. E o triste é que ele não se lembra quem ele foi.

É didático revisitar quem fomos, nos ajuda a rever ações, opiniões e até saldar algumas dividas consigo mesmo. Assim como é importante ter a consciência que cada um é muito mais do que se vê. Mas o mais importante, para mim, é ser fiel a quem vamos nos tornando a cada dia e sempre estar de braços abertos para o próximo que virá depois de uma música que se descobre, ou de um livro que nos apresentou mais uma parte de nós. Somos metamorfoses ambulantes, agora toca Raul.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site.

Escritos avulsos – Textos esparsos de Ronaldo Rodrigues (ilustrados por Ronaldo Rony)

Textos esparsos de Ronaldo Rodrigues. Com você, alguns insights, flagrantes, anotações de pensamento, cliques, flashs, tecos, pílulas, gotas ou o nome que queiram dar. Ilustrações do cartunista Ronaldo Rony.

O canivete brilha na mão direita da mulher. Na mão esquerda, pulsa o alvo do canivete: seu próprio coração.

Sobre a toalha do piquenique, a mulher decide sobre qual dos dois poetas levar pra casa.

A bicicleta passa em velocidade vertiginosa, deixando o pelotão atordoado. A mulher que conduz a bicicleta tem asas em seu capacete.

Peixes pulam de dentro do sax.

No quarto escuro, a mão e a cruz esperam o amanhecer.

Na sala de espera do aeroporto, o homem lê a manchete sobre a queda do avião.

Fumando desesperadamente, a sereia espera o boto, que deve estar por aí, bebendo com alguma piranha.

Um belo corpo de mulher flutua na floresta em chamas.

Fred Astaire e Ginger Rogers bailando sobre a lâmina.

O brilho do batom decompõe a luz de neon.

A marca das rodas da diligência escrevem uma mensagem que logo o vento irá apagar.

O tempo parou naquela casa, onde florescem ampulhetas no jardim.

A família antiga, no porta-retratos, ri do tempo que tentamos ganhar.

O astronauta chegando ao planeta distante pensa na onda que está perdendo e na cara de felicidade dos outros surfistas.

As freiras jogam futebol às quatro da tarde. Às seis, podemos vê-las nos bares discutindo aos berros as jogadas, em meio a palavrões que até Deus, na mesa ao lado, duvida.

 

Frases, contos e histórias do Cleomar (primeira Edição de 2021)

Tenho dito aqui – desde fevereiro de 2018 – que meu amigo Cleomar Almeida é cômico no Facebook (e na vida). Ele, que é um competente engenheiro, é também a pavulagem, gentebonisse, presepada e boçalidade em pessoa, como poucos que conheço. Um maluco divertido, inteligente, gaiato, espirituoso e de bem com a vida. Dono de célebres frases como “ajeitando, todo mundo se dá bem” e do “ei!” mais conhecido dos botecos da cidade, além de inventor do “PRI” (Plano de Recuperação da Imagem), quando você tá queimado. Quem conhece, sabe.

Assim como as anteriores, segue a primeira Edição de 2021, cheia de disparos virtuais do nosso pávulo e hilário amigo sobre situações vividas em tempos pelo ilustre amigo. Boa leitura (e risos):

Hulk Pão

“Capinar um quintal pra arranjar dinheiro pra casar tu não quer né HP, rezar pra tu não emprenhar essa pequena, capaz de tu querer que a gente crie também”.

Futebol

“Hoje eu torci pra o Vasco e definitivamente, isso não é vida”.

Carnaval

“Uma hora dessas eu já tava muito a toa na vida”.
“Eu já tava muito gambá uma hora dessas no ano passado”.
“Ano que vem, só pra descontar, vou dar duas voltas no percurso da Banda”.
“Uma hora dessas no ano passado, eu já tinha prometido parar de beber dez vezes”.

Defeitos

Um brinde aos nossos defeitos, já que as qualidades, nós tem pouquinho mesmo.

Bolsonaro & Bolsonetes

“Não vejo problema em bolsominion querer se vacinar, só acho que deveriam ser os fonas”.
“Biroliro acha que comprou o Centrão, problema é que o Centrão vai “afubitar” ele. Espera pra ver”.
“Enche tanto o saco defendendo Bolsonaro que esqueci te perguntar, já arrumastes um emprego?”
“Complicado esse negócio de acreditar em Deus e no Bolsonaro numa mesma vida, queria saber como conseguem”.
“Impressionante, todo Bolsominion tem um parente ou conhecido que quase morreu após tomar a vacina”.
“Época terrível pra se ter um presidente filho de puta”.
“A felicidade de destruir um Bolsominion no argumento não tem preço”.
“Aquele papo de “se fizer merda a gente tira” ainda tá de pé, ou tá pouca merda?”

BBB 2021

“Uma vez fiquei com uma “pequena” numa festa de São João lá no Pacoval, no outro dia não quiz mais ficar com e ela e ela mandou os malandros da rua dela me darem uma surra. Acho que eu era o Arcrebiano”.
“Sou parece a Sarah, fraco velho pra quebrar uma promessa”.
“Koncá podia passar lá no São Paulo Saldos e comprar uma beca pq tá difícil, se veste parece eu na Banda. Demais jegue”.
“Se a Carla Diaz que é morta de gata tá nesse nível de carência, faço uma ideia tu, com essa feiúra toda!!”.
“Esse papo de tirar o cara pq é homofóbico, machista e racista só serve pra o Rodolfo? Bolsonaro tá cagado por acaso!?”
“E eu, que meu apelido era Urso do Cabelo Duro”.
“Quando tu pensas que és otário, me vem o Gil”.
“Fiuk poderia ter sido garoto propaganda do cigarro Hollywood na década de 80. “Hollywood, O Sucesso”.
“Se ta ruim pra o Fiuk, que é filho do Fábio Jr, imagina pra nós !!!”

Profético

“Quando mais novo tu olhas pra uns caras e pensa, esse aí quando crescer vai ser babaca. 30 anos depois tu encontra os caras e eles não te decepcionam, são muito babacas mesmo”.

Amapalidade

“Energia voltando: a
Macapaense: liga a bomba misééééria!!”

Páscoa passada

“Quero só ver minha cara de surpresa amanhã, quando eu ganhar o ovo de Páscoa que eu comprei pra mim mesmo”.

“Sábado de Aleluia: Uma hora dessas eu já tinha rodado na porrada”.

Nostalgia

“Fui ao supermercado mais cedo, me bateu uma saudade do tempo que eu era filho”.

Depois da pandemia

“Quando isso tudo passar, vai ter tanto churrasco e cerveja aqui em casa que vcs vão dizer: Galera, na casa do Cleomar hoje não, já enjoei de lá!”

Família

“Aqui em casa temos uma tradição, a gente compra um jogo de copos, na outra semana quebra os que já tínhamos”.

Realeza

“Toda família tem um membro metido a príncipe Harry, que arruma uma mulher e sai da casa onde vivia escorado, falando mal até da avó”.

Segundo de abril (lá vem o Gino de novo) – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

O editor deste site bota uma pressão de vez em quando. Desta vez foi assim: E aí? Alguma coisa para hoje (ontem), primeiro de abril?

Retornei dizendo que de mentira, até aquele momento, só o meu salário. Rsrsrsrsrsr.

Mas hoje, segundo de abril, eu tenho algo a mostrar. Seria (seria, não. É!) aniversário do Ginoflex. A gente sempre festejava (aliás, continua festejando. Mais tarde, vou tomar umas por ele).

Depois que passou dos 50, o Gino não sabia exatamente qual a idade que inaugurava a cada 2 de abril. E eu dizia que ele não tinha nascido no dia primeiro de abril porque ninguém acreditaria. O Gino, qual o Tim Maia, era um personagem que extrapolava a vida real, transgredia qualquer padrão de normalidade. Nem os mais criativos ficcionistas conseguiriam imaginar suas verídicas aventuras.

Então, este texto vai em homenagem ao Ginoflex, que estaria completando 63 anos. Ou 60. Ou 58. Impossível saber. Ele mesmo não sabia, já que documentos de identidade já tinham se desgarrado dele há milênios. Eu brincava dizendo que ele era tão velho que, para saber com exatidão os números de sua existência, teríamos que submetê-lo ao teste do carbono 14, aquele elemento químico que detecta a idade dos fósseis. Não à toa ele era também chamado de Ginossauro.

Imagino o Gino (des)organizando sua festa de aniversário lá onde esteja neste momento. Som chiadinho de discos de vinil, muita cerveja e aquele cigarrinho que o deixava irritado. Quando faltava.

Parabéns, Gino! Continuaremos por aqui, festejando, fazendo um brinde a cada respiração, enquanto não somos convidados a nos retirar desta festa nem sempre divertida chamada vida.

É proibido peidar dentro do Empório do Índio, diz aviso no balcão – Crônica de Elton Tavares (ilustrada por Ronaldo Rony)

Peido é ruim. Incomoda tanto o flatulento quanto sua vítima. Mas no Empório do Índio, pasmem, é proibido peidar na parte interna do estabelecimento. O Jorge Ney, conhecido popularmente como “Índio”, proprietário do bar, é conhecido por comentários diretos e francos. E foi taxativo no aviso em seu estabelecimento: “Proibido Peidar”.

Portanto, se você resolver tomar umas no balcão do Empório, é melhor conter a flatulência. Quem quiser se aliviar tem que sair e peidar. Nem mesmo os sócios remidos do Bar como Cleomar, Cuca, Kleber, Gilvana e outros amigos, têm permissão para bufar no recinto.

Afinal, tá lá, escrito.

Dou razão ao Índio, afinal, a temperatura de um peido quando é criado é de 37º. Se o metano é fruto de uma carne com chicória então, sai de perto que, se pegar no olho, cega. A proibição é justa, pois tem gasoso que parece descer abraçado na merda, de tão potente. Se silencioso então, é um ataque surpresa muito covarde.

Sobre o Empório do Índio

O Empório do Índio é um espaço democrático que abriga todas as tribos e pensamentos. A Cerveja é sempre gelada, tem tira-gosto de charque e outros petiscos. Localizado no bairro Santa Rita, próximo ao Fórum de Macapá, o bar possui um ótimo atendimento e preço justo.

Mas peidar lá dentro? Não, pode não.

Elton Tavares

Resenha do livro 1984, de George Orwell – (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

1984 foi a última obra de George Orwell e teve sua primeira edição publicada no ano de 1949. Ultimamente este livro está voltando a ser lido por tratar de questões atemporais, bem como pela polarização, pois tanto a direita quanto a esquerda, usam a obra para identificar fragmentos no oponente que indiquem traços denunciados pela obra. Acredito que para entender melhor a obra, temos que entender o mundo de George Orwell e a atmosfera de sua época. O autor vivia o período do entre guerras e a segunda guerra mundial, em um mundo que era recentemente monárquico e democracia um conceito novo. Se apresentava como um social democrata onde este conceito também se apresenta diferente do que conhecemos hoje. Em sua época mostrava um conceito de liberdade que é contrária a qualquer regime totalitário, observe o Nazismo e o Stalinismo e se veja imprensado por ambos, daí tire suas conclusões.

O livro apresenta uma estrutura de mundo soviético e nazista, que vai do bigode de Stalin ao modo de ilustrar um inimigo da forma que Hitler pintou os judeus.

A personagem central do livro é Winston, um homem que vive na Oceania neste mundo distópico que é dividido em três blocos: Oceania, Eurasia e Lestásia. Oceania, que antes fora Londres, é comandada pelo partido do “grande irmão ” que, através de suas teletelas observa e controla o comportamento e, até os pensamentos e sonhos da população. Wiston trabalha no Ministério da verdade, onde sua labuta consiste em mudar a história, reescrevendo notícias, informações que eram alteradas conforme à vontade do partido, pois o grande irmão nunca erra. Se mês passado a Oceania estava em guerra com a Eurasia e no mês seguinte a oponente se tornasse aliada, a guerra anterior era apagada e nunca teria existido. Este era o trabalho de Wiston, lidar com a mentira como verdade incontestável. Para que houvesse eficácia entra o “duplipensamento”, onde o sujeito tem que fazer um exercício mental de acreditar no partido independente de seu julgamento e conhecimento pessoal. Mas essa não seria uma tarefa fácil, mas para tanto, o partido cria, entre outros mecanismos, o dicionário da “novafala “, onde a linguagem é limitada, como por exemplo a palavra : bom. Neste dicionário não existiam graduações, ou era bom ou “desbom”. Mais ou menos, médio, razoável, estas palavras que geram variações tinham que ser extintas para que os pensamentos se mantivessem binários. Se você precisa de parâmetros para raciocinar, então acaba -se com os parâmetros.

Existiam ainda outros ministérios; Ministério do Amor, Ministério da Pujança, Ministério da paz. Todos os ministérios executava tarefas antagônicas ao proposto em seus nomes, pois a verdade neste mundo é maleável e se adéqua à realidade que o partido apresenta. As pessoas são educadas desde sempre dentro desta crença, havendo inclusive, crianças denunciando orgulhosamente seus pais ao partido.

Dentro deste mundo opressor, onde os únicos sentimentos aceitos são o ódio ao inimigo e o amor ao partido, Wiston se encontra sedento por sentimentos e sensações humanas e sua estória se desenrola dentro desta necessidade humana em existir por completo.

Já li Admirável mundo novo do Aldous Huxley, Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, Senhor das moscas de Willian Golding que, ao meu ver, apesar de perturbadoras, não são tão pesadas, densas e, sinceramente, desesperançosas como 1984. A conclusão que tive, é que a humanidade vai sempre subjugar os seus em nome do poder, este que para as mentes totalitárias, tem muito mais valor que o dinheiro, ouro ou vida. O totalitarismo está em qualquer lado do espectro e só a eterna vigilância nos garantirá a liberdade.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de Literatura e devoradora compulsiva de livros.

O trajeto da A Banda através do tempo e antigos pontos de referência (minha crônica saudosista)

Foto: Maksuel MArtins

Durante mais de 20 anos, sai na Banda pelas ruas de Macapá. Eu e meus amigos esperamos a terça-feira gorda o ano todo, pois a marcha louca e feliz sempre foi um dos dias mais felizes. Como disse minha amiga Rejane: “o coração batuca na esperança de ver a Banda voltar a passar”. Republico essa crônica por motivos de saudades: 

A Banda, maior bloco de sujos do Norte do Brasil, tem o mesmo trajeto nestes 56 anos de existência (caso a passeata alegre fosse às ruas hoje, mas sabemos que não irá por conta da pandemia), mas o que ficou pelo caminho do tempo nestas mesmas ruas de Macapá? Fiz uma espécie de resgate (um tanto desordenado) de vários locais que povoam a memória afetiva do macapaense. Deixa suas lembranças agirem e vamos lá:

O ponto de partida do bloco, o mais popular dos festejos de Momo no Amapá, é na esquina da lanchonete Gato Azul e a loja Clark. Os foliões seguirão pela frente da loja A Pernambucana, dobrarão na esquina do Banco Bamerindus (pois “o tempo passa, o tempo voa…); Farmácia São Benedito; Moderninha e da Banca do Dorimar. As pessoas se trombam ao redor dos trios e carros de som. Todos molhados de suor, ou chuva.

A folia desce a Rua Cândido Mendes e o trajeto passa em frente também da Irmãos Zagury – Concessionária da Ford; Farmácia Modelo; do Banap; lojas São Paulo Saldo; Esplanada; Cruzeiro; Hotel Mercúrio; Casa Estrela; Casa Marcelo; Setalar; Tecidos do povo; Tecidos do Sul; A Acreditar; Casa Estrela; Beirute na America, ponte do Canal; Banco Econômico e Farmácia Serrano. Pelo caminho, muitos se juntarão a multidão.

Os foliões passarão em frente a Fortaleza de São José de Macapá, dobrarão na esquina da Yamada, subindo pela lateral da Feira do Caranguejo, em frente a boate Freedom e subirão a ladeira até o supermercado Romana, na esquina, a curva do Santa Maria. Sempre com os ritmos levantam nosso astral.

A marcha alegre seguirá pela Feliciano Coelho, onde a maioria já estará possuído pela cerveja, passará pelo Urca Bar; Leão das Peças; Cine Veneza e Farmatrem. A Banda chegará à Esquina do Barrigudo, na Leopoldo Machado. Continuará a passar em frente a Acredilar, lanchonete Chaparral, Casa Nabil, Hotel Glória e Baby Doll. Na brincadeira terá folião de toda idade, a maioria na maior curtição, sempre driblando os poucos que querem confusão.

A Banda é sempre cheia de colombinas faceiras, pierrôs malucos, palhaços embriagados, piratas sorridentes, enfermeiras enxeridas, bailarinas cambaleantes, diabos bonzinhos, anjos não tão angelicais, etc. O importante é alegria de quem vive a emoção de estar lá ou somente ver a banda passar.

A Banda dobrará na Avenida Fab, no canto do CCA (o couro continuará comendo); passa pela Prefeitura de Macapá; Palácio do Governo; Esporte Club Macapá; Praça da Bandeira; lanchonete Táxi Lanches; Bar do Abreu e novamente a Cândido Mendes até a Praça do Barão, onde as bandas Placa Luminosa e Brind’s farão um som até mais tarde.

Nunca saberemos quantos fantasmas carnavalescos seguem conosco na Banda, mas se assim for, que sigam pela luz e brilho do encanto deste sublime momento (entre o ontem e o hoje).

*Hoje seria dia de cair na folia na marcha alegre ou ver a Banda passar. Mesmo a gente com saudades da passeata louca e feliz, o importante é prevenir, combater a Covid-19 e ter esperança para que, em 2022, nos encontramos na Banda. É isso!

Elton Tavares

Idosa de 85 anos foi fantasiada de jacaré para ser vacinada contra a Covid-19 em Macapá: ‘muito feliz’

Maria de Souza, de 85 anos, foi fantasiada de jacaré para ser vacinada contra a Covid em Macapá — Foto: Rede Amazônica/Reprodução

A idosa Maria de Souza, de 85 anos, foi fantasiada ao drive-thru do Centro de Macapá para se vacinar contra a Covid-19 na manhã deste sábado (13). Ela foi uma das primeiras pessoas dessa faixa etária (85 anos ou mais) a serem imunizadas contra a doença da pandemia na capital.

A fantasia, de jacaré, era para encarar com bom humor esse momento. A atitude fez referência a um comentário do presidente da República, Jair Bolsonaro, em dezembro de 2020, sobre a vacina da Pfizer. O contrato avisava que a fabricante não se responsabiliza por qualquer efeito colateral: “Se você virar um chi… virar um jacaré, é problema de você, pô”, declarou o presidente na época.

Com bom humor, Maria não via a hora de ser imunizada.

“Eu estava muito feliz que ia me vacinar, pra me livrar dessa doença. Tive alguns familiares que tiveram a Covid, mas não foram pra hospital. Mas graças a Deus tá tudo bem”, comentou.

Em janeiro, um técnico em enfermagem também entrou no clima e foi fantasiado de jacaré para ser imunizado.

Familiares de Maria de Souza também foram fantasiadas para a imunização — Foto: Rede Amazônica/Reprodução

No carro onde Maria foi levada para o drive-thru, os familiares também estavam fantasiados. A nora da idosa, a pedagoga Cláudia Cunha, falou sobre o momento.

“Ressurge a esperança, né? A gente fica até emocionado de trazer nossos idosos para serem vacinados até porque isso sempre foi uma busca de toda a família. A vacina vem trazer essa segurança, dar essa tranquilidade. […] Foi um momento muito esperado, espero que alcance todos os idosos realmente e a gente que é um pouco mais jovem aguarda a nossa vez”, falou.

A campanha busca vacinar 2,1 mil idosos em Macapá, mas há pouco mais de 3 mil doses disponíveis. Para isso, neste sábado, a campanha oferta doses em 19 locais; a partir de segunda-feira (15), as vacinas podem ser procuradas em 17 Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Antes, é necessário fazer um cadastro.

Fonte: G1 Amapá

Gino Flex, o Rei dos Malucos de Macapá – Uma crônica sobre saudades e maluquês

Ilustração de Ronaldo Rony

Em novembro de 2013, dia 12 precisamente, morreu o artista, músico, inventor do Clube do Vinil, Dj oficial de encontros memoráveis e Rei dos Malucos de Macapá, Gino Flex . Não sei quantos anos ele tinha, mas acho que eram quase 60 verões.

Conheci o Gino em 1997, ainda com meus 20 e poucos e curta estrada na boemia da capital amapaense. O cara era querido por todos. E não é porque morreu não. O cara era do naipe do fictício Quincas Berro D’Água e do real Charles Bukowski.

O estilo de vida era “de boa”, verdadeiro ode à boemia e hedonismo. Sim, o velho Gino era “brother”. Gino Flex estava internado há dias com complicações no fígado. Chegou a ser operado, mas não resistiu. Certamente, sua passagem para a outra vida foi como nessa, leve.

A vida manda os seus sinais, basta ter o coração aberto e ser amalucado o suficiente pra entender” – Cabo Martim, personagem do livro “A morte e a morte de Quincas Berro D’água”, de Jorge Amado.

Vira e mexe, lembro do Gino Flex, o Rei dos Malucos de Macapá. Ali foi figuraça!

Até a próxima vez, Gino!

Elton Tavares

Técnico em enfermagem toma vacina contra covid-19 fantasiado de jacaré

Brenno Homobono, 25, encontrou uma forma bem-humorada para incentivar as pessoas a se imunizarem contra a covid-19 – Foto: Arquivo Pessoal

Por Gabriel Dias

O técnico de enfermagem Brenno Homobono, 25, encontrou uma forma bem-humorada para incentivar as pessoas a se imunizarem contra a covid-19. O profissional que atua desde o início da pandemia na linha de frente de um hospital particular do Amapá, foi tomar o vacina fantasiado de jacaré.

Dentro do grupo prioritário para receber a primeira dose da vacina CoronaVac, o técnico em enfermagem achou que deveria fazer alguma coisa para tornar o momento marcante, então teve a ideia de adaptar um chapéu e transformar em uma fantasia de jacaré. De acordo com ele, a intenção foi incentivar as pessoas a tomarem o imunizante sem medo de possíveis efeitos colaterais.

Fonte: Uol.

Viver e respirar – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Foi o que pensou Neurinha, adentrando os 19 anos e achando que, naquela idade, seria bom começar a pensar nessas coisas. Seria bom pensar em alguma coisa. Qualquer coisa.

Mas o pensamento mais louco mesmo ela teve depois:

– Será que consigo morrer SEM parar de respirar?

Seu cachorro respondeu que não, ao que o ursinho de pelúcia disse que sim:

– Viver e respirar são coisas completamente díspares, conflitantes. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Tenho dito!

O cachorro de Neurinha ponderou que aquela maneira de falar do ursinho de pelúcia deixaria Neurinha ainda mais sem entender nada.

Neurinha, por sua vez, continuou sem nada entender. Paciência. Era sua natureza. Não entender qualquer coisa era a única coisa ao alcance de qualquer coisa que Neurinha pudesse entender. Entendeu? Nem eu!

Neurinha procurou os sábios conselhos de seu antílope de estimação, Clodoaldo, que entendia muito bem dessas questões, quando não estava ocupado em beber, fumar e levar mulheres para o apartamento.

Clodoaldo passou a contar a história de um tatu que fez greve de respiração em protesto contra a proliferação de armas nucleares e morreu em poucos minutos, ainda a tempo de ordenar a seus seguidores que invadissem a Casa Branca e incendiassem a provisão de amendoim.

Claro que Neurinha não entendeu e parou de se questionar. Resolveu passar à ação e cometer o ato de parar de respirar.

Segundo o método dos ninjas, Neurinha girou o nariz como se fosse uma torneira e parou de respirar.

Você, caríssimo leitor, já sacou que Neurinha era bem tontinha. Pois é. Até hoje ela não sabe se morreu.

Poema de agora: Ronaldo Rony, um E.T. – Obdias Araújo

Ronaldo Rony (que também é Ronaldo Rodrigues) e Obdias Araújo.

Ronaldo Rony, um E.T.

Eu mesmo
nunca vi
Tem gente
que acredita
E diz que todo dia vê

Dizem que ele tem
O andar atrapalhado
Que o olho é enorme
Esbugalhado
A cabeça para um lado pende
E atende pelo nome de ET

Obdias Obdias Araújo, para Ronaldo Rony.

Era uma vez um bando de jornalistas – Distopia tragicômica de Fernando Canto

Temos um grupo de WhatsApp, popular aplicativo de conversas pela internet, chamado “Fuleiragem com Cerveja”. Lá a gente brinca, fala coisas sérias e bobagens. A maioria dos componentes são jornalistas. Ontem (30), após uma enxurrada de “figurinhas”, o escritor Fernando Canto postou:

“Ninguém escreve neste grupo de jornalista”. Aí passamos uns cinco minutos tirando sarro do amigo. Eu mesmo coloquei: “já escrevo o dia todo, rapá”. E uma amiga: “não escrevo, estou aqui pela cerveja”. Logo em seguida, o genial e hilário escritor publicou esse continho, cheio de ironia fina e tragicomédia distópica:

Era uma vez um bando de jornalistas – Distopia tragicômica de Fernando Canto

Era uma vez um bando de jornalistas cansados e coronovirados que perderam os dedos e o paladar.

Toda noite quando chegavam do trabalho iam beber umas brejas sem saber se era mesmo cerveja o que bebiam. O dono do pub ria e ria . Kkkkk. Os “otaros” tomavam mijo gelado e nem percebiam.

Um dia, um gordo assessor de comunicação, experiente que só, percebeu a filhadaputisse do master da beer house e quebrou o estabelecimento como um ninja panda todo de preto.

A polícia foi chamada. Eles explicaram que suas línguas só serviam pra falar e não tinham mais dedos para fazer sexo.

Os policiais se compadeceram deles e os executaram chorando, naquela noite fatídica que comoveu todo mundo na avenida Francisco Xavier de Mendonça Furtado.

Uma assessora jurídica do Tribunal de Justiça olhou os gorpos gordões em decúbito dorsal na paisagem da avenida, naquela noite em que a temperatura baixava e disse:

– É melhor tacar fogo nesses energúmenos anti-heróis antes que caia uma tempestade de neve tropical.

Todo mundo foi embora e o dia amanheceu branco como a espuma da cerveja de urina.

O legista viu os cadáveres e vomitou nauseabundo, pois jamais tinha visto tamanha crueldade com jornalistas que nunca mais haviam escrito nem porra.

*É por essas e outras que amo ser amigo dessas figuras (risos).