Hélio Pennafort, um narrador excepcional

Por Fernando Canto

Muitas vezes publiquei sobre a obra do Hélio por considerá-lo um narrador excepcional das coisas da nossa gente. “Triste como um tamaquaré no choco”, “foi cocô de visagem” eram expressões do homem interiorano que ele usava no dia-a-dia. Para qualquer objeto ou situação complicada chamava “catrapiçal”. Vivia contando anedotas de caboclo se divertindo a valer com elas. Era extremamente sincero com seus amigos e não guardava o que tinha de dizer. Apesar de ter exercido inúmeros cargos importantes no Governo, tinha lá suas fraquezas e de vez em quando fugia do expediente para ir ao Abreu ingerir uma gelada, mas era também grave e sério nas suas responsabilidades.

Ainda adolescente andei em sua companhia, juntamente com o Odilardo Lima, repórter e poeta que virou delegado de polícia, e o Manoel João, um telegrafista e caçador de primeira linha, bom contador de histórias. Minha função no grupo era tocador de violão e guardião da memória deles, afinal iriam precisar de detalhes que fatalmente esqueceriam, quando da redação das reportagens que faziam para a rádio Educadora e o jornal A Voz Católica.

Hélio proporcionava muitas histórias engraçadas, como certa vez em Mazagão, no início dos anos 70. Fomos de barco até a sede do município, e de carro até Mazagão Velho registrar a festa da Piedade. Ele ia dirigindo (Pasmem!) um jipe, e nós vínhamos tensos, no maior medo, porque até então ninguém jamais o vira dirigir, a não ser uma bicicleta. Com alguns atropelos e barbeiragens chegamos ao destino. Anoitecia e ele foi à casa do seu Osmundo, que liderava o conjunto “Mucajá”. Era um grupo rústico, de pau e corda e clarinete que tocava samba, baião, polca e outros ritmos, E que em seguida começou a tocar para nós. Lá pelas tantas, devido sua generosidade etílica, acabou o suprimento de uísque e cachaça. Em toda a vila também não tinha nada de álcool. Ele chamou uma rapaziada e disse: – Vão ver se encontram cachaça que eu dou uma grana pra vocês. Eles voltaram com uma “meiota” de “canta-galo”. O Hélio deu uma golada e cuspiu: – Querendo me enganar, é seus porras? Cachaça com água eu não bebo, inda mais se é de mulher que acabou de parir. Fiquei sabendo depois que as mulheres do lugar usavam aguardente na assepsia do pós-parto e que os moleques haviam roubado a garrafa de uma senhora que parira uns dias antes. Esse episódio só fez solidificar a minha admiração pela figura simples e humana do jornalista.

Fecundo no seu trabalho, Hélio sempre procurou dar a ele novas formas em linguagens diferentes. Em 1984/85 associou-se ao talento do piloto e vídeo-maker Roberval Lavor e produziu inúmeros vídeos sobre aspectos turísticos do então Território do Amapá. Embora não se adaptasse ao computador, o apregoava como instrumento do futuro, pois era atualizado nas informações tecnológicas.

*Contribuição do jornalista Renivaldo Costa.

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