O amor só é bom se doer. Será? – Crônica de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Crônica de Lorena Queiroz

Ontem a noite estava arrumando umas coisas em casa. Abri uma cerveja e deixei o Deezer tocar no aleatório. Ao fim de uma gaveta arrumada, tocou a música “Nem morta”, canção de Sulivan e Massadas, cantada por nossa amada Alcione. Nossa marrom embalou muitos cotovelos que se arrastaram no asfalto ao som de sua bela voz. Entre um gole e outro, comecei a prestar atenção à letra e me deparo com um insight que ainda não havia atentado dentro do tema que a música apresenta. Vamos lá;

Eu só fico em teus braços
Porque não tenho forças
Pra tentar ir a luta
Eu só sigo os teus passos
Pois não sei te deixar
E esse ideia me assusta
Eu só faço o que mandas
Pelo amor que é cego
Que me castra e domina
Eu só digo o que dizes
Foi assim que aprendi
A ser tua menina
Pra você falo tudo
No fim de cada noite
Te exponho o meu dia
Mas que tola ironia
Pois você fica mudo
Nesse mundo só teu
Cheio de fantasias
Eu só deito contigo
Porque quando me abraças
Nada disso me importa
Coração abre a porta
Sempre que eu me pergunto
Quando vou te deixar
Me respondo
Nem morta!

Pensei; puta que pariu! Mas que porra de relacionamento abusivo é esse, Alcione? Dois tapas na cara seguido de um ‘’ para de ser doida’! Percebi na música que, a mulher em questão sofre de uma dependência e apego emocional fodido. Não tem forças para sair de uma relação que ela sabe ser nociva à ela. ‘’ Eu só faço o que mandas, pelo amor que é cego, que me castra e domina. Eu só digo o que dizes, foi assim que aprendi’’. Trata-se de alguém que perdeu, inclusive, a identidade para caber no mundo do outro, se encaixar na expectativa alheia. Então comecei a pensar na raiz de tudo isso. Essa pobre alma nunca parou para pensar; mas pera aí, o que me faz gostar dessa pessoa? O que essa pessoa faz para que eu a ame a ponto de estar em uma situação que me castra e domina? Será o famoso amor de pica? Quantos de nós estamos ou estivemos na mesma situação por sermos a vida inteira ensinados que amor é sofrimento?

Pois bem, vamos voltar lá na literatura, Romeu e Julieta de Shakespeare. O jovem casal que vinham de famílias rivais e se apaixonam. Os dois fodidos morrem em nome desse amor. Mas, lembre-se, leitor, há quanto tempo os dois se conheciam? Conseguiu pegar meu gancho? É justamente isso, a dificuldade, a impossibilidade do relacionamento que seduziu tanto os dois e que, seduz as pessoas todos os dias, pois o ser humano aprendeu e é ensinado o tempo todo que tudo tem que ser muito sofrido para ser gostoso. O prazer no sofrimento. Se você for analisar as tramas das novelas que crescemos assistindo, é a mesma coisa, mocinho e mocinha que tem sua trajetória amorosa cheia de percalços e lutam para no fim ficarem juntos.  será que se Romeu e Julieta passassem mais tempo juntos ou se, seus pais nem ligassem de com quem eles se agarram, esse amor seria tão arrebatador?

Talvez não passasse de um fim de semana que terminaria com um; ‘’ desculpa, tava doidão”. Nos meus atendimentos com tarot, percebi que as pessoas tem esse mesmo padrão, com algumas exceções, claro. Não estou dizendo que você deve recuar na primeira dificuldade, pois acredito que as diferenças devem sim serem trabalhadas em todos os tipos de relações, mas acredito também que os motivos para se amar alguém devem ser claros pra gente.

Ah, mas o amor é irracional, a gente apenas ama! Não é bem assim, meus caros! Na minha opinião, e você compra se quiser, o amor é algo que tem que te fazer bem, o resto é apego, necessidade. Mas, ouça, não culpo você por discordar de mim, afinal, como disse nossa poetinha; ‘’ o amor só é bom se doer’’. E ele dói sim, vai doer várias vezes, pois temos carmas, diferenças que se chocam com a convivência. Só não acho que precisa doer o tempo todo, essa porra tem que virar Darma em algum momento. Pois se não, nasce aí um relacionamento abusivo. O que me assusta em tudo isso é a romantização da cagada. Mas isso não é culpa sua ou minha, só nos foi ensinado a vida inteira e é difícil quebrar alguns padrões. Ah, mas também leve em conta que eu posso estar errada, ou não. Talvez eu seja uma baita de uma preguiçosa emocional ou só uma vadia tóxica mesmo, ou não.

Eu gosto de alguns sofredores, afinal, sem eles nunca teríamos boas músicas, boa literatura e bares cheios. Mas, acredite, não confunda a beleza do amor com a necessidade do sofrimento, essa só produz alguma sofrência sertaneja. Enfim, ame, se jogue. Faça o que quiser. Quem sou eu para me meter na sua vida.
       
*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora, contista e cronista. E, ainda, mãe de duas meninas lindas, prima/irmã amada deste editor.

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