Crônica de Jack Carvalho
2004 não foi um ano qualquer. Na beira de completar 19 anos, o que eu mais queria era ter um punhado de dinheiro no bolso para tomar minha cerveja, ao som de um bom rock. E qual o caminho mais certo? Arranjar um emprego.
Foi quando consegui meu primeiro trampo de carteira assinada na Faculdade Famap. Eu era auxiliar administrativa, atendia os alunos que queriam saber das notas, faltas, resultado de requerimentos e tal. Trabalho suave, sem muito mistério. A sala ficava bem na entrada da faculdade e parecia mais um aquário, cercada de vidros.
Às vezes parecia mais um guichê da Caixa Econômica Federal, cheio de alunos preocupados mais com o número de falta que com as notas. Mas às vezes ninguém passava pela frente. Eram nesses momentos que era tranquilo acessar a internet e navegar suavemente. E naquela época, quando o Orkut não era tão popular no Brasil, quando nem se imaginava que o Facebook ou WhatApp seria as duas principais redes sociais, o Bate Papo da UOL era a saída para conhecer e interagir com pessoas com diversos lugares do país.
Mas claro: eu entrava na Sala AP. E como eu, na época, era meeega fã de Alanis Morrissette, sempre usava o nome da cantora canadense como nickname na sala. O que consequentemente (e porque não intencionalmente?) filtrava os contatos. Pois conhecer a referência feita com o nick, queria dizer que existia uma afinidade musical. Foi quando um belo dia outro cantor apareceu na sala: Ian Curtis.
Que massa!! Qual a probabilidade de você conhecer alguém que gosta das mesmas bandas que você, que escreve um português correto (não se engane: isso sempre foi um critério no BP da UOL) e que mora na mesma cidade?
As tardes no aquário ficaram mais divertidas. Entre trocas de músicas e papos cabeça, a relação entre Alanis e Ian ficava cada vez mais estreita. O que inevitavelmente resultaria num encontro off-line entre os astros. A expectativa aumentava a cada dia. Muito pela afinidade musical quanto pela possibilidade de me envolver com um cara legal (sim, na época eu era mais chegada!!).
Ao passo que a gente acertava o lugar, fomos descobrindo muito mais coisas em comum. Como, por exemplo, o lugar em que o Ian Curtis estudava. Era na mesma faculdade em que eu trabalhava. A coisa começou a ficar muito estranha. Mas legal. Foi quando marcamos o lugar e o horário para nos conhecermos. Por volta das 19h, lá mesmo na faculdade, avistei aquele com as descrições repassadas. A única coisa que eu pensei na hora em que o vi: – Não boto féeeeee!!!!!
O Ian Curtis era nada mais, nada menos que Elton Tavares, que já era meu amigo na época. Mas era mais do que isso: Elton é filho da professora Maria Lucia Neves Vale, que era supervisora na Escola Santina Rioli lá nos idos dos anos 90. Como eu frequentava bastante a sala da supervisão da escola (eu não era uma propriamente uma mocinha na escola), sempre via o Elton ir buscar a mãe nos fins de tarde.
Voltando ao encontro. Quando nos aproximamos, as duas faces eram um misto incredulidade com satisfação.
– Então tu és a Alanis??
– E tu és o Ian Curtis??
Estouramos no riso e confirmamos aquilo que a humanidade conhece: a música aproxima as pessoas. Mesmo as pessoas que já se conhecem. Passados mais de 10 anos, todas as vezes que lembramos dessa história na mesa de bar, o riso solto é certo. Ainda bem, né?
*Isso tudo é a mais pura verdade. História engraçada, muito doida e real. A Jack é uma queridona até hoje e desconfio que sempre será. Valeu pelo texto, broda! – Elton Tavares.
3 Comentários para "O encontro dos astros – Crônica de @JackeCarvalho_"
Que massa essa crônica!
Valeu!!
Morri de rir! Que texto lindo, amável e engraçado.