O poder do palavrão – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Quem já deu uma topada daquelas, de arrancar a cabeça do dedão do pé, sabe do que vou falar. Se você não soltar um palavrão, também daqueles bem cabeludos (pra usar uma expressão do milênio passado), duvido que a dor passe logo. O palavrão tem esse poder curativo. Como num passe de mágica, você solta um CARAAAAAAAAAAALHO! e a dor não desaparece imediatamente, claro, mas vai dando um torpor, um anestesiamento e – abracadabra! – a dor sumiu, como diz o slogan de um certo remédio.

O que acho mais estranho nesse negócio de palavrão é denominarem de palavrão uma palavra com uma sílaba e duas letras: cu. Mesmo com muita gente devassando o cu com o acento agudo (o que deixa o pobre do cu assim: cú) a palavra não cresce um milímetro sequer, o que não justifica ser chamada de palavrão.

Com o advento do politicamente correto, que vai deixando tudo sem graça, fico a imaginar o banimento do palavrão, para salvar a honra das digníssimas famílias da nossa sociedade. Quando o seu dedão do pé encontrar uma pedra no caminho e a necessidade de um palavrão se fizer, o cidadão vai respirar fundo e deixar de gritar: PUTA QUE PARIU, CARALHOOOOOOO!, substituindo por um outro palavrão que, nesse caso, será apenas uma palavra grande, mais afeita aos novos tempos. Algo como: PINDAMONHANGAAAAABA! Ou AERODINÂMICA! Ou ainda: DESMAFAGAFIZADOR! Se a dor for algo insuportável, o único remédio será falar a maior palavra da Língua Portuguesa, um verdadeiro palavrão: INCONSTITUCIONALISSIMAMENTE!

Hoje se tem muito cuidado para não se falar palavrão na frente das crianças. Se bem que aqui em Macapá fala-se FODA-SE! em qualquer faixa etária. No meu tempo de criança, meu pai não poupava ninguém. Quem não quisesse ouvir que saísse de perto. E meu pai era um emérito falador de palavrão. Em cada frase, eram dois CARAAAAAALHO! a cada três POOOOOOORRA!

Já li em alguma postagem no Facebook que quem fala palavrão é mais feliz. Se assim for, já renovei o meu estoque de palavrão para sair por aí esbanjando felicidade. E para fechar esta crônica, que eu queria que fosse FODA!, mas acabou ficando ESCROTA!, um desabafo através de um palavrão que deve ocorrer a todos os que usam a web hoje em dia: Ô INTERNET FILHA DUMA PUUUUUTA! MEEEEERDAAAAAA!

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