À DERIVA
Margarida deixou-me no rio Tapajós,
Fiquei ali tão desolado a ver navios
Que se iam para longe de mim com meus brios,
Deixando-nos, eu e minha vergonha, a sós.
Como uma anti-sereia, espantou-me co’a voz
A falsetear adeuses em todos os rios
Por onde boiassem os olhos sombrios,
Sempre à deriva, zanzando de foz a foz.
Parti do Juruema atrás de alguma vida,
Gritei no Crepori: “Por que tu me abandonas”?
Passado o Jamanxim, a vida era perdida.
Nessas águas fui devorado feito Jonas.
No breu do Arapiuns, no barro do Amazonas…
Em todos eu vi o fantasma de Margarida.
Ori Fonseca