A imprecisão das horas
São agora 19 horas
e o relógio atrás da porta
marca 11.
na sala do apartamento,
as janelas fechadas
me impedem de olhar o tempo lá fora.
e o relógio desajustado
me dá a impressão de um tempo
que não é o verdadeiro.
ouço grilos e outros insetos
que ajudam a definir
a escuridão que certamente
se faz neste instante lá fora.
nossa vaga percepção do tempo
é ditada frequentemente por um objeto circular
e seus ponteiros preguiçosos
dependentes da energia de uma pilha.
a invalidez temporária
dos ponteiros deste relógio a minha frente,
me faz imaginar Cronos
sendo impedido de devorar o tempo
de forma linear e cronológica.
a confusão do tempo,
a ilusão das horas,
a brevidade da vida
e o relógio agora inútil
fazem pensar na repetição dos nossos dias,
muitas vezes vagos.
como os ponteiros do relógio
andamos em círculo
dia após dia.
semana após semana.
meses e anos.
nossa vida é um tic tac quase eterno.
finita e incerta.
impossível definir nosso tempo aqui na terra.
então
penso em Kairós
e percebo a necessidade
de aproveitar o tempo
da melhor forma possível.
neste instante
enquanto escrevo,
os ponteiros deslocam-se
com dificuldade
em posições pré definidas
e passageiras.
nós,
por outro lado,
mudamos de posição
quase que constantemente.
nosso tempo, mesmo que incerto,
talvez seja o mesmo
dos ponteiros do relógio.
nossa localização e destino final
é que são imprecisos.
Rafael Masim
1 Comentário para "Poema de agora: A imprecisão das horas – Rafael Masim"
Muito impactante este poema, parabéns ao autor Francisco Rafael. Pois faz nossas mentes viajar no tempo infinito.