Poema de agora: A primeira força – Júlio Miragaia (@juliomiragaia)

A primeira força

O tempo voa
descabelado
olhando para chuvas
e paredes esverdeadas.

O tempo é porto
de cidades que
nunca mais se erguerão
depois de janeiros
e fomes de amanhã.

O tempo é uma tampa
de ferro lançada
violentamente
contra a dor
e a esperança.

O tempo é um livro
anfíbio de saudades
e sílabas tonificadas
por dissabor
e quintais incendiados.

O tempo se perde
no tato e olfato
de uma tela arquitetada
para barcos
e beijos de amantes.

O tempo é um canhoto
entardecer iluminado
por solidões
reencharcadas
de frutos, futuros e fins.

Júlio Miragaia

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