A fome o lixo
a fome
e o lixo
resume
o que consome
os passos
do homem-vivo
na anti-cidade
os olhos-medo
dos jovens-nunca
ecoam gagos
com longos ecos
por ruas secas
e descalças
em todo o planeta
ao meio-dia
no Aurá,
numa anti-Belém do PA,
um pedacinho de mundo
respira pro fundo,
todos os dias
ao canto do galo,
sob a luz dolorosa
do podre do sol
é o trabalho-caralho
que arranca do fundo
o sustento, o salário
que colhe no lixo,
a luz e a vida,
na folha de alface
no pós-iogurte
no resto de pão
é o trabalho do lixo
um pedaço de mundo
que rasga profundo,
é o lixo-cidade
que mata a fome
da margem no sol
os homens-governo
saqueiam com leis
com preços e ordens
a renda e as almas
em toda cidade
a fome
e o lixo
consome
o resumo
e os ecos do fundo
da anti-cidade
a fome
e o lixo
descalça
a fome
e o lixo
cansada
a fome
e o lixo
“endemoninhada”
podre
seca
muda
ao meio-dia
em todo planeta
Júlio Miragaia
1 Comentário para "Poema de agora: A fome o lixo – @juliomiragaia"
O título já é um Poema.
E o Poema é um tudo.