Poema de agora: O Som da Vida – Luiz Jorge Ferreira

O Som da Vida

Ela canta em silêncio apoiada em todas as rimas.
De mãos dadas a todos os acordes.
Eu acordo espremido entre Dezembro e Janeiro.
Procuro minha’alma que joga cartas com a vida.
Bebo de um café claro onde dentro da xícara,
enxergo barcos a vela levando meus olhos,
e neles…seis lágrimas,
enormes como o mar.

Ela canta em silêncio.
Houvesse Primaveras em mim, seria assim o som a ser ouvido, e não
palmas afônicas, doutro
lado da sala sob a saia marrom que ela rodopia.
Sob a esperança que ela margeia e espalha nos agudos, voando as cegas, pelas janelas abertas, onde a lua e sombras esbranquiçadas
sonhando com o nada
acenam.

Ela canta em silêncio
por acaso essa cena me acordou o sono
e me ensopou os passos e me redesenhou os abraços.
Ou o que fez comigo esse ano ímpar…
Que eu jamais fui em mim…Turmalina…Lilás…
E em cor nenhuma na solidão dos solitários, nunca mais ser, sonhei.

Voltarei a entrar pelo portão veterano da Casa Amarela…ele domador de tempos…eu caçador de dores e mazelas.
Arrastando 45 anos de ausências do que fui e tive…
Sou a estatua de ossos e pele da minha juventude jubilosa por conquistas e alcances..
Caminho devagar guardo em mim o fruto amadurecido do passado.
Caso me encontre, me abraço?
Não posso…estou de máscara…
Continuadamente…
solitariamente…passarei

Luiz Jorge Ferreira

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