Poema de agora: Pirueta – Luiz Jorge Ferreira

Pirueta

Todas as coisas que dependurei no tempo…
Ou engavetei na memória… criaram teias.

Todos esses… Contos, Crônicas, Poemas, Romances, que engalhardei de vírgulas, reticências, tremas, e exclamações.
Estão pasmas com a minha voz…
Espantados com a minha lentidão, e surpresos com o meu abandono pessoal.

Arrasto meu corpo, mais osso que ansiedade.
Por essa cidade… a pé…
Ou cavalgado de saudades.
Eu continuo a me dizer.
Que de uma estação a outra nesse trem, são 10 anos.

Quantos já desceram e quantos já embarcaram, com suas faces imberbes, assustados com a viagem, dando atenção a cada ruído mais diferente, que a máquina cria em seu trajeto tortuoso.
Restam-me os passos com que entrei, guardei para sair… os poros desalinhados pelas rugas sem fim… os podres dias de Outono em que palitei a Primavera.
As pessoas com quem fiz planos de vida e morte.
Hoje são fotos descoradas na parede do corredor vazio.

Tantos solavancos a nos espantar…
Assustam a alma que balanceia com o trepidar do trem, dentro do porta cédulas… junto com algumas moedas inválidas de centavos.

Luiz Jorge Ferreira

*Osasco (SP) – 18 de agosto de 2021.

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