Poema de agora: Um sol cego olhando a lua – Luiz Jorge Ferreira

Um sol cego olhando a lua

Quando por algum motivo eu não falo com Macapá
Ou Macapá não fala comigo
Parece que rompi o umbigo atado a praia do Araxá
Ou que fugiu de mim o ar que sopra bailando sobre as ondas da baía
Ou que as pedras da Fortaleza retangulares saíram de seus lugares e
marcharam para o Curiau…
E eu fiquei sentado a beira do Pacoval salgando suas águas de lágrimas.
Querendo voar com seus Curios… por cima dos açaizais, acima das pencas de nuvens, amigas do Equador.

E pôr a dor da saudade de cócoras no Cemitério da Praça… onde uma multidão de amigos doutro lado do muro, em eterno descanso, continuam vivos quando lhes ressuscito em meus cantos…

Quando não vou ao Cine Macapá com minha pilha de Gibi… debaixo das Asas… e não molho a camisa de suor para comprar ingressos e revender, não sou eu…
Não sou eu a chuva que molha a poeira da rua…
Não sou eu o cheiro de terra molhada… não sou eu a tarde abafada e quente que produz suor e sonolência…
Não sou eu quem grito no vazio corredor do Grêmio Estudantil, estendido na Ernestino Borges um… Oi… Oi… Oi…
Que assusta os lagartos, incomoda as Mariposas, enxota os Anuns lá no Igarapé das Mulheres.
E espanta os leões do Fórum olhando para o horizonte a namorar as ilhas…

Esse não sou eu… mas fui.
Meus pés são seres vivos procurando pedras amigas para pisar
O tum tum do meu coração imita os tambores dos cânticos regionais…
Não imita os tamborins do Bloco Mirim dos Boêmios do Laguinho… em virtude da saudade emocionada atravessar o Samba.

Os minutos ansiosos pedem que eu arranque a pele
Onde carrego marcas do passado representadas por cicatrizes… calos… e sinais do sol desenhados em mim.

Onde estenderei a alma apaixonada por instantes, lembranças, momentos, que mesmo sem envelhecer se envolve com sentimentos ressuscitados.

Inimiga de prantos e pragas
Cultiva outra alma dentro dela
Uma alma ladina, neo clássica, vestida de Escoteiro, que pisa forte sobre sua outra página…
aquela que termina em the end…

Luiz Jorge Ferreira

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