Poema de carnaval: Fervilhando…(Luiz Jorge Ferreira)

Fervilhando…

Eu quero ser bulido…da cabeça ao ventre…eu quero pôr o avesso sem avesso no avesso.
Eu quero ser a sorte distante.
Eu quero ser a lua minguante.
O livro sobre a estante, letras sobrenadantes dentro do olhar.
Eu que ser a fome gorda dos meninos esqualidos dentro dos mangues.
Eu não quero ser dentes afiados que nunca morderam pescoços, nem ancas.
Eu quero ser a boca que engole a brisa que cheira a comida, e que mata a fome da fome.
Eu quero ser a luz escura que envolve a lua, e se derrama dentro do que lembro, atento aos movimentos dos quadris nervosos da morena sassariqueira,
que o samba dança.
O mesmo samba que ela recorda, quando do Carnaval, só se esperava o barato de cheirar lança perfume …
Eu quero ser lido…eu quero ser lenda…eu quero ser nesga de um vento…que traga fragmentos da nossa vida…
Eu não quero viver morto.
Eu não quero morrer vivo.
Eu quero estar contigo debaixo da chuva…de quatro, de cocoras…cantando um frevo… fazendo um fervo, criando fofocas…fazendo fuxico…chupando tua língua…cuspindo um sorriso…
despindo tua vida feito fantasia…para a alegria da felicidade.

Luiz Jorge Ferreira

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