Poesia de agora: Cantiga Número Dez – Luiz Jorge Ferreira

Cantiga Número Dez

Porquê fostes assim, silêncios e ruídos.
Porquê fostes assim…início…meio e fim.
Porquê fostes assim… a mão que fere e afaga.
Porquê plantas em mim…o que não vais colher…um ardor de não e sim.

Porquê vives assim…chegando de partida.
Porquê amo em ti o que nunca encontro.
Porquê ouso ferir o amor cicatrizado.
Porquê ando ao redor e volto aos pedaços.

Porquê amo a noite…inteira ou destroçada.
Porquê sempre receio a dor de uma saudade.
Porquê estás onde estás, eu mesmo não estando.
Porquê creio demais com
a fé que não possuo.

Podes agora exilar-me entre gritos e horas.
Podes agora cobrir-me com teu desdém.
Podes agora deixar-me exposto ao frio.
Podes agora falar-me do jeito mais vadio.
Podes agora derramar no chão todo o teu cio.
Podes agora esconder-te
profundamente em mim.
Podes agora te aprontar e ir.

Eu arrumo as sombras e os passos.
Eu arrumo o adeus e os retratos.
Eu arrumo os versos e os pratos.
Eu me arrumo inteiro com os pedaços.
Até enfim…terminar em mim.

Luiz Jorge Ferreira

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