Poesia de agora: SÓ HÁ 13.870 DIAS ATRÁS – Luiz Jorge Ferreira

SÓ HÁ 13.870 DIAS ATRÁS

Eu falo em 38 anos, hoje.
Como se falasse de meses… algum tempo lá atrás.
Mas isso não me assusta…o que me chateia é a briga dos lixeiros na rua correndo atrás das letras que caem das folhas de sulfite que rasguei ontem.
O som das teclas ficaram dependuradas no lustre em que teias, e telhas se esforçam para aparecer mais…

Dentro de um copo descartável sujo de café abrigo sonhos…
No chinelo gasto repousam passos…
Nos fios esbranquiçados dos meus cabelos, ficaram amanhãs…
Tal qual as Garças pintadas nos panos puídos usados para enxugar pratos famintos…
A fome prefere estar ao relento do quintal onde sopros de ventos carregam restos de alimentos.

Tal qual o silêncio da cidade muda nas madrugadas, empurro minhas esquizofrenias para o interior de meias de lã…
Mães comem avelãs, diz a poesia música do Gandi…
Pulgas de cães preferem as pernas ricas de veias das mães.
Eu prefiro o olhar no espelho, salpicado de pasta de dentes, ao me esconder bem dentro de mim, e fugir dos últimos 38 anos.

Minhas coisas amontoadas ao Sul do Sol.
São letras salgadas asfixiadas
As letras são plurais.
E minhas digitais ficaram por tantos lugares estranhos, íntimos, e vulgares…
Que hoje atadas umas as outras são nos trançados entre si como cordas de violão, e notas musicais.

A noite invade meu interior, onde um tempo se abriga, estranho entre entranhas estranhas, que me incomodam, as vezes e as vozes, que as espantam não passam de sombras, descendo a escada para cuspir no lixeiro.
Desesperançado… ele galopa no meio da noite espalhando minhas saudades nas palavras misturadas no copo sujo com café e avelãs.

Luiz Jorge Ferreira

* Do livro “Nunca mais vou sair de mim, sem levar as Asas” – Rumo Editorial São Paulo Brasil. 2019.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *