REFLEXÕES E DÚVIDAS – Crônica de Fernando Canto

 

Crônica de Fernando Canto

Acredito que qualquer um de nós já se perguntou de onde veio, o que é e o que está fazendo aqui neste planeta. Desde que mundo é mundo e que sociedade existe para tentar consertar o caos, essas perguntas ainda vão cruzar as reflexões dos seres humanos e encaminhá-los aos mais diversos pensamentos e explicações. O homem certamente vai querer saber mais detalhes da sua própria história escrita no curso do tempo e até mesmo na condição da criação dos mitos que inventou para explicar o que não tinha explicação nem ciência.

Hoje a ciência está mais para entender-se a si mesma pelos conjuntos mitológicos aos quais recorre, advindos de estudos realizados por “historiadores da vida – os mitólogos, antropólogos, arqueólogos, biólogos e até cosmólogos, entre outros escavadores de origens”, no dizer de Ulisses Capozzoli. Para este doutor em Ciências não se pode subestimar a complexidade da condição humana, pois o homem existe no interior da cultura e que cada ser humano deve ter acesso a um direito natural de saber como e porque está aqui. Nesse caso todos devemos refletir, pois a carência de reflexão tem conseqüências inevitáveis. Não uma reflexão apressada, anacrônica, num tempo em que “a genética é apontada como a maior fazedora de prodígios”.

Não um retorno à mitologia que povoou o Olimpo, mas uma busca constante de que essas reflexões serão acréscimos de novos relatos sobre situações diferentes para a arte, para a religião e a para a ciência. Acho que a mitologia cria a literatura e alguém já disse que sem metáforas a língua não cresce nem sobrevive. Devemos, pois, evocar o estranhamento sobre origens para vivenciar os sabores do mundo, e assim, talvez saber por que estamos aqui neste planeta.

O meu amigo Raul T. talvez ache estranho ficar falando em mito para diversificar o re-conhecimento da criação do homem, um argumento, aliás, muito usado no discurso da ciência, que continua procurando pistas, investigando relatos e pesquisando como a vida brotou na terra. Nós avançamos, sim, no conhecimento de nossa trajetória, embora em muitos pontos de nossa casa planetária ainda tenhamos “verdades absolutas” como em certos dogmas religiosos. Mas, como ele, também acredito que não estamos sós e que muitos desses mitos cosmogônicos, que falam sobre a origem do Cosmos e os mitos teogônicos, que falam sobre a origem dos deuses, e que estão presentes na cultura (ou na lembrança) dos povos antigos, são relatos desconcertantes para a ciência hoje. Quem sabe até pistas dessas origens, nas quais uma realidade passou a existir graças aos feitos extraordinários de seres sobrenaturais, como nos ensina Mircea Eliade.

A questão agora é ver o que se vai refletir para 2008, considerando que todo início de ano é período de reflexão e de proposta de mudanças, de novos planos e de descobertas de novas verdades. Vendo isso o que se vai cogitar, principalmente sobre cultura e política, sobre arte e religião e outros temas tão grandes quanto estes. O melhor negócio é ter dúvidas. Dúvidas pequenas, dúvidas inocentes, mas que merecem a nossa atenção como a do Mundoca, um amigo do Laguinho que num certo domingo de manhã expressou para o pessoal do bar Calçadão a sua grande, mas feliz dúvida: – Tô com R$ 10,00 aqui. Não sei se tomo uma cachaça ou um litro de açaí do grosso.

 

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