A falta que vai fazer o grande Jô Soares – Crônica de Marcelo Guido

Jô Soares morreu na madrugada desta sexta-feira (5) aos 84 anos. (Crédito: Reprodução/Divulgação)

Crônica de Marcelo Guido

Sim, sabemos que gênios existem, são de carne e osso, padecem com o tempo e saem de cena.

Não seria diferente com José Eugênio Soares, o popular “Jô”. José foi na última sexta feira, dia 05. Torcedor do Fluminense, devoto de Santa Rita de Cássia e antes de tudo um verdadeiro estandarte da cultura brasileira e por que não mundial.

Humorista, já não se tem adjetivos de grandeza para mencioná-lo quando o assunto é humor, seus inesquecíveis personagens estão gravados na memória do povo brasileiro desde os tempos da Família Trapo, onde ao lado de Ronald Golias e de grande elenco arrancava risos aos montes como Gordon.

Em “Viva o Gordo”, teve com certeza todo seu reconhecimento, seus personagens em esquetes de humor são marcas registradas até hoje, declaro aqui minha paixão pelo “Capitão Gay”, que com seu fiel escudeiro “Carlos Suely”, combatia o crime nas noites, o “Jornal do Gordo”, que era feito para pessoas mais ou menos surdas, como a tia Cotinha.

Como cantor lembro de sua participação no especial infantil “Plunct, Plact Zuun”, cantando o “Planeta Doce”, realmente uma das muitas memórias que tenho da infância.

“Escritor sensacional, “O Xangô de Baker Street”, onde conseguiu trazer ao Rio de Janeiro o grande Sherlock Holmes e fez com que uma singular “ Pomba Gira”, baixasse em Watson, em “O Homem que Matou Getúlio Vargas”, intrometeu  Borginha nos maiores acontecimentos do mundo. Colocou em duvidas a imortalidade dos imortais em “Assassinato na Academia Brasileira de Letras” e  matou sem dó e piedade senhoras gordinhas em “As esganadas”, o gênero policial era seu forte, e me acompanhou da minha adolescência a vida adulta. Com orgulho digo que li todos.

Como apresentador, foi um craque. Trouxe e popularizou no Brasil o formato gringo “Talk Show”, era  um Jay Leno Tupiniquim, primeiro no SBT ou TVS, com o “Jô Soares 11 e meia”, que tinha como marca nunca começar no horário.

Sua extrema habilidade transformava as entrevistas em verdadeiros bate papos, que deixavam o telespectador por dentro de vários tipos de assunto, da politica a arte, da musica a ciência.

Lembro de assistir a Legião Urbana, Ratos de Porão, assim como o Brizola, Ayrton Senna dentre muitos outros. No “Programa do Jô”, na sua volta a Globo, o formato continuou o mesmo, mas as apresentações mudaram colocando o sexteto , antes quinteto, como personagens assim como o garçom Alex.

As apresentações do e-mail do programa, ou a paixão do chileno Alex por Pinochet foram marcantes.

Sua emoção ao ir trabalhar de luto pelo único filho, ou a generosidade que dava a artistas para se apresentar, como esquecer da primeira aparição de Fábio Porchat, como camisa da seleção de Portugal, ou o monólogo “Mundo Moderno” recitado por Chico Anysio.

Jô se foi sem alarde, estava fora da TV a um tempo, talvez o compromisso de provar algo não existisse mais ou o cansaço natural já não faziam ter o gosto pelo trabalho na telinha, nunca saberemos.

Se foi sem se despedir, sem o beijo do gordo, sem lágrimas nem choro nem vela, nos deixou um último ensinamento: “Viver não é tão importante, o importante é a comédia”.

Termino este texto parafraseando Marcelo Falcão, que sem duvida alguma resumiu quem era Jô em uma das muitas entrevistas do  O’Rappa, “Jô, você é Foda!”.

Jô Soares – Foto: Rede Globo

Este ser que transformou a TV Brasileira, foi cremado em uma cerimônia simples, na manhã do último sábado (6)

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia.

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