Entre a leveza e a dureza – Crônica de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Crônica de Lorena Queiroz

As mazelas e os questionamentos humanos estão sempre bailando em volta de uma única coisa: a morte. Não falo apenas da morte física, essa que nos assombra a partir do momento em que durante a vida percebemos sua finitude. Mas falo também da morte de paradigmas, conceitos, percepções. A morte de um sonho, de um ideal. A morte de uma “persona”.

Em 1997 comecei a estudar tarot e, dentro desse estudo me aprofundei em mitologia e na simbologia que as cartas traziam. Cheguei em Hades, Deus dos infernos. Na carta da morte descobri que também está inserido o renascimento. Quando algo morre, algo renasce. E todo renascimento também é igualmente amedrontador.

Durante a pandemia, onde estávamos mergulhados em um ambiente de dor e ainda assim muitos riam na cara do perigo, escrevi uma crônica chamada Um pequeno ensaio sobre os dias. Lembro que um leitor me deixou um comentário onde exigia uma luz no fim do túnel. Compreendi sua reclamação, não queria ter lhe tirado as esperanças, afinal, a esperança as vezes é a única coisa que a pessoa tem.

Mas à época, eu não tinha nada para lhe dar. Me recordo que pensei em responder através de Belchior: ‘’Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve. Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve. Sons, palavras são navalhas e eu não posso cantar como convém sem querer ferir ninguém….isso é somente uma canção, a vida realmente é diferente, a vida é muito pior”. E hoje, em respeito ao leitor reclamão, digo que não precisa ser assim, desde que você desfrute da viagem, pois ninguém permanece o mesmo. Ninguém passará incólume, intacto. As pessoas mudam, as coisas mudam ou nos emudecem.

Morrer é renascer e, se tivermos sabedoria, renascemos fortes e melhores. Ou mergulhados no mar de seu próprio ego, mas isso fica ao gosto do freguês. Luigi Pirandello em sua obra Um, nenhum e cem mil, mostra que nunca permanecemos os mesmos. Morremos e renascemos em vários momentos nesta vida. Não se envergonhe de ser outro ou mudar de ideia e de ideais. Só não muda aquele que não pensa.

Pablo Neruda em seu poema Esperemos, diz:’’ Há outros dias que não tem chegado ainda, que estão fazendo-se como o pão ou as cadeiras, ou o produto das farmácias ou das oficinas – há fabricas de dias que virão – existem artesãos da alma que levantam e pesam e preparam certos dias amargos ou preciosos que de repente chegam à porta para premiar-nos com uma laranja ou assassinar-nos de imediato. Tolkien falava que há um chamado da aventura, onde um mago baterá à sua porta. Abra a porta com coragem, pegue o premio da laranja. Os dias vão vir de qualquer jeito.

Leitor, não sei em que fase da sua vida você se encontra, mas saia de onde não te cabe mais. Dispa-se do que não te serve e ande nu até o desconhecido para dançar em outra festa, pois como ensinou o Osho: A vida está em harmonia com a morte. A terra em harmonia com o céu. A presença em harmonia com a ausência. E nesta harmonia imensa está a sincronicidade. É esta a única maneira de viver que respeita e ama, e que nada rejeita, nada condena.

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora contista e cronista. E, ainda, mãe de duas meninas lindas, prima/irmã amada deste editor.

  • Saber tirar proveito desse antagonismo inevitável é desvendar o sentido de nossa existência!
    Crônica maravilhosa. Parabéns, minha amiga! 👏👏👏👏

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