Juninho Pernambucano: O Reizinho – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

A magia da bola, os campos gramados riscados a cal, as marcas fatais a idolatria merecida; o futebol fabrica e mostra os abençoados com o dom divino de tratar bem a pelota. E foi assim que Antônio Augusto Ribeiro Reis Junior veio para o mundo.

Tendo seus pés magistralmente moldados, como se fossem fabricados com o único objetivo de extasiar multidões e fazer sorrir os admiradores do bom futebol.

Honrou as camisas do Sport, Lyon, Al- Gharafa, New York Red Bulls, mas fez do Vasco da Gama seu Reino.

Cerebral, comandava como poucos a nau vascaína, com passes precisos e uma pontaria que parecia calibrada à mão. Juninho fazia a bola viajar para os fundos das redes com um capricho singular.

Três passagens por São Januário o imortalizaram na colina. A torcida – sua mais fiel corte – canta seu nome ainda hoje. Monumental como deve ser lembrado. Três estreias com gols marcantes: 1995 contra o Santos, 2011 contra o Corinthians (esse no seu primeiro toque na bola) e 2013 contra o Fluminense. Sem modéstia, vi os três.

A vontade sempre mostrada em campo, eram as suas credenciais, ao convocar seu exército para luta, batendo no peito como um verdadeiro rei, para conquistar a virada histórica em pleno Parque Antártica, ou calar um estádio Hermano inteiro em 1998, abrindo caminho para a conquista da América. Mandar com dedo em riste a torcida tricolor sair do lugar conquistado por direito pela torcida vascaína. Juninho não vestia à toa a camisa da Cruz de Malta. Ele a encarnava como segunda pele.

Por desmandos de dirigentes, saiu como campeão brasileiro e foi conquistar a França. Oito títulos nacionais em oito anos com a camisa olímpica. Tornando-se ídolo imortal também por lá.

De volta ao Brasil, para sua raiz. Ser Vasco o fez, em um mundo milionário, jogar por salário mínimo (só o amor explica certas coisas). Bicampeão Brasileiro, Campeão da Libertadores, Campeão Copa Mercosul, Campeão do Torneio Rio – São Paulo, Campeão Carioca. Quando as pernas não aguentaram mais o ritmo, Juninho preferiu sair a macular sua história.

Para ele, jogar era para vencer e não iludir quem sempre lhe quis bem.

Conquistou o Nordeste e o Pernambucano com o Sport também, levantou troféus com todas as camisas que vestiu: 33 canecos no total. Foram 202 gols em 839 jogos. Considerado o maior cobrador de faltas do futebol mundial.

Juninho era a elegância extrema dentro das quatro linhas, era a inteligência a serviço do espetáculo. E acima de tudo, o suor e a garra podiam ser sempre sentidos pela torcida.

Sem medo de ser leviano, um dos maiores jogadores que pude ver jogar. Ao se despedir do futebol, soube da saída de alguém que nasceu para vestir a camisa do Vasco.

Mais que um jogador de futebol, um ser pensante que nunca se privou de dar sua opinião. Ao se despedir da seleção, disse que espaço deveria ser dado aos novos talentos e que o ego deveria ser deixado de lado. Peitou o próprio Eurico Miranda para ser respeitado no Vasco. Saiu da rede Globo por não concordar com a maneira como a emissora via os clubes de futebol – sempre para favorecimento de alguns clubes, em detrimento de outros.

Um ponto de vista sempre coeso pelas causas humanitárias, duro e preciso contra o nazismo crescente e latente em todos os lugares, faz dele com certeza um ser humano ímpar.

Mais do que tudo, um símbolo de resistência, coisa que o futebol moderno não consegue ver em seus craques.

Juninho fez da Cruz de Malta seu coração e, como um verdadeiro Rei, honrou-a como muito poucos fizeram. Talvez ele tenha saído para ser exemplo, mas voltou por amor e seu lugar está garantido no coração de todo vascaíno.

Vida longa ao Rei e que sua memória nunca seja esquecida. Pelas bênçãos de São Januário, saiba que a colina sempre será sua morada.

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