Monólogo ( Aos dois) – Texto poético de Luiz Jorge Ferreira

Depois de doze anos que ambos haviam completados 90 anos.

…Ela olha em sua direção…e diz.
– Tomara que chova.

… Ele põe o pé direito no chinelo…no par esquerdo…que está imprensado entre a parede, e as pernas da cadeira.
….E se chover que se demore.

Feche a janela para que não molhe o relógio.
E se molhar o relógio… não molhe as horas…e se molhar as horas… não molhe os dias…e se molhar os dias… não molhe os meses…e se molhar …

Ela disse … olhando amorosamente em sua direção…
Doutro lado da sala repleta de plantas, besouros, joaninhas, e sanguessugas, e morcegos…ele lá.

Tomara que não chova! Completou.

…ele voltou o rosto para o lado que o arco-íris descorado se prendia ao alpendre…e sorriu…

Ela lentamente cuspiu em direção ao gato de porcelana cochilando na terceira janela.
…e se chover…que venha de Oeste…pois a Leste tem a Tabacaria.

Ele balbuciou uma Mandala que aprendera na Caxemira…
Provavelmente Outono lhe traria de volta a audição, o olfato, e o paladar…Quiça a ereção.

Ela se ergueu…e caminhou nua em direção ao pequeno atracadouro… lotado de Canoas apodrecidas.

Ele lamentou que começasse a chover… exatamente agora.

Luiz Jorge Ferreira.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *