Museu da Imagem e o Sonho Coletivo – Por Fernando Canto

Imagem encontrada na página do Facebook do MIS-AP (antiga)

Por Fernando Canto

Há muito ouço falar da implantação de um Museu da Imagem e do Som no Amapá. Ideia que todos têm, mas que ninguém se habilita a iniciar. Se já houve nunca chegou a ser organizado de forma que se pudesse ter um acervo significativo, o que é quase improvável. Soube que há alguns anos um atuante deputado propôs um projeto, que foi aprovado pelos seus pares, tendo, porém, estancado na burocracia da administração estadual. Também fui informado de uma tentativa do governo municipal em criar e organizar um MIS em Macapá no início dos anos 90. Na época investiram na formação de um acervo da história da cidade desde que ela foi promovida à capital do antigo Território Federal, em 1944. Começaram por entrevistar antigos habitantes e velhos pioneiros que deram sua contribuição para o desenvolvimento local. Uma equipe de funcionários e cinegrafistas esteve em Belém para completar o processo de informações, colhido através da memória dos velhos servidores públicos. Ali contataram pessoas importantes para a vida do Território e da cidade, como a professora Aracy Mont’Alverne, o professor Theodolino Flexa de Miranda, Belarmino Paraense de Barros e muitos outros. A equipe fez um trabalho exaustivo de entrevistas em vídeos que certamente se constituiria um precioso documento memorial a ser bem aproveitado em exibições museológicas para estudantes e pesquisadores interessados em nossa história recente.

Infelizmente, como a falta de compromisso com o nosso passado é uma realidade desprezível, esse acervo precioso desapareceu. Ninguém sabe onde ele está. A mesma coisa acontece com fotografias, imagens de santos, documentos oficiais, películas, filmes em super-8, negativos fotográficos, discos, livros, revistas e fitas gravadas de depoimentos políticos, registros da cultura popular, discursos históricos de personalidades administrativas, etc.

O Museu da Fortaleza de São José, que já abrigou um acervo preciosíssimo da nossa história foi dilapidado por colecionadores ambiciosos. De lá levaram até os selos e as moedas da República do Cunani, que são relíquias de valor considerável no mercado internacional. Em 1950, a Comissão de Tombamento da Fortaleza, presidida pelo engenheiro Douglas Lobato Lopes, informou que nela existiam 50 canhões de ferro fundido, mas em 1972 havia apenas 20. Hoje não sei quantos restam, se por acaso restarem alguns originais, só para citar como exemplo.

Em 2003 a Prefeitura adquiriu o acervo fotográfico do historiador Coaracy Barbosa, que tem mais de 600 estampas antigas e o Governo do Estado fez o mesmo com o acervo familiar do governador Janary Nunes, que se encontram respectivamente na Coordenadoria Municipal de Cultura e na Biblioteca Pública Eucy Lacerda. Isso representa ponto positivo e responsabilidade com a memória amapaense.

A Prefeitura de Macapá, preocupada com isso, já abriu caminho para a implantação de um MIS municipal, que deverá ser executado durante as comemorações dos 250 anos de fundação de Macapá. Diante disso será necessário adquirir mais acervos particulares e institucionais, pesquisar materiais que devem estar em outros estados e talvez em países distantes, numa saga contínua para que o Museu Municipal da Imagem e do Som não seja apenas um local em que se conservam “artigos do passado”. O museu, na sua conceituação lógica e moderna, deverá ser uma fonte de imaginação e criatividade que nos permitirá sonhar e interagir com o futuro; que nos permitirá conectar no tempo, descortinar idéias e valorizar a cultura humana. Um museu dessa natureza traz a vontade do sonho coletivo.

  • Muito bem abordado esse tema , pelo Escritor Fernando, do desprezo pela memória de um lugar tão fecundo em seu percurso de tantos anos.
    Criando e contruindo História.

  • Muito bem abordado esse tema , pelo Escritor Fernando, do desprezo pela memória de um lugar tão fecundo em Cultura
    e outras manifestações desta estirpe…
    E que se apague da memória do povo os que foram responsáveis por essa profunda lacuna., que até hoje sangra.

  • Bastante pertinente essa preocupação, pois com o tempo, pessoas detentoras de memórias vivas ainda estão conosco, e não estão sabendo explorá-las, infelizmente. O seu Belarmino Paraense de Barros, já falecido, por muitos anos escreveu em um determinado Jornal local, fatos históricos do então Território Federal do Amapá. Ainda há tempo para os nossos historiadores correrem atrás do nosso tempo passado.

  • Sem querer polemizar, é lamentável que essas e outras coisas negativas continue acontecendo nas barbas das autoridades. Felizmente há pessoas que: mesmo sendo naturalizadas, se preocupem com a memória da “civilização” amapaense. Parabéns Fernando Canto, por colocar o dedo nesta ferida, talvez assim quem tem a responsabilidade de agir comece a se mover.

  • Este texto foi escrito e publicado ainda em 2007.
    Mas me parece que a SECULT vai realizar projeto. Já era tempo.

  • Perfeito, eficiente e importante texto. De fato o desprezo dos governos pelo MIS e triste e revoltante, quem por ali passou sabe o que é ver muito da nossa história se perdendo por falta de compromisso dos gestores. Triste realidade!

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