ALADA
Mamífera alada de olhos de cobre,
Desses olhos de cobra venenosa,
Língua bifurcada a passear sobre
A pele arrepiada do ser que goza,
Sendo a plena riqueza do homem pobre.
Mama do mais puto leite que existe
A saciar todos os males da sede
Que entra no sonho, cai no sangue e insiste
Em maltratar e jogar na parede,
Sendo a única alegria do homem triste.
As tetas a me olhar de lado a lado
Pareciam dizer-me “estás vencido”.
Então, olhei nos olhos do passado
E vi o colo asado, o peito querido
Sendo o terno abrigo do homem cansado.
Mulher da perdição a que me entrego
Por que persegues os que não têm sono,
Aniquiladora do superego?
És berço de acalanto e de abandono,
Sendo a límpida visão do homem cego.
Mamífera dos seios de conforto,
Desses receios de vulcão ativo,
Lava de leite a me servir de porto,
Sendo a morte abençoada do ser vivo,
Sendo o sopro de vida do homem morto.
Ori Fonseca