Poema de agora: GRÃOS DE TEMPO – Ori Fonseca

GRÃOS DE TEMPO

Meu pai morreu, e é só mais um defunto,
E as mulheres me chamam de senhor.
O tempo que ciranda ao meu redor
É pouco agora, mas um dia foi muito.

As migalhas de segundos que ajunto,
Inutilmente, tentam recompor
Um tempo de esperança e de fresco,
— Respostas ao que sempre me pergunto.

Em que prato hoje é servido o que se vai?
Em que açougue, em que feira, em que cozinha
Será rasgada a minha carne em rinha?

É tarde! Ouço vozes! A Noite cai!
Eu não chorei a morte de meu pai,
Filho nenhum há de chorar a minha.

Ori Fonseca
Ilustração: Imagem Google

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