Vídeopoema de agora: AMORTE – Ori Fonseca (declamação de Patrícia Andrade)

AMORTE

O amor, soterrado, agoniza e grita,
Ninguém o socorre, estão distraídos
Co’a pressa errante da vida finita,
Com seus devidos impostos devidos,
Enquanto o coração não mais palpita,
E as emoções definham sem sentidos.
O frio da solidão me faz cansado,
Não ouço os gritos do amor soterrado.
O amor, faminto, sai de porta em porta
Pedindo um sonho que lhe mate a fome,
Mas a fome do amor não mais importa,
Não existe o alimento que o amor come
Na veia que é sem sangue, na alma morta,
Num sentimento que não tem nem nome.
O frio da solidão gela o que sinto,
E eu ignoro a fome do amor faminto.
O amor, doente, dorme na calçada,
E come o pão que o diabo amassou.
A vida já lhe foi mais abastada,
Naquele tempo em que mais gente amou,
Mas tudo que era tudo agora é nada,
O doce, por ser doce, se acabou.
O frio da solidão é frio dormente,
Não sei sentir a dor do amor doente.
O amor, deprimido, sufoca o pranto,
Resmunga baixinho na noite alta,
O gozo da vida, que lhe foi tanto,
É tudo o que agora lhe faz mais falta;
O medo que assombra no escuro canto,
O assombro do medo que sobressalta.
O frio da solidão geme um ganido,
Sou surdo ao choro do amor deprimido.
O amor, natimorto, não verá o dia,
Não brincará na boca dos amantes,
Não sentirá o perfume da alegria
Nem os calores das paixões vibrantes;
E tudo enfim será paralisia;
Sem lua nem sol, sem depois nem antes.
O frio da solidão cala-me absorto,
E eu beijo a testa do amor natimorto.

Ori Fonseca – (declamação de Patrícia Andrade)

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