Poema de agora: Explicação – Por @alcinea

Explicação

Vivo do ato de escrever
sobre tragédias
e espetáculos
Sobre o candidato vitorioso
e o derrotado
Sobre o deputado corrupto
e o governante que finge ser honesto
Sobre a exportação da mandioca
e a importação da farinha
Sobre a fome
e a riqueza
Sobre o real
e o dólar.
Perdoa-me, Anjo,
não sobrou tempo
para escrever
um poema de amor.

Alcinéa Cavalcante

Poesia de agora: Súbito Poema (@ThiagoSoeiro)

Súbito Poema

Emudeço ao inconstante tempo
que hora me faz inverno
hora me veraneia

Das certezas que carrego
uma delas
é que não tenho certeza de nada

Espero o fim do dia
Gosto de ver o escuro nascer

Sou melhor em escrever cartas de desculpa
do que pedi-la pessoalmente

gasto horas remoendo bobagens
guardo tristezas debaixo da cama

Tenho tolices pra dar e vender
sou a favor da verdade bem dita

Tenho medo de desaprender a sonhar.

Thiago Soeiro

Música de agora: Quando o Amor Florir – Poetas Azuis

QUANDO O AMOR FLORIR – Poetas Azuis

que a cor dos teus olhos
e teu cabelinho pra trás
sejam aquela poesia
da beleza que se faz
quando se lê um verso
sobre o amor mais bonito
que se pode sentir

não há manhã
não há nascer de sol
que não se renda
nessa renda que é amar
e quando o amor florir
seu coração vira jardim

Poema de agora: O Roubo do Velho Forte (Obdias Araújo)

O Roubo do Velho Forte

Tu sabias
que a Fortaleza
foi toda construída
no Curiaú?
Diz que o Sacaca
o Paulino e o Julião Ramos
vieram em cima da Fortaleza
varejando até chegar na beira do Igarapé Bacaba
onde amarraram a bichona na Pedra do Guindaste
e foram tomar uma lá
no boteco do sêo Neco.
Diz que o o Alcy escreveu uma crônica
E o Pedro Afonso da Silveira Júnior leu
Oito horas da noite
no Grande Jornal Falado E-2.
Diz que, né?
Diz que o mestre Zacarias
vinha em cima do farol
tocando um flautim feito
com as aparas da porta de ébano…
E que Dona Odália vinha fazendo
flores de raiz de Aturiá
sentada no maior de todos os canhões
brincando com a Iranilde
que acabara de nascer.

Diz que o Amazonas Tapajós vinha
cantando ladrões de Marabaixo
-ele, o Edvar Mota e o Psiu.
E o João Lázaro transmitia tudo para a Difusora.
Diz que até o R. Peixe pintou um mural
-aquele que ficou no pátio da casa do Isnard
lá no Humilde Bairro de Santa Inês
de onde foi roubado pelo Galego e trocado
por duas garrafas de Canta Galo
e uma de Flip Guaraná, lá na Casa Santa Brígida…
Hoje Macapá amanheceu bem
mais triste que de costume.
Roubaram a Fortaleza!
Levaram o velho forte! De madrugada
Dois ou três bêbados remanescentes
viram passar aquela enorme coisa boiando
rumo norte, parecendo uma usina
de pelotização.

Andam comentando lá
pelo Banco da Amizade
que foi o Pitoca
a Souza
o Quipilino o Pombo
o Zee e o Amaparino…
E que o Olivar
do Criôlo Branco
e o Cirão
estão metidos nessa história.
Eu, hem!

Obdias Araújo