Poema de agora: Salva-vidas (@ThiagoSoeiro)

Salva-vidas

O poema é meu salva-vidas
É nele que me apoio no alto mar das mágoas
nas tempestades de angustia
que o vento às vezes me traz
Quero me segurar nele por toda a vida
ser ouvido
sentido
constantemente salvo do afogamento
Deus ouve os poemas
assim como as orações.

Thiago Soeiro

Poema de agora: O coração da baleia – @ThiagoSoeiro

O coração da baleia

vou precisar
juntar todas as imagens
que fizemos do mar
e as vezes que colamos a
palavra saudade sobre
uma fotografia
de algum ser marinho
as suas palavras desenharam imagens
verbais em meus olhos
e isso me lembra que
quase tudo me faz chorar
perdoa esse meu
excesso de água
acho que tenho
dentro de meus olhos
um poema preso
engatado
em minha garganta
esperando
o momento em que você vai
segurar a minha mão.

Thiago Soeiro

Poema de agora: Fico – @ThiagoSoeiro

Fico

Eu fico entre o silêncio

E o som da tua voz
Um ruído novo

Neste mundo de
corações barulhentos

Fico entre os corais
e o teu maxilar
[Desviando todos os meus caminhos]

Ainda que eu desse
a volta ao mundo

Cairia bem aqui
No meio dos teus dedos

Às 18h
De um dia qualquer

Entre o beijo do poema

E o teu coração.

[Thiago Soeiro]

Poema de agora: Castanhos Falsos (Carla Nobre)

CASTANHOS FALSOS

Meu amor se desfez
Em três doses de uísque falsificado
Numa sexta feira chuvosa
Meu amor foi decapitado

Esfolado no asfalto do meu coração
Levou alvaitice na noite de lua partida
Duma sexta feira agua com açúcar
Meu amor se perdeu na área

De ponte da ressaca do Muca
Submergindo afogado no lixo
Meu amor que era capricho

Explodiu solitário em dezembro
Nos fogos baratos de artifício dos teus olhos
castanhos falsos que já nem lembro

Carla Nobre

Poema de agora: É o sistema, mermão!

sistema

É o sistema, mermão!

Em prol do desenvolvimento
E do progresso do Brasil
Vista grossa e mão molhada
Tudo certo, ninguém viu

E assim se vai passando
Da quitanda à empreiteira
Vão aos poucos se ajeitando
Quase de qualquer maneira

Até que estoure uma barragem
E inunde várias cidades
Até que tenha um apagão
E os hospitais não possam salvar os doentes
Até que contaminem a água
E a população sofra intoxicada
Até que incendeie uma boate
E mais de 200 morram sem razão

Todo mundo enxerga o problema,
Mas quem vai querer uma solução
Quando maior rigidez em tudo
Das obras à educação
Vão entravar todo o sistema
De facilidades e corrupção?

Graciliano Santos

Poema de agora: Mormaço – Poetas Azuis (Poema: O Amor Bate na Aorta – Drummond)

Mormaço – Poetas Azuis (Poema: O Amor Bate na Aorta – Drummond)

Cantiga do amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.

Meu bem, não chores,
hoje tem filme de Carlito!

O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.

Entre uvas meio verdes,
meu amor, não te atormentes.
Certos ácidos adoçam
a boca murcha dos velhos
e quando os dentes não mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cócega
o amor desenha uma curva
propõe uma geometria.

Amor é bicho instruído.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo corpos, vejo almas
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender…

DE PONTA CABEÇA – (Letra: Pedro Stkls / Música: Igor de Oliveira)

DE PONTA CABEÇA – (Letra: Pedro Stkls / Música: Igor de Oliveira)

Era uma noite sem estrelas
No céu do nosso amor
Onde tuas mãos não traziam o mar
Para afogar o que aqui
Só faz falta de ti

E hoje você é longe
E eu me componho
Da tua voz, do teu sotaque
E eu sempre penso
Em desfazer tua morada

De ponta cabeça
Talvez eu te esqueça