Poema de agora: Inverno – @AnaAnspach e @rostanmartins


Inverno

Há um tempo em que
As orquídeas não florescem
Mas, na minha mente
Seu perfume exala o ano todo
Sugerindo romance, pureza e poesia.
O inverno é o tempo da pausa,
Não há orquídeas, mas
Ainda assim, é da natureza
Que vem a energia vital.
Enquanto espero a época propícia
Mergulho na minha alma florida
E desperto na primavera.

(Ana Anspach e Rostan Martins)

Caminhada – Poema de Fernando Canto

Caminhada

Aos que caminham dentro de si e ainda se assombram

De manhã
Meu corpo
É longo
Em sua sombra
Caminhante

Ao meio-dia
Assombro-me
Em segredo
– Encolhidinho –
No equinócio
Da alma

À tarde
Eu me projeto
Rumo ao mar
Com o sol
A bater meu rosto
Nos umbrais da noite

E se um lado é luz
Que me orienta
E de outro
Meu rastro
É a escuridão

Sou, perdoem-me,
Um obscuro ponto
Na paisagem
Que me embala
Ao sol do dia seguinte.

Fernando Canto

Poema de agora: Origami – Manoel Bispo

Origami 

Pássaro azul, de papel mil vezes
redobrado
por mãos de fadas no artesanal e
terno invento
pássaro de planuras leves e canto
quebrado
ave-arte, cujo voo paira no vagar do intento.

Quantos planos afloram entre as
dobraduras
legiões de ângulos rasos como se
escondidos
nos ninhos feitos dessas mesmas
linhas puras
que a geometria acha nos seus elos perdidos.

Dobrar até a bela formatura sair do
abstrato
e o imaginário coração de pássaro
disparar
como dispara o coração de Goya
no retrato

E, se faltar alguma dobra na ave dita
e feita
que não seja o caso de medir ou comparar
posto que é ponto sabido: não há
dobra perfeita!

Manoel Bispo

Poema de agora: Memorial do fruto migratório – @juliomiragaia

Tela de Vladimir Kush

Memorial do fruto migratório

De tudo me abriguei no poço.
Afoguei assim, convicto e diáfano,
Meu tímido cadáver num tempo úmido
De desdouro e solidão.

Escolhi o esquecimento.
O pouco, o sono, o torto.
Um anjo intragável de interrogações
Intangíveis e pretéritos perdidos.

(Peito louco
De quedas e desmesuras.
Pequenos autocídios
mal alimentados)

Inacabo nesse porto
Vertebrado em coração,
Condensado de parênteses e pedras,
Relicário e reticência.

De tudo me exilei na pausa.
Parto ficando,
Intervalo de meus ossos
Nas sombras dos orvalhos:
O que não anda, nem descansa.

Anda nos meus poros
De demônio deprimido
O que devasta e o que constrói,
O que navega e o que se voa,
O que se beija e o que se basta.

De tudo, escolhi o fundo.
O fim, o si e a ré.

Escolhi a chuva,
Escolhi o chumbo,
Ir sem bússola ou búzio.

Escolhi o poço.
O cadáver,
O tempo rouco,
A queda, o pouco.

O torto, a pausa,
O basta e o porto.

E em poço é que me fui de ponte.
De carne-tronco, degustei do eco:
Matéria prima do que se foi.
O que conjura na palafita,
Passo-chuvoso do sol futuro
De alento morno.

Da ponte, escolhi o fundo
Do mundo que virá:
Alvorada de rubras cordas
A fulgurar tábuas e frutos.

Cidades a derribar,
Seguir para migrar.
Sorrir, sofrer: amar.
Durar, entrelinhar.

Júlio Miragáia

Poema de agora: Mormaço – Poetas Azuis (Poema: O Amor Bate na Aorta – Drummond)

Mormaço – Poetas Azuis (Poema: O Amor Bate na Aorta – Drummond)

Cantiga do amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.

Meu bem, não chores,
hoje tem filme de Carlito!

O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.

Entre uvas meio verdes,
meu amor, não te atormentes.
Certos ácidos adoçam
a boca murcha dos velhos
e quando os dentes não mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cócega
o amor desenha uma curva
propõe uma geometria.

Amor é bicho instruído.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo corpos, vejo almas
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender…

Poema de agora: Passarinho de Flor – Poetas Azuis

Passarinho de Flor – Poetas Azuis – (Pedro Stkls, Deize Pinheiro e Marcelo Souza)

vem, meu bem
vamos nos encontrar no amor
me serve do teu colo
a gente gira o mundo
e brinca de voar

hoje me veio a vontade de dizer
que você é tão bonito
quanto um jardim de setembro

e é do teu lado esquerdo
que quero me perder
me jogar de ponta de cabeça
e nunca mais voltar

deve ser porque
esse teu ar de passarinho de flor
que me deixa assim
sujeito ao teu amor

HOJE: professora lança livro de poesia retratando a realidade da educação no Amapá

A ideia era registrar a realidade que passa a educação no Amapá, e dessa vontade nasceu o livro poético “Versos Vivos – Uma História de Sonho e de Luta”, da professora e ativista de movimentos sociais Lia Borralho, que será lançado nesta sexta-feira, 14 de janeiro. Para a autora, é importante que a situação delicada pela qual passa a educação no estado seja abordada de forma diferente do ponto de vista jornalístico, por meio de uma publicação que outras pessoas tenham acesso, e escrita por quem vivencia os problemas acumulados nos últimos anos. O livro será lançado com música e declamação de poesias.

“É uma forma de expressar os sentimentos e dores vividas pelos educadores que sempre estiveram nas lutas por respeito com a categoria e por uma educação melhor para todos”, disse a autora. O livro fala do que vivemos ao longo dos últimos anos, e também de um cotidiano que passou a fazer parte da vida dos amapaenses, que é a insegurança dentro e ao redor das escolas. “É uma dor intensa que vivemos, como ao ver as escolas saqueadas e colegas e alunos vulneráveis e vítimas, por isso coloquei estes sentimentos para fora em forma de versos”.

Lia é amapaense, graduada em Letras pela UNIFAP e cursa pós-graduação em Educação de Jovens e Adultos pelo Instituto Federal do Amapá – IFAP. É co-autora do artigo “Aspectos e reflexos da territorialidade da ICOMI/CAEMI no espaço geográfico amapaense; e uma das autoras da coletânea de poesias intitulada “Poetas na linha imaginária”. Atua como professora de Língua Portuguesa e Literatura, da rede estadual de ensino, e é ativista dos movimentos sociais desde o movimento estudantil secundarista até o movimento sindical do presente.

Serviço:

Lançamento do Livro “Versos Vivos – Uma História de Sonho e de Luta”
Data: 13 de janeiro
Hora: 19h
Local: Calçadão dos Lacerdas, na rua São José, esquina com José Antônio Siqueira – Laguinho.
Poetas convidados: Kássia Modesto, Andréia Lopes, Carla Nobre, Patrícia Andrade.
Músicos convidados: Ingrid Sato, Mayara Braga, Lula Gerônimo, Dilan Rocha.

Mariléia Maciel – Jornalista