Poema de agora: Belém dos meus encantos (em homenagem aos 399 anos da capital paraense)

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Belém (PA) completa 399 anos hoje. Já fiz muitas ondas legais nessa cidade. Foto: Ewerton França.

Belém dos meus encantos

Lá vem Belém,
moreninha brasileira,
com perfume de mangueira,
vestidinha de folhagem.
E vem que vem,
ligeirinha, bem faceira,
como chuva passageira
refrescando a paisagem.

Lá vem Belém,
com suas lendas, seus encantos,
seus feitiços, seus quebrantos,
seus casos de assombração.
E vem que vem,
com seu cheirinho de mato,
com botos, cobra Norato,
com rezas, defumação.

Lá vem Belém,
recendente, feiticeira,
no seu traje de roceira,
na noite de São João.
E vem que vem,
com seus banhos de panela,
alecrim, jasmim, canela,
hortelã, manjericão.

Lá vem Belém,
a Belém dos meus encantos,
dos terreiros, Mães de Santo,
das crendices, do pajé.
E vem que vem,
com sobrados de azulejo,
vigilengas, Ver-o-Peso,
na enchente da maré.

Lá vem Belém.
No dia da Trasladação
vela acesa, pé no chão,
sempre firme em sua fé.
E vem que vem,
o povo implorando graça,
sempre que a Berlinda passa
com a Virgem de Nazaré.

Lá vem Belém,
junto de Nossa Senhora,
dia do Círio ela implora
saúde, paz e dinheiro.
E vem que vem
o povão, o povo inteiro
porque Deus é brasileiro
e Jesus nasceu em Belém.

Sylvia Helena Tocantins
Escritora e membro da Academia Paraense de Letras
Contribuição do jornalista Ewerton França.

Poema de agora: LITERATURA (Luc Araújo)

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LITERATURA

E a leitora
ainda hoje está perdida
em meio às histórias
de tantas gentes e mundos.
Tornou-se fonte e devaneio
para quem não quer ser mais
somente aquele da referência,
quer ser presença
na imaginação de quem lê.

Luc Araújo

Poema de agora: AMANHE-SER (Lara Utzig)

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AMANHE-SER

Ano novo, novo ano…
A vontade de traçar um distinto plano
Está dentro de nós:
Em cada despertar soturno,
Em cada pensamento noturno,
Cabe o desejo de mudar.
Em todo amanhecer
É um ano novo que está a nascer.
Não precisa esperar 365 dias,
Pois o réveillon é mera simbologia:
A disposição de seguir em frente
E fazer tudo diferente…
Depende somente da gente.

Lara Utzig

Cortar o tempo – Carlos Drummond de Andrade

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Cortar o tempo

“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente…

Para você, Desejo o sonho realizado.
O amor esperado. A esperança renovada.
Para você, Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.

Para você neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família esteja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas…
Mas nada seria suficiente…
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes…
e que eles possam te mover a cada minuto,
no rumo da sua FELICIDADE!!!”

Carlos Drummond de Andrade

Poema de agora: Manchetes (@ThiagoSoeiro)

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Manchetes

Caço teu nome nas manchetes de domingo
Combino as letras
Corto as notícias ruins
Até completar teu nome
Única parte que sei de ti
Imagino o que estaria fazendo hoje
Se gostaria de tomar um suco comigo
Jogar cartas ou ver um filme bobo na TV
Quem sabe só conversar como foi seu dia, o trabalho, os planos futuros
Mas o único som que escuto é do jornal em minha mão sendo cortado
Separando as letras de todas as manchetes
Só para formar o teu nome
Só para fazer de ti
A notícia feliz do meu dia.

Thiago Soeiro

Poema de agora: Viver (Andreza Gil)

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Viver

Viver sem precisar ter nome.
Viver sem contar os dias,
Sem vê o tempo esgotar.
Viver. Apenas viver.
Um, dois meses ou semanas, tanto faz.
O negócio é seguir em frente,
Quando possível junto, quando possível só.

Andreza Gil

Poema de agora: Conta-gotas (Lara Utzig)

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Conta-gotas

Chorei um rio
de lágrimas.
O bastante para afundar um navio
e preencher inúmeras páginas.
Depois de saber
com quantos paus se faz uma canoa
você conseguiria responder
com quantas mágoas se faz uma lagoa?

Lara Utzig

Poema de agora: É o sistema, mermão!

sistema

É o sistema, mermão!

Em prol do desenvolvimento
E do progresso do Brasil
Vista grossa e mão molhada
Tudo certo, ninguém viu

E assim se vai passando
Da quitanda à empreiteira
Vão aos poucos se ajeitando
Quase de qualquer maneira

Até que estoure uma barragem
E inunde várias cidades
Até que tenha um apagão
E os hospitais não possam salvar os doentes
Até que contaminem a água
E a população sofra intoxicada
Até que incendeie uma boate
E mais de 200 morram sem razão

Todo mundo enxerga o problema,
Mas quem vai querer uma solução
Quando maior rigidez em tudo
Das obras à educação
Vão entravar todo o sistema
De facilidades e corrupção?

Graciliano Santos

Poema de agora: TICKET (Lara Utzig)

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TICKET

No parque de diversões,
Em apenas um instante,
Encontro de corações:
O amor é uma roda-gigante.
Colorindo o azul do céu,
Não há como voltar atrás:
Quando se passeia no carrossel,
“Tum tum piii” é a onomatopeia que faz.
Carrinho de bate-bate?
Bate-bate o batimento.
Algodão doce é melhor que abacate,
Mas maçã-do-amor é o melhor alimento!
Quando se entra no chapéu mexicano
Os defeitos da amada começam a se revelar.
Eis que os destino é circo cigano:
O futuro só tende a desapaixonar,
Pois o amor também é montanha-russa…
Altos e baixos até enjoar.
Cedo ou tarde, servirá a carapuça:
O último ingresso é no brinquedo “Desencantar”.

(Lara Utzig)