O ÓBVIO
ainda que arrancassem meus olhos
não deixaria de enxergar
o desespero do cotidiano
pelas esquinas
bancos comércios
baixadas prédios
toda a desilusão
devidamente contida
caprichosamente disfarçada
os carros passam indiferentes
há uma morbidez aparente
e a poesia manifesta
somos mortos vivos
implorando por dias mágicos
músicas etéreas
pratos colossais
estamos à beira do caos
somos míseros poetas
rabiscando diante do cais
a desejar mares e horizontes
que não podemos alcançar
somos pássaros tristes
que mesmo fora da gaiola
perderam a vontade de voar
Pat Andrade