Categoria: Conto
Os lobos dentro de nós
Elton Tavares
Estratégia é Tudo
Esta foi a resposta:
Enquanto seu lobo não vem
O Dia do Diplomata e um conto sobre Vinícius de Moraes
O Castanho e o Deconforça
A lenda do açaí
Há muitos séculos atrás, muito antes da chegada dos portugueses ao Brasil, existia na região que hoje é chamada de Pará, uma tribo indígena muito numerosa. Como os alimentos estavam escassos, era difícil conseguir comida para toda a tribo. Então o chefe Itaki tomou uma decisão muito cruel. Resolveu que a partir daquele dia todas as crianças recém nascidas seriam sacrificadas para evitar o aumento populacional da tribo.
A “Invenção Sexual” do Zé Ramos – Crônica porreta de Fernando Canto
Por Fernando Canto
Todo mundo percebeu aflição do Zé Ramos naquela Quarta-Feira da Murta. O Marabaixo corria pela noite com as velhas senhoras rodopiando as saias coloridas pelo salão. O Zé suava tocando a caixa que a essa hora devia pesar uns cem quilos. Ele perguntava se chovia lá fora e se sua mulher ainda estava lá na cozinha tomando um caldo. Alguém disse que sim, então ele pedia mais um copo de gengibirra e esfolava a voz contando um velho “ladrão”, “do tempo do Ronca”, disse-me depois, pois “quando se entendeu” sua mãe já “tirava” todas essas músicas pelos salões da Favela e do Laguinho nas festas do Divino Espírito Santo e da Santíssima Trindade.
A aflição do Zé dava na vista, parecia que ele estava querendo vigiar a mulher, por ciúme e insegurança, afinal só tinham se casado há dois anos. Ela era morena, jovem e bonita, vestia uma bela saia rodada e uma blusa branca de cetim ornada de rendas. Os cabelos ondulados estavam esticados para trás e enfeitados com uma rosa vermelha de plástico e umas folhas de murta presas atrás da orelha esquerda. Usava um cordão e brincos de ouro, além de inúmeros braceletes prateados que emitiam sons quando dançava, muito sem graça, diga-se, pois era extremamente pudica. Devia ter um corpo escultural debaixo daquela saia estampada de flores coloridas. De vez em quando tirava a toalha do ombro para enxugar o rosto suado e os olhos sem maquiagem alguma. Para isso precisava tirar os óculos de grau que lhe davam um ar sério e uma aparência austera, ainda mais com aquelas sobrancelhas densas e negras. No gesto de enxugar os olhos é que a sua beleza se mostrava por segundos. Ela nem dançava na hora do “dobrado”, a parte rítmica mais acelerada do Marabaixo, que exige dos dançarinos preparo físico e destreza. Nesse momento as pessoas que assistem a dança ao redor do salão ficam excitadas assim como os dançantes. Flashes explodem quando as mulheres gritam alucinadamente rodando em volta dos tocadores de caixa e sobre si mesmas, mostrando os trajes de baixo, enquanto os tambores rufam o ritmo africano.
Mas o Zé permanecia tocando com a evidente gastura que lhe tomava conta da alma. Ele viu a mulher e não se sossegou. Nem quando ela, num gesto de amor, foi lhe enxugar o rosto salpicado de suor. E sem perder o ritmo falou alguma coisa no ouvido dela, apontando para cima. Ela sorriu e assentiu com a cabeça. O Zé acompanhou mais um “ladrão”, entregou a caixa para outro tocador, pegou a bicicleta e a mulher e foi embora embaixo do chuvisco sem se despedir de ninguém.
No dia seguinte encontrei o Zé todo sorridente lá no corredor da prefeitura. Disse-lhe que tocava e cantava muito bem, mas que havia notado nele um comportamento completamente oposto ao que via agora. Perguntei-lhe se estava realmente bem. Ele disse que sim e depois me alugou o ouvido, me confidenciando sua vida íntima com detalhes.
Disse-me que a sua jovem esposa só gostava de fazer amor quando chovia. Era uma poetisa maluca – com todo respeito aos poetas – que adorava ouvir o barulho da chuva caindo sobre o telhado de Brasilit e se imaginava tomando banho nua, correndo pela rua, a tarada. A água era seu mundo, a chuva seu prazer maior. Só conseguia chegar ao orgasmo quando a chuva batia e escorria pelos sulcos do telhado. Quanto mais forte a chuva maior era a transa. Indaguei-lhe como fazia no verão. Ele me disse que quase acabou o casamento quando inventou um intrincado sistema hidráulico que sempre ligava nas noites quentes para enganar a mulher, jorrando água da Caesa sobre as telhas de amianto. Gastou um bom dinheiro, mas valeu a pena.
Quando ela descobriu a tal invenção ficou de mal com ele a estiagem toda, que não foi curta. Agora ele torce para que chova todo dia, assiste aos telejornais e as previsões do tempo, para descontar desde já o “atraso” que terá no próximo verão.
Dia desses encontrei com ele e seu inseparável guarda-chuva. Falei: – E aí, Zé? Estás feliz com esse toró que vem aí? Ele respondeu: – Nãão, é cuia!
Será abdução?
Por Raoni Holanda e Elton Tavares
Além das aparições, fontes garantem que diversas pessoas ficaram parcialmente loucas, remexendo o corpo de forma ridícula e repetindo mantras de outro mundo como “Faz o T” ou dizendo nomes de pedras preciosas, como o “Rubí”. Seria algum tipo de abdução?
Conforme as vítimas, as naves possuem forma de “aparelhagem”, cruzes! Tal termo denomina uma engenhoca com muitos, muitos alto-falantes juntos, que emitem uma espécie de tortura sonora para ouvidos mais apurados. Estas Naus seriam pilotadas por seres de calcinha preta, do planeta Calpso.
Alguns, mais religiosos, afirmam que as pessoas que viram o fenômeno foram vítimas de possessão demoníaca e encaminharam as vítimas para o pastor mais próximo. Aconselhamos aos abduzidos que escutem boa música, rock, samba (samba NÃO é pagode) ou MPB, a fim de minimizar os efeitos do ocorrido. Se possível, um pouco de leitura ou viagens, para os efeitos não retornarem jamais.
Apesar de um grande número de pessoas confirmarem a aparição dos Óvnis em Macapá, até o momento não existe nenhuma sustentação da realidade nos depoimentos colhidos, nem através de vídeos, fotografias ou semelhantes. Nenhuma autoridade local pronunciou-se sobre o ocorrido.
Alertamos que, as vítimas que não seguirem as instruções para a desintoxicação das abduções, sofrerão conseqüências catastróficas e irreparáveis, pois nunca conseguirão curar-se. Elas tentarão reproduzir as naves em seus automóveis, a fim de engrossar as fileiras do fatídico destino, tornar-se um apreciador da sonoridade. Fooooda-se!
- « Anterior
- 1
- …
- 19
- 20
- 21