Discos que formaram meu Caráter (Parte 52) – Replicantes … “O Futuro é Vortex”  (1986) – Por Marcelo Guido

Salve moçadas esperta, amantes do rock and roll e afins, o viajante dos discos, notas solos e riffs está de volta como prometido trazendo mais uma belo disco,  mais um singular artefato sonoro que de certo mudou vidas e ao menos colocou pra poguear e dançar uma única vez.

Falo sem mais nem menos de “O Futuro é Vortex”, álbum de estreia dos caras do Replicantes, palmas muitas palmas pra ele.

Na ativa desde 1983 a gauchada do Replicantes já estava dando o que falar lá pelas bandas do sul do país, a cena de Porto Alegre é realmente um verdadeiro celeiro de bandas boas e nessa época estava em verdadeira ebulição.

Os caras já botavam pra arregaçar no lendário bar Ocidente, já tinham gravado o clipe da maravilhosa “Nicotina” e estavam estouradíssimos na Ipanema FM e começavam a  chamar a atenção do restante do Brasil. Em 1985 os caras participaram da excelente coletânea “O Princípio do Nada”, quando mostraram um excelente e bem apimentado punk rock nacional, ou seja, já se fazia punk de qualidade no Brasil fora de São Paulo.

Chega o ano de 1986, o Rock estava com tudo nas rádios e nas cabeças libertárias da juventude nacional, Rock in Rio tinha rolado um ano atrás , o país era governado pelo vice Sarney, o Tancredo tinha remado pra beira, um gosto de mudou mas nem tanto já pairava no ar, mas rock ainda encontrava um celeiro farto para continuar na crista da onda e dominar as paradas.

Neste contexto, os caras da banda conseguem um contrato com a RCA e se mandam para São Paulo, a Meca do Punk no Brasil e entram em estúdio para registrar pela primeira vez um disco e assim se deu o nascimento de “O Futuro é Vortex”.

Sem mais delongas vamos dissecar a bolacha:

O disco começa com nada mais nada menos que “Boy do Subterrâneo”, o encontro com a mudança na vida de todo jovem. “Surfista Calhorda”, a vil e estruturada farsa da juventude bem nascida, foi barrada pela banda no disco de covers do Lobão, ponto pra eles. “Hippie Punk Rajneesh”, uma crítica ao status quo que a sociedade impõe para todo mundo. “One Player”, opinião que se tem, você faz suas escolhas. “ A Verdadeira Corrida Espacial”, a dúvidas das incertezas que se colocam presentes na vida, pra onde vai o mundo. “O Futuro é Vortex”, imponente não a toa dá título ao disco. “Choque”, a desilusão com tudo que acontece na vida, nada mais punk que um choque de realidade. “ Ele quer ser Punk”, a vontade de destruir e reconstruir tudo. “ Motel de Esquina”, uma história de amor. “ Mulher Enrustida”, os desafios e as decepções da noite “ Hardcore”, bem explicativa, o mundo que morra. “ O Banco”, o assalto que sofremos. “ Censor”, a busca por justiça contra quem nos amordaçava. “Porque  Não”, uma crítica coesa a música brasileira.

Puta que pariu, um pouco mais de meia hora de uma verdadeira aula de rebeldia que todo mundo precisa, letras coesas e instrumental mais que bem trabalhado (contém demais ironia). Medalha de ouro para esta puta míssil sonoro. Eleito pela Rolling Stone o oitavo melhor disco de punk rock Tupiniquim. Se tu não conheces, tua medalha de foda corre um sério risco.

Wander Wildner, Claudio e Heron Heinz e Carlos Gerbase simplesmente conceberam uma verdadeira obra prima que deveria ser exibida nas escolas. Visceral, humano e cru como um verdadeiro disco punk.

Conheci essa bolacha ali por 94 ou 95, tinha lá meus quatorze pra quinze anos e realmente foi um estouro na minha cabeça de moleque, que na época recém saído das asas já estava nas ruas sendo um punk. Realmente foi uma época de muito aprendizado nas  universidades da vida.

Ainda hoje quando  vejo o pessoal da Stereo Vitrola (excelente banda) fazendo um cover contundente de “Surfista Calhorda”, ou vejo o Renato Punk um Wander Wildner Tucujú ( com uma personalidade estética similar mas diferente, os fodas vão entender) eu lembro dessa época.

O “Futuro é Vortex” é um disco essencial para quem se mete a entender o Rock Nacional, atemporal soa como se Ramones tomassem chimarrão e tomassem cerveja polar.

Vida longa ao Punk Rock.

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *