Poema de agora: O ESPANTALHO SÓ – Pat Andrade

O ESPANTALHO SÓ

Adquiri um espantalho.
Está sempre a espreitar
Quando chego ou saio…
Instala-se na janela,
Pendura-se no teto
e de onde está
Me conta em silêncio
O quanto se sente só.
E vai tecendo teorias
Sobre o que pode fazer
Sendo um feio boneco.
Me olha cabisbaixo
Com seu olho de botão
E pergunta tristemente
Se não me canso da solidão

PAT ANDRADE

Poema de agora: ETERNA BUSCA – Pat Andrade

 


ETERNA BUSCA

saio a procura de cores
para pintar meus sonhos
já carcomidos pelo tempo…
sorrateiramente,
subtraio luz de estrelas
que se perdem no vagar.


percorro florestas
para colher matizes
de folhas ao vento.
mergulho em rios e igarapés
para capturar a tinta fugidia das marés
do céu, retiro suavemente
pedaços de nuvens
e retalhos de arco-íris.


aos poucos,
meus sonhos ganham cor,
mas imediatamente
vão perdendo a forma
para me lançar em nova busca…

PAT ANDRADE

Poema de agora: GAVETA DA MEMÓRIA – Pat Andrade

GAVETA DA MEMÓRIA

desdobrei
uns pedacinhos de passado
que encontrei largados
no fundo da gaveta da memória…
amarelados e roídos pelo tempo
gritam minha história
acordando paixões


batendo o tambor do coração
tremendo minhas mãos…
frente a frente com o passado,
esqueço o presente
e brinco de futuro…

Pat Andrade

Poema de agora: Estúpido Cupido – Pat Andrade

Estúpido Cupido

[um dia]
Na estrada vermelha,
um menino nu
me olha de esguelha…

[outro dia]
Na estrada de terra,
me aponta sua flecha
faz a mira, mas erra…

[outro dia]
Na estrada de chão,
arrisca de novo no alvo:
errou o meu coração…

[nos outros dias]
Na estrada da vida,
sigo só, sem amor,
com passagem só de ida…

Pat Andrade

Poema de agora: ÚLTIMA MODA – Pat Andrade

ÚLTIMA MODA

dobrei numa esquina do tempo
e dei de cara com a vida.
não gostei do que vi.
tomei outra rua,
outro atalho,
outro túnel.
atravessei preferenciais,


furei sinais,
perdi o freio,
perdi a hora,
perdi o rumo.
ando agora sem memória,
sem lembrança,
sem passado,
e sem futuro…

caminho sobre o nada…

olho as vitrines
que me oferecem
a última moda
em camisa de força…

PATRÍCIA ANDRADE

Poema de agora: Rastro de estrelas – Pat Andrade

Rastro de estrelas

é tanta estrela
no céu da Amazônia
que – ai, meu Deus! –
nem cabe…

o menino ribeirinho
que com elas sonha
– ai, meu Deus! –
ele sabe
e conta pra gente
que o rastro de luz
que brilha
sobre as águas
é – todo ele – feito
de estrelas cadentes
que resolveram tomar
um caminho diferente.

Pat Andrade

Poema de agora: Festa para Pammela – De Pat Andrade para sua irmã

Pammela Andrade, irmã da poeta Patrícia Andrade

Festa para Pammela

mesmo que não tenha festa,
faça a sua.
uma festa particular,
onde possa festejar a vida.
Festeje as conquistas;
Mesmo as pequeninas
(às vezes essas são as maiores).
Festeje as descobertas;
Mesmo as que todos já sabiam
(e você nem desconfiava).
Festeje seus frutos.
Eles fazem parte de você.
(e um dia não estarão mais à sua sombra).
Festeje a vida dos que estão ao seu redor:
Eles fazem você ser quem é.
E, finalmente, festeje-se!
Você é a pessoa mais importante da sua vida!

Pat Andrade

Poema de agora: O VENTO DE PIRRAÇA – Pat Andrade

O VENTO DE PIRRAÇA

no azul do céu,
uma nuvem menina passa…
flutua com graça…
mas, o vento,
ciumento (que desgraça!),
de súbito a esgarça.
a menina despedaça…
o malvado disfarça


e segue sua farsa:
passa o seu tempo
dedicado à caça;
logo, logo,
outra nuvem menina
esvoaça…
ele vai lá e a escorraça.
só pra fazer pirraça

Pat Andrade