Crônica de Lorena Queiroz
Dia desses eu estava bebendo sozinha em casa. Sim, eu adoro fazer isso. Gosto muito da minha companhia. Posso passar um dia bebendo sozinha, dançar, cantar e rir como se estivesse em uma rave. O que a gente precisa nessa vida é de um alucinógeno e música. Nietzsche disse certa vez que só acreditaria em um Deus que soubesse dançar. Eu também, bigode. Eu também.
Acredito que por isso, nestes momentos de solitude, muito diferente de solidão, a música é tão importante como fiel companheira. E dentro dessa sintonia entre álcool e música, tem uma trepada prazerosa que acaba parindo a literatura. Acho que é por isso que eu gosto tanto de beber e ouvir música.
Estava ouvindo 1979 do Smashing Pumpkins e um amigo recente me disse que sabia que eu era gente boa quando prestou atenção nas músicas que eu escutava. No filme Mesmo se nada der certo, a personagem da Keira Knightley diz que você pode descobrir tudo sobre uma pessoa só olhando a sua playlist de músicas. Acho que de certa forma a personagem acertou, ao menos comigo é assim, mas acredito que esse reconhecimento só é possível à pessoas que possuem certa sensibilidade, pois nem todo mundo dá a mesma importância às coisas. Talvez por minha trilha sonora estar tão conectada ao que eu sou, é que eu dou. Eu canto Vaca profana por um trecho que me define: “Respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minhas risadas”. Gilberto Gil me ajuda a limpar a casa andando com fé, que a fé não costuma falhar. Eu lembro de amigos dançando com uma touceira de mato na bunda ao som de Morrissey. Eu danço com Ian Curtis até hoje. Repenso a vida com Krishna Das. Vibro com meu parceiro da vida, Belchior. Brindo com Marisa Monte.
Vejo minha filha dançar com Tim. Revisito toda uma vida com Chico, Vinicius e Tom. E todas as memórias de inícios retornam com Beto Guedes, Milton Nascimento e Lo Borges. Lembrar de todas as vezes que fui a Salinas com meu pai ouvindo Noite ilustrada. Uma colcha de retalhos cheia de sons e poemas.
A maioria dos escritores que conheço estão diretamente ligados a essa junção; a empolgação que Cortázar tinha pelo Jazz e que explode como tomadas em suas obras. Nosso velho safado completamente embriagado e genial. E o nosso amigo Fernando Canto? Esse é literalmente um megazord de música, birita e literatura.
Então é isso, leitor. Abra sua garrafa, ou qualquer alucinógeno da sua preferência, ou os dois, e escute a sua canção. Não sei o que essa música vai te dizer e também não é da minha conta. Eu nem sei o que eu queria escrever aqui. É só mais um dia em que eu estou bebendo e escutando a minha playlist.
*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora, contista e cronista. E, ainda, mãe de duas meninas lindas, prima/irmã amada deste editor.