Como a psicologia pode contribuir para a compreensão sobre a política?


Em primeiro lugar é importante reconhecer a Natureza contraditória da política. O grande desafio da política é sair do particular e chegar ao coletivo. Isso também se aplica de certa forma à psicologia, pois é uma prática que deve levar o individuo à emancipação e à sensibilização das necessidades dos outros sujeitos com quem convive.Isto é, ser ele mesmo sem prejudicar o outro.

É uma postura que quebra com a dicotomia entre individual e coletivo, pois propõe a compreensão de interdependência entre essas dimensões. Individuo era chamado de Idion, idiotes = individuo absoltamente singular. 

Esta interpretação coloca um desafio para psicologia contemporânea que de certa forma sofre os impactos dessa dicotomia, e tem o mesmo desafio da política: sair do particular e chegar ao coletivo. É um erro pensar a psicologia para o individuo, assim como é um erro pensar a política para um individuo ou determinado grupo. É preciso entender a dialética entre o individual e coletivo e incorporar essa relação sem cair no erro “didático” da dicotomia. 

A política é má interpretada devido ao pensamento reativo ao invés de critico-reflexivo. É preciso o pensamento crítico, segundo Marco Aurélio Nogueira.

A política é movida pelo poder. Segundo Nogueira, ajuda a domesticar a arrogância e autoridade, pois é a organização das diferenças. Não necessariamente o poder que gera opressão, mas aquele que significa possibilidade de transformação/decisão. 

Nesse aspecto é preciso reconhecer as representações sociais de poder na sociedade capitalista, que em última analise é de natureza econômica. Queremos dinheiro, porque significa poder. Isso causa impactos importantes nas práticas políticas e na personalidade, no caráter, na qualidade dos sentimentos humanos, enfim no psiquismo. 

Desta forma, a psicologia se aproxima da política, no que diz respeito à organização de sentimentos e necessidades. A vida política de alto nível (crítica, participativa, preocupada com o coletivo) exige uma reforma pessoal séria, e isso só acontece com o reconhecimento das necessidades pessoais e coletivas numa relação dialética e de contínuos processos de superação das contradições implícitas nessa relação. 

Reforma pessoal é o que acontece num processo terapêutico. Daí a importância do trabalho do psicólogo. É preciso ter a consciência que estamos formando pedagogicamente cidadãos.

Debater sobre psicologia e política pública é reconhecer essa íntima relação e também privilegiar a suspensão do cotidiano da pratica profissional do psicólogo, que significa dizer, valorizar o ser humano na sua integralidade (bio-psico-social-político-espiritual).

Assim sendo é preciso assumir uma postura crítica diante de práticas (emancipatórias /assistencialistas), ênfases (curativo/preventivo) e possibilidades de transformações (não de reprodução da lógica de opressão).

O psicólogo deve atuar antes de tudo pela libertação do homem (mesmo que isso seja uma fantasia) e a significação de sua existência, e a política pública deve dar o suporte para que isto aconteça!

Janis

O fervoroso debate virtual


Hoje (20), li um “debate” interessante no Facebook, a rede social mais popular de 11 entre 10 internautas. O “feice”, para muitos. Como sempre acontece, a discordância promove o choque de ideias e ajuda na construção do conhecimento. Isso é bom. Mais legal ainda quando megalomaníacos começam a discorrer sobre um determinado tema e usam muito “eu fiz isso” e “eu sou isso”. Uma verdadeira guerra egocêntrica. 

Neste caso, ambas as partes possuem conhecimento, menos do que acreditam, mas possuem. Eles detonaram com suas sacadas brilhantes (ou que acham que são) para atender os anseios do “ego descontrol”. Sim, trata-se de debatedores estrelas, verdadeiros gênios entre os bestas. Tudo com licença poética, observações sacais, estado emocional artístico (pura viadagem) e muita indagação. Aí é que a galera curte, pois todo mundo quer mesmo é “ver o oco”. 

Eu já protagonizei várias discussões virtuais no falecido Orkut, morto pelo “feice”. A diferença é que na extinta (já que ninguém mais a usa) rede social, este blogueiro brigava mais por diversão do que ideologia (muitos querem uma pra viver, já dizia o saudoso poeta). É, adoro discutir sobre cultura, política, filosofia, futebol, cinema e também uma boa conversa fiada. Se for num bar então, é festa! Mas sem aquele “quê” de frescura. 

Voltando a referida discussão, os figuras botaram suas insatisfações na roda. Falaram de música, política, imposição e manipulação, uma briga boa de se ler. Lembrei da porrada no blog “A vida é foda”, do meu amigo Silvio Carneiro, do meu embate com o Marco Leal no Orkut e o combate do Lênio Mont’Alverne contra internautas carolas. Tudo lavagem de roupa suja das boas, mas com ótimas argumentações.

É, querido leitorado, foi muita onda! Uma forte boçalidade intelectual no centro da coisa, umas prolixidades pra lá, pitadas de ironia fina pra cá e, é claro, total falta de humildade. Muito massa, melhor que ver briga de rua (sim, gosto de ver uma ondinha de vez em quando, e daí?). Neste caso, foram ganchos, cruzados, jabs e diretos. Porreta!

Lembrei-me de um maluco que conheci nos as 90, que dizia que “humildade é para os fracos”. Ainda acredito que ela não faz mal á ninguém. No fundo, concordo um pouco com cada um deles, talvez mais com uma parte de que com outra, mas prefiro bicorar as alfinetadas. 

No final das contas, entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Pois os egocêntricos debatedores nada sofreram e para a nossa alegria, continuarão a trabalhar pela cultura amapaense.  

Vamos ver se a coisa continuará. Tomara que sim. 

“Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!!!” – Millor Fernades.

Elton Tavares

O equilíbrio subliminar


Gostamos muito de reclamar do clima e Deus deve perder a paciência conosco. Então, num momento seria bom que no fim de semana chovesse porque assim seria melhor para namorar, com sol para organizar um churrasco com os amigos…  (Se você estiver em Macapá tem o privilégio de optar, só depende da sua vontade de se deslocar para a zona norte ou sul, se estiver com sorte).

Reclamar do trânsito é preferência nacional, isso é racionalmente impossível, mas aparentemente vivemos em uma fábula onde o trânsito é um serial killer. Tem vida própria e se levanta todos os dias pela manhã para fazer vítimas em qualquer lugar do mundo. Isentamos as pessoas responsáveis por guiar seus automóveis, bicicletas, passos ou animais de estimação pelas vias públicas. Não é culpa delas, é do monstro! 

O que seriam das manchetes dos jornais paupérrimos sem criatividade com letras garrafais se não fossem as atrocidades cometidas por esse cara, o trânsito?

Protestamos contra mulheres, por serem gordas, outras magras demais, feias ao extremo, bonitas em excesso, bem vestidas, gastadeiras, na última moda, “démodé”, mãos de vaca, mal amadas, invejosas, deslumbradas, ingênuas… 

Resmungar sobre os homens com sua visão além do alcance para dirigir e olhar as pernas e bundas que desfilam pelas calçadas, das manias e gostos sobre tudo, pelos interesses no que não nos provoca interesse algum. O pior é nos interessamos seriamente por esse tipo… 

E, quando discorremos negativamente em frente ao espelho sobre nós mesmos, do peso, emprego, das rugas, dos cabelos, da falta de experiência, do medo de envelhecer, da bunda e peitos grandes ou pequenos, depende do que temos vontade de usar, blá, blá, blá. 

Ah!… Cansei de imaginar do que reclamamos todos os dias.

A força das iniciativas dos defensores das causas igualitárias é válida, e era disso que conversava a boca pequena com um amigo muito amado. Mas, desde a faculdade percebi que as coisas não tão boas, assim como os profissionais ruins e toda aquela lista quilométrica que você tem aí guardada em lugar seguro do seu modelo ideal de mundo, são o mal necessário. 

Os sentimentos verdadeiros que instigam o raciocínio lógico, as paixões avassaladoras, aquilo que te move rumo à realização dos seus sonhos, a vulnerabilidade das relações, tudo precisa acontecer para se ter noção do que é certo ou errado, ideal ou imperfeito, bom ou ruim e, mesmo que tenhamos isso de ter isso em mente, sempre arrumaremos algo para reclamar.

Faz parte de um todo no qual somos insignificantes.

Se tudo e todos fossem sempre tão perfeitos, com os mesmos propósitos, pensamentos, manias, cores preferidas e diálogos, seria algo muito parecido com o céu ou o paraíso. 

Que saco! 

PS – Rs rs.

Hellen Cortezolli

O Manicomiometro!


Hoje (18), é o Dia Nacional da Luta Antimanicomial( movimento pela reforma psiquiátrica no Brasil). Mas há que pergunte:

“Antimanicomial? Mas o Amapá não tem história de manicômios!”

Em certa medida isto é fato, mas não é a verdade.

A verdade é que nós, militantes do movimento da luta antimanicomial, que começou na década de 1980 no Brasil, reivindicamos a substituição gradativa dos serviços hospitalares de longa e eterna duração para serviços alternativos e outros dispositivos comunitários, baseados na crença de que a saúde está entre nós, e não longe de nós, isolada em uma instituição de muros altos e intransponíveis.

Bem, a verdade é que este termo ANTIMANICOMIAL, que meus alunos já aprenderam a falar bem rapidinho (rs), não se refere somente a desconstrução do manicômio-instituição, que havia em algumas capitais do país e que se especializaram em serem depósitos de seres humanos (sim, os loucos são seres humanos), se refere principalmente ao manicômio dentro de nós, construído por nossas crenças, preconceitos, representações sociais, inscritas na ideologia da competição, da relação eu-coisa.

Já disse uma vez e repito, entrar neste movimento mudou minha vida. Hoje sou uma pessoa um pouquinho melhor, ou pelo menos tento ser, por conta de ter compreendido o seu proposito até hoje, a cada dia, tento tirar mais um tijolo de preconceito, de julgamento-condenação com relação ao mundo a minha volta.

Mas voltando a minha explicação, o dia 18 de maio é uma data em que comemoramos uma luta incansável contra tudo o que se intitula saber absoluto, toda “verdade” que nos baseamos para julgar as pessoas e as coisas conforme nossas referencias. Não desejo que joguemos fora tudo em que acreditamos, mas que ao menos façamos uma revisão delas de vez em quando, pois como acreditava Paulo Freire, para sair da consciência ingênua é preciso fazer a critica:


[…] profundidade na interpretação dos problemas. Pela substituição de explicações mágicas por princípios causais. Por procurar testar os “achados” e se dispor sempre a revisões. Por despir-se ao máximo de preconceitos na análise dos problemas e, na sua apreensão, esforçar-se por evitar  deformações. Por negar a transferência da responsabilidade. Pela recusa a posições quietistas. Por segurança na argumentação. Pela prática do diálogo e não da polêmica. Pela receptividade ao novo e pela não-recusa ao velho, só porque velho, mas pela aceitação de ambos enquanto válidos. Por se inclinar sempre a argüições. (FREIRE, 1980)

Ser antimanicomial é respeitar as diferenças CQC! É compreender que nem tudo precisa ser definitivo, nem minha opinião. Olhar para as pessoas e não para os rótulos que colocamos nelas ou das crenças que nos subsidiam o julgamento e a condenação indelével. É ter a certeza que pessoas erram, se não errassem não seriam pessoas! Saber que precisamos nos ENCONTRAR MAIS, e não simplesmente corresponder às expectativas uns dos outros. E por ai vai… 

Daí, eu estou criando o MANICOMIOMETRO, que é uma espécie de termômetro que acusa apitando toda vez que fazemos exatamente a contrario dessas coisas acima descritas. 

Eu desejo que cada um de nós desenvolvamos o nosso MANICOMIOMETRO, que ele apite toda vez que nos esqueçamos que somos seres humanizáveis, como afirma Ciampa, e por isso podem haver processos e práticas que nos humanizam ou nos desumanizam!

Saudações ANTIMANICOMIAS!

Intervenção Loucos por cidadania, dia 18.05 pela parte da manhã na rua Candido Mendes! Passem lá!

Janisse Carvalho – Educadora

O Bode expiatório segundo Millor


“Bode expiatório. Designação de uma pessoa sobre quem recaem todas as culpas. Uma vez estabelecido como bode passa a viver a síndrome’ de “Um cão danado, todos a ele”. 

A explicação está no Levítico: no Dia da Reconciliação o sacerdote lançava a sorte sobre dois bodes, um “para Jeová”, outro “para Azazel’. O bode de Jeová era sacrificado e seu sangue borrifado sobre os fiéis, como mercê. Sobre o outro bode o sacerdote lançava todos os pecados do povo. Logo uma pessoa especialmente escolhida levava o bode pro deserto e o soltava ali. 

Por isso mesmo em algumas línguas, como o inglês, ele é chamado de Bode escapatório (*). O que poucos sabem é que existe também a expressão “Bode exultório”, pessoa acima do bem e do mal, de quem se perdoa tudo e a quem se permite qualquer coisa. Como por exemplo… ah, deixa pra lá. 

(*) Palavra puxa palavra: escapar, sair do perigo, vem mesmo de “deixar a capa” (quando a pessoa era agarrada pelo inimigo). A cadeia etimológica, até chegar ao português. É extremamente complexa, mas comprovada.”

Millor Fernandes, no livro “A Bíblia do Caos”. 

Livros de Auto ajuda!


Livros de Auto ajuda!Eu queria saber quem inventou essa classificação!Na boa, auto ajuda é um processo meu! O que penso que acontece é que imbuídos pela postura cientificista de alguns sujeitos que utilizam essa nomenclatura para desclassificar os conteúdos desse tipo de obra.

Eu costumo ler alguns desses livros e outro dia uma amiga me perguntou: “mas isso não é auto ajuda?” Eu disse que não! Pra mim são leituras que alguns autores fazem de princípios filosóficos clássicos que está a disposição de todos. Se são interpretações pobres ou EU não concordo com essa ou aquela forma de colocar as idéias, eu tenho todo direito. mas classificar de auto
ajuda é dose!

Lembrei da história de Lutero, quando traduziu a Biblia para sua língua. Até hoje se discute a questão das várias interpretações deste livro por causa dessa “facilidade”. Pra mim, são apenas meias verdades, assim como o cientificismo também se vale do posto de “dizer a verdade”, por que não um sujeito comum que assim como o cientista também tem interesses econômicos?!!!

Pra agradar a todos eu falo sobre a importância de referenciar o nosso ponto de vista. De que paradigma eu falo? Quais posturas eu tomo como verdadeiras para propagar uma verdade? Dai tudo tranquilo. O problema surge quando queremos IMPOR verdades e modelos de pensamento aos outros e ainda por cima os tachamos como indolentes, senso comum, sem base cientifica. Putz, se na própria ciência, na academia, existem as divergências de pensamento. 

Há aqueles que provam que Deus não existe e os que provam que ele existe! Quem está certo? O detalhe é que não preciso falar SÒ de um ponto de vista!

Bem, eu é que não estou. Essa é apenas uma das minhas verdades de passagem, pois enquanto viver quero continuar sendo “uma metamorfose ambulante” e não ter certeza de nada! “Só sei que nada sei” (eita porra, agora eu reproduzi um monte! Bem vindo à contradição humana! Rs)

Janisse Carvalho, psicóloga e professora universitária.

De repente

                                                                                       Por Lígia Cândido

De repente, você vê que aprendeu várias coisas. Mas não foi “de repente”, foi aos poucos. “De repente” não quer dizer que você aprendeu rápido. Quer dizer que você não percebe que está aprendendo, até que aprende.

Você olha para suas fotos antigas e não consegue se enxergar. Você lembra de frases ditas e atitudes tomadas e as trata como se fossem de um outro alguém. Você aprende que não à amor que não acabe, doença que não se cure e estrada sem fim. O caminho, sim, é sem fim. Basta torcer para estar percorrendo o caminho certo.

Basta perceber que o seu caminho é errado e esperar pelo próximo retorno. É uma estrada de duas mãos. De repente, você se sente cansado de tanto aprender. Quando, na verdade, você está é cansado de estar rodeado de gente que não aprendeu porra nenhuma.

A regra é clara!


Em curioso ouvir o discurso do mercado, que fala por meio de seus representantes mais sublimes: o gerente. Este porta voz ousa querer nos convencer de que ser ético é jogar na real. Sai dizendo por ai que tem os olhos voltados para as pessoas e para os resultados. E isso é possível? Há quem acredite que é! Assim como há quem acredite em papai noel, coelho da pascoa, em vida após a morte, em morte definitiva, em concorrência leal…

Para mim isso tudo é mais uma grande fantasia humana. Vivemos para realiza-las!

Pois bem, ou você se encaixa ou eu te despacho! Ponto.

Só tenho mais uma coisa a dizer sobre isso: a regra é clara! Ser Humano não é máquina que se adequa a processos milimetricamente coordenados e planejados. Ser humano se desumaniza quando antes das pessoas vêm as leis e regras! Ser humano se embrutece quando o que importa é o lucro. 

Por falar em regras, eu não desacredito em todas, não sou tão rebelde quanto pensam ou o quanto eu gostaria de ser, existem algumas em especial que ainda busco seguir:

Regra 1: Máquina não tem criatividade; Regra 2: Máquina não pensa por si; Regra 3: Máquina é sempre dependente; Regra 4: Máquina acredita que é livre e feliz (principalmente quando vislumbra aquele aumento no salario por ter seguido efetivamente os padrões!); Regra 5: Máquina não sente, não adoece, não se aborrece, não ama.

Se burlar estas regras é realizar sonhos, eu prefiro ficar acordada!

Se formos ler a história da humanidade, quantas desgraças já aconteceram, provocadas pelos próprios homens, dito racionais (hahahahahaha…), que não seguiram essas regras!

Maria Helena

Vinícius sabia das coisas ….



“Chore, grite, ame.
Diga que valeu, que doeu, que daqui pra frente só vai melhorar.
Perdoe, insista, ame novamente.
Não leve a vida tão a sério.
Descomplique.
Quebre regras, perdoe rápido beije lentamente.
Ame de verdade, ria descontroladamente e nunca lamente nada que tenha feito você sorrir…”
(Vinícius de Moraes)


Fonte: http://alelameira.blogspot.com/

Seja criança quando ainda se pode …


A melhor fase da vida talvez seja quando somos crianças, muitas pessoas alegam sem dúvida alguma, sentirem falta das brincadeiras, da falta de responsabilidade que a idade infantil proporciona, dos sonhos nascidos através de uma imagem, voz, onde tudo se descobre e se tudo se pode, inclusive ser sincero demais é permitido quando se é criança.

A minha infância foi regada a brincadeiras de roda, a famosa pira pega, pira esconde, pular elástico então nem se fala, subir nas mangueiras, nas goiabeiras, nas ameixeiras tudo com muita vontade de aproveitar o máximo à infância.

Sou jornalista e essa profissão que escolhi foi devido à admiração que nutria e ainda tenho pelo meu tio, Jackson Barbosa.  Eu era pequena tinha nove para dez anos e escutava suas diversas histórias que contava, quando vinha passar férias em Macapá, pois naquela época o curso de Jornalismo só tinha na UFPA, universidade ao qual foi aprovado.

Muito aprendi com o tio Jack, como histórias de lutas, de idéias libertadoras, de um mundo melhor por meio de sua atuação revolucionária de ver o mundo e não se acomodar com o que é imposto para nós. Naquele momento em que eu ouvia seus relatos, algo de novo nascia em mim, até hoje não sei o que fato, mas alguma coisa me fez ver as coisas de vários ângulos.

Os anos se passaram eu cresci, fiz a trajetória normal do curso da vida, mesmo em ordens inversas, brinquei, estudei para ser jornalista, tive filho e depois casei, mas me uni com o pai da minha filha, treze anos juntos, que felicidade é para mim.

Confesso que não sou uma jornalista que se cria na noite amapaense, mas minhas raízes estão aqui nessa cidade, sou filha da terra, gosto daqui. Nasci no bairro Santa Rita, trabalho no Santa Rita e moro no buritizal. Para chegar em casa sempre depois das seis, passo todos os dias pela rua Claudomiro de Moraes e sempre me deparo com crianças , adolescentes e jovens se prostituindo, elas tem a idade que eu tinha quando comecei a sonhar.

Essas crianças mulheres afirmam que são donas do seu próprio corpo, e que os seus corpos são seu ganha pão e não tem nenhuma outra alternativa para se sustentarem. Eu fico impactada toda vez que passo pela Claudomiro e vejo a mesma cena se repetir todos os dias. Mas é só isso, cadê a minha vontade de mudar o mundo, onde estão meus ideais, o fato é que eu também não faço nada e até quando?

Essa pergunta tem sido feita, dia após dia pela minha consciência e minhas mãos estão atadas perante a essa sociedade que sabe julgar como ninguém, e que mostra apenas os caminhos onde se pode ir, sem oferecer uma ajuda coerente para as meninas que vendem seus corpos por R$ 20,00.

A minha covardia de fazer algo pelas jovens da Claudomiro foi superada pela coragem, que aprendi quando era criança, quando sonhei quando criança. E tenho fé, que essa situação pode ser mudada, mesmo que muitos digam que o problema social no Brasil é um arcabouço sem fim.
Lilian Monteiro/Jornalista

A trama complexa da traição

Por Hellen Cortezolli

Ninguém deseja ser traído em razão do sentimento universal de posse.  Imaginar o ser supostamente amado com outro alguém é como sentir que deixou de ser importante. E, no fundo todos querem ter a tão sonhada importância para alguém, como para si mesmo.

A hipótese de amor se adequa porque não se sabe ao certo a definição para tal sentimento. Amor se tornou sinônimo de anulação, submissão e renúncia ou coisas sofríveis e de uso prolongado.

Hipoteticamente o amor poderia se parecer com o DNA, apesar das teorias que se espalham e ganham rios de dinheiro para os que acreditam poder defini-lo e/ou identifica-lo, cada um imagina para si como melhor lhe convém, assim como a dor não pode ser medida, pois cada um tem seus próprios limites para suportá-la.

Esse raciocínio não é uma apologia à promiscuidade.

Por hora são estabelecidas regras de conduta, dentro da moralidade e do que a sociedade delineou por ser o certo.  Uma prática obviamente falida, assim como o casamento o é.

Ninguém pode se sentir sujo se não souber que foi enganado. Deste modo, a tal sujeira é psicológica.  Contudo, pensar em outra pessoa enquanto tem ao seu lado alguém com que divide sua rotina, não deixa de ser traição. Este talvez seja o mais doloroso sintoma e facilmente identificável, comumente ignorado. Como fechar os olhos e fingir desaparecer.

Os pensamentos não podem ser controlados, menos ainda, monitorados, estes às vezes perduram. A traição pela traição é solúvel, as complicações são inflamadas quando da ação se questiona com quem.  É quem promove a instabilidade utópica na relação que de fato incomoda não a ação propriamente dita.

Surgem os porquês e a necessidade de obter respostas. Inutilmente, já que não se sabe ao certo formular as verdadeiras perguntas.

Mas, a baboseira toda de traição e o conceito de sujeira física e psicológica são completamente desconstruídos a partir da visão por parte da única chance de experiência, afinal ninguém poderia saber como seria a materialização da pessoa perfeita no universo paralelo, em apenas 1h30min se não a experimentasse.

Esse seria o prazo máximo de duração. Depois as pessoas complicam tudo, porque a adrenalina e sentimento de liberdade são viciantes, naturalmente querer mais seria o próximo passo, o que não acontece. Havia uma hora, um lugar, uma pessoa, uma atmosfera propícia. Nada se repete. Nunca é igual, melhor, pior, nunca igual.

Apesar de todas as regras, o controle, as imposições, não evitam a tão temida traição.

Mas, evitar ou se privar de conhecer tais sentimentos desorganizadores também não seria uma forma de trair a si mesmo? Se condenar a morte ainda em vida?

Deveríamos viver de momentos, intensidades ao invés de nos deixarmos escravizar pelo tempo nessa trama complexa.