Vivo do ato de escrever sobre tragédias e espetáculos sobre o candidato vitorioso e o derrotado sobre o deputado corrupto e o governante que finge ser honesto sobre a exportação da mandioca e a importação da farinha sobre a fome e a riqueza sobre o real e o dólar. Perdoa-me, Anjo, não sobrou tempo para escrever um poema de amor.
quando te conheci ouvia Friday I’m In Love [e fazia um frio dilacerante em frente à plataforma de embarque]
quando te conheci andava feito saltimbanco por ruas e luas imaginarias [estava deveras abatido dentro de meu guarda-roupa de sombras]
meus olhos buscavam o tempo que passou[ e já passava das 19h ] sempre imerso em meu castelo de pedra
as verdades eram o que os meus mortos diziam e a claridade[falsa incandescência] me ofuscava quando amanhecia lá pros lados de Saint George
ah! ao te conhecer beirava o suicídio e quando você chegou [vestida de girassóis] as flores renasceram em meu horto de mentira [e agora as horas são sonetos de Pessoa que ouço em transe!]
ah! quando você chegou…Eu renasci vestido de bruma!
O poeta é louco? E se o sol lançar-se ao seu binóculo: e apontá-lo ao oráculo espiando d’outro século este cálculo in loco? E se o caos vier calá-lo e o sufoco herdar seu foco? O poeta é louco? Como contê-lo atrás do óculo e ao vernáculo ocultá-lo?
Eu me chamo…eu Faz tempo que me conheço… Faz tempo que me amo em segredo… Em mim, o que não gosto, nem percebi. O que mais admiro em mim, são os porquês… O que mais detesto em mim…a mortalidade. Dançando com minha sombra, sob uma lua que pintei no teto da casa. Eu sou feliz… Sempre me basto…
Luiz Jorge Ferreira
*Luiz Jorge Ferreira é amapaense, médico que reside em São Paulo e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames). **Contribuição do amigo Fernando Canto.
Demoiselle, s’ilvou splait! Não me diga frases formais quando teceres sobre a paixão
(não use vocábulos empacotados em papel de fina estampa – ne gaspillez pas votre français).
Oh, demoiselle! A paixão não precisa de dobras de talhes & de fitas – precisa [sim] de cheiro/saliva/suor.
Oh, jeune femme! Deixe as frases arranjadas para os déspotas e astutos corruptos – pois o que a paixão cobiça é o repentino flerte com pitadas de encontro fortuito.
Tenha certeza, demoiselle! O que a paixão anseia é a falta de senso comum com declamações improvisadas de Paul Éluard [ao fim do dia].
Pense bem, demoiselle! A paixão não precisa de discurso confeccionado de poesias formais ou esmero gramatical.
Oh, demoiselle! O que a paixão precisa é de absence de formalité!
Tu sabias que a Fortaleza foi toda construída no Curiaú? Diz que o Sacaca o Paulino e o Julião Ramos vieram em cima da Fortaleza varejando até chegar na beira do Igarapé Bacaba onde amarraram a bichona na Pedra do Guindaste e foram tomar uma lá no boteco do sêo Neco. Diz que o o Alcy escreveu uma crônica E o Pedro Afonso da Silveira Júnior leu Oito horas da noite no Grande Jornal Falado E-2. Diz que, né? Diz que o mestre Zacarias vinha em cima do farol tocando um flautim feito com as aparas da porta de ébano… E que Dona Odália vinha fazendo flores de raiz de Aturiá sentada no maior de todos os canhões brincando com a Iranilde que acabara de nascer.
Diz que o Amazonas Tapajós vinha cantando ladrões de Marabaixo -ele, o Edvar Mota e o Psiu. E o João Lázaro transmitia tudo para a Difusora. Diz que até o R. Peixe pintou um mural -aquele que ficou no pátio da casa do Isnard lá no Humilde Bairro de Santa Inês de onde foi roubado pelo Galego e trocado por duas garrafas de Canta Galo e uma de Flip Guaraná, lá na Casa Santa Brígida… Hoje Macapá amanheceu bem mais triste que de costume. Roubaram a Fortaleza! Levaram o velho forte! De madrugada Dois ou três bêbados remanescentes viram passar aquela enorme coisa boiando rumo norte, parecendo uma usina de pelotização.
Andam comentando lá pelo Banco da Amizade que foi o Pitoca a Souza o Quipilino o Pombo o Zee e o Amaparino… E que o Olivar do Criôlo Branco e o Cirão estão metidos nessa história. Eu, hem!