Poema de agora: Poeta probo – Annie de Carvalho

Poeta probo

Cheiro de Capim e raiz
exalam das fibras de seu peito.
Despido da armadura
um salgueiro se figura.
Probo.
Varonil.
Lutador.
Mas farpas dela ainda
perambulam em seus versos.
Cada dor ou pó,
são gritos da sua
poesia inflamada…
Um cavaleiro que sangra
por dentro da armadura,
por dentro da loucura.
Sem compreensão
de sua força mór de lobo
pensa ser um poeta bobo.

Annie de Carvalho

Poesia de agora: Um poema torto – @juliomiragaia

Um poema torto

A vida, essa barra
Dura,
Às vezes,
É uma força
Bruta:
Humilha,
Agride,
Mói,
Dói,
Esfola,
Frustra,
Sola,
Abisma:
Arrisca
Ser feliz.

A vida,
Às vezes,
Voa
Em várzeas
Vesgas
De vários
Rios efêmeros
E intensos.

Insisto,
Absurdo
E abusado,
Que as abduções
Para cordilheiras
De amanhãs
Não são feitas
Sem armas canhotas:
Sangue,
Coração,
Bússolas quebradas
E mapas de utopias.

É preciso ainda,
Para demolir
As barras dessa vida,
Uma força bruta:
Asas de serpente
E agulhas de aranha.

Júlio Miragaia

Poema de de agora: Do mister – Jaci Rocha

Do mister

Se não for possível
Entre excelentíssimos e excelências
Esse mundo menos grifado em negrito
E mais colorido arco-íris

A gente deixa adentrar na sala
Alguma fresta de luz do dia
E faz poesia em meio a concreto e asfalto,
Olha pro alto e colhe o azul do céu na retina…

Se não for possível
Deixar de lado tanto polimento e poeira
a gente se pinta de esperança por dentro
e guarda o melhor do sentimento
Pra desaguar no Amazonas…

Lá, onde as lavadeiras nascem
E a alma, enfim, descansa
O perfume do peito
exala aquilo que a memória ama…

E se fizer barulho demais
A gente fala de amor baixinho
E se acelerar o passo,
A gente sonha bem devagarinho

E jamais desiste de fazer e acontecer
De um jeito fraterno, leal e diferente,
Porque a gente só guarda da vida, meu bem
Aquilo que o peito sente.

Jaci Rocha

Poema de agora: Açucena – Annie de Carvalho

Foto: Max Renê

Açucena

Falaram pra Açucena se casar,
mas ela rodou sua saia;
saiu como quem se anima pra passear
deixou o nego abatido de tanto penar.

Atina morena, serena
que sua sina é só rebolar
fazer seu mundo girar
marabaixo até o sol raiar!

Ninguém colhe a flor
que o tempo botou na paixão.
Açucena não nasceu pra se casar
nasceu pra ser canção.

Annie de Carvalho

Poema de agora: Considerações a respeito da viagem (Jaci Rocha)

Considerações a respeito da viagem

Conhecer

Do valor de um riso ou de um segundo
Da página final de um livro
à última colher de brigadeiro
e o prazer de caminhar lado a lado
(Seguir a vida desatentamente enamorado)

Retribuir

O abraço e o apreço
Sentir o calor do beijo matinal
Onde o amor é único endereço
E a ausência de juízo
Diz que vale o preço.

Sentir

Tocar o mundo e sempre muito
Doar-se sem impor!
– Num mundo onde tudo se barganha
E se perde enquanto ganha –

Ser

Gente que poetiza
além de Carteira de Identificação
e do Cadastro de pessoa física
– Onde a existência vale o que se somatiza –

Conhecer, retribuir,sentir, ser: e Chegar!

De forma tal que ao ter contigo
Não precise barganhar com tudo,
Mas apenas, calmamente,
Sentar com um amigo.

Jaci Rocha

Poema de agora: Ensaios sobre amor e dor – Jaci Rocha

Ensaios sobre amor e dor

Dor é linguagem universal
Amor, não:
é multicor, multiverso
Multipessoal

Ama-se pelo riso ou olfato
Pela ausência de sentido
No avesso do avesso
De qualquer explicação…

É uma teia intrínseca
De afeto
Que não julga
O que é errado ou certo.

Dor, é pontual.
Chega sempre que o coração é rasgado
E, por outro lado,
amor atrasa a gente

É que o peito sente
mais calmamente a chuva
E a mansidão do vento
acolhe a beleza dos dias frios…

Dor é adrenalina
movimento impensado
Amor, dopamina
Caminhar junto para um mesmo lado.

O peito reclama quando flui em dor
Amor, sorriso incontido,
coração em flor.

Jaci Rocha

Poema de agora: A Chuva Nos Olhos da Noite (poesia de Pedro Stkls na voz de Deize Pinheiro)

A Chuva Nos Olhos da Noite

Olha, meu amor
Está chovendo na sala de casa
Bem nos olhos da noite
Uma chuva que não passa
Nem fala comigo
Diz que tem saudade
Que no peito há falta
Que não sabe se sonha
Que não sabe se amanhece
Escreve cartas nunca enviadas
Diz teu nome fecha os olhos
E segura coração
Com tua fotografia
E a chuva não passa
Fica e me dá bom dia
Sem imaginar que o nosso amor
Partiu em um navio

(Poema de Pedro Stkls, cantado por ele e Deize Pinheiro) 

Poema de agora: BILHA VIVA – Fernando Canto

Foto: Blog da Floresta

BILHA VIVA

Não morro mais de banzo
Nem sofro nos silêncios.
Nem choro por espiralados ventos de memórias.
Sou como fui sempre, parte da tua angústia
E peça-carne do teu sofrimento.
Vínculo de ferro/elo de candura
Âncora/ferrugem/tempo oxidado
Limo esverdeado, se me queres
Pronúncia silabada que sepulto
Em teu armazém de água:
– Bilha viva e intransportável
Que me sacia a sede
À revelia do baque do cipó timbó
Que me cicuta artérias
Que nada sei, eu sei.

Apenas venho inaugurar silêncios
Romper murmúrios e espúrios sons
E desnudar-me diante de ti
Antes de fundir-me em ti em espírito.

Fernando Canto

Poema de agora: Imemorial – @cantigadeninar

Imemorial

eu queria tanto te fazer um poema
ou algo que pudesse eternizar o que sinto
(desde quando ditongo aberto tinha acento e ainda se usava trema)
mas toda vez que tento me lembrar das tuas lacunas
– mistério nunca extinto –,
sou tomada de ausências inoportunas:
entre todas as coisas em ti que me servem de inspiração
me falta o léxico e sou tomada por um vazio:
o vazio dos apaixonados.
não me entenda errado,
pois esse vazio é causado
pelo impacto daquilo que me assola;
a surpresa é um coelho sendo tirado de dentro da cartola:
só existe o desejo de contemplação
e eu permaneço, contra minha vontade, estática.
mas me vendo imersa em tanta ternura
joguei fora a gramática.
reservei um tempo para tirar palavras do indizível
perdidas em meio aos teus silêncios
e meu próprio espaço intangível.
talvez isso nem seja um problema, afinal;
foi como descobri o amor: longe, distante, calado.
nunca precisei pronunciar, sabia que estava ali por bem ou por mal,
aparentemente camuflado
e hoje? aflorado.
tulipas espalhadas na rotina do que se guardou,
um baú de acúmulos: anos-bola-de-neve
e essa é apenas a ponta do iceberg.
as calotas polares derretem e eu sigo te amando
Titanic afundou e eu continuo te amando
Julieta morreu e nada mudou
e se amanhã eu morresse também… mesmo assim não seria diferente.
então finalmente entendi que amor é calmaria
por tudo que me ensinas dia-a-dia
e nesse sentimento maduro
eu (per)duro
passe o tempo que for,
foi, é e sempre será amor.

Lara Utzig

Poema de agora: Ethereal (@cantigadeninar )

Ethereal

há uma citação de Scott Fitzgerald…
there are all types
of love in this world
but never the same love twice.
amores são sempre tão plurais
e singulares em cada recomeço…
basta dar adeus aos ais
abrindo chance para virar-se do avesso.
amores vêm e vão:
alguns resistem aos empecilhos,
outros ficam retidos em algum vão,
uma fresta, lapsos temporais presos em estribilhos
de poemas nunca publicados,
pelo chão espalhados,
por toda a casa;
casa esta que está impregnada
do aroma de antigos buquês de flores
e das lembranças de cada namorada.
eis que entre todos os amores,
um único é o amor de sua vida:
o dono da mais úmida lágrima derramada,
durante meses contida,
na resistência de aceitar a perda da amada.
em meio a esse processo
é perdoável qualquer excesso:
quando dizes se cuida,
no fundo ainda quero ser cuidada.
a tal tristeza é comprida,
cumprida fielmente e a cada dia
crescida na esperança de ser curada.
de todos os amores que tive,
em apenas um me detive:
o amor que se perpe(tua).
em mim há a absoluta certeza
de que serei permanentemente tua
e essa é minha maior fra(n)queza,
porque sou livre e mesmo assim sigo na contramão
ao ser ciente
de que meu efêmero coração
te pertence
eternamente.

Lara Utzig

Coletânea ‘Poemas, poesias e outras rimas’ reúne textos de 20 escritores do Amapá

Livro ‘Poemas, poesias e outras rimas’ será lançado em Macapá (Foto: Divulgação/Alieap)

Por Carlos Alberto Júnior

Uma coletânea de poemas, poesias e prosas que reúne cerca de 100 textos de 20 escritores amapaenses será lançada no dia 23 de fevereiro, a partir das 19h, na biblioteca pública Professora Elcy Lacerda, no Centro de Macapá.

Com o intuito de incentivar a escrita e dar espaço aos autores do estado, a Associação Literária do Estado do Amapá (Alieap) coletou o material fez os trâmites para realizar a publicação.

Serão textos de todos os estilos, que podem agradar todo o público. Essa versatilidade, de acordo com José Queiroz Pastana, um dos escritores, é um dos atrativos da publicação.

“Temos poemas sobre amor, natureza, regionalidade e muitos outros temas. Essa versatilidade deve agradar qualquer tipo de público. Isso é um grande atrativo”, comentou Pastana.

No trabalho, estão reunidos textos dos escritores: Alcinéa Cavalcante, Annie de Carvalho, Celestino Filho, Eliade Cristina Silva, Fábio Nescal, Hamilton Antunes, Jaci Rocha, Jô Araújo, João Barbosa, José Queiroz Pastana, Luiz Alberto, Manoel Bispo, Maria Éster, Marven Junius, Neth Brazão, Raquel Braga, Ricardo Pontes, Rogério Silva, Ronilson Medeiros e Tiago Quingosta.

Na noite de lançamento do livro, a programação contará com declamações, intervenções poéticas dos escritores e apresentações musicais. A coletânea será vendida ao preço de R$ 30.

Serviço:

Lançamento do livro “Poemas, poesias e outras rimas”
Data: 23 de fevereiro
Hora: 19h
Local: Biblioteca Pública Profª Elcy Lacerda (Centro)
Preço do livro: R$ 30
Entrada: livre

Fonte: G1 Amapá

Poema de agora: ALGO-LUZ – Fernando Canto

Foto: Manoel Raimundo Fonseca

ALGO-LUZ

Livre das correntes corre ao oceano
Que este tempo insano é o que te chama Sanozama.

Vale o vale, o verde, as samambaias
Sons primordiais, teus pesadelos, Sanozama.

Algo-luz descia dos céus naqueles dias.
Fervia o mar nos seus apelos e primícias

Mas antes de tuas águas se espalharem
Eu te convido a virar o curso da tua história
E virar lenda do contrário
E se voltar para o Oriente
Para novamente renascer com o sol.

Fernando Canto

Poema de agora: NOITE MÍTICA – Fernando Canto

NOITE MÍTICA

Num tempo de luar estranho
(Nas noites e nos dias)
Rebrilhava um lusco-fusco
Próprio ao nascimento de entidades.

Um raro oxigênio sufocava
O respirar da noite,
Um leve farfalhar de folhas/centopeias
Acusava o arrastar
Do iguana
E a flecha-língua dos lagartos/salamandras.

O ronco de bugios em sinfonia
Feria de muito o pacto acordado
Para o silêncio das aranhas
(Caladas construtoras de armadilhas).

Aves voavam na floresta
Ávidas por mutações
E à tona d’água peixes eram homens
Que contavam suas histórias
De um passado glorioso.

Fernando Canto