Cheiro de Capim e raiz exalam das fibras de seu peito. Despido da armadura um salgueiro se figura. Probo. Varonil. Lutador. Mas farpas dela ainda perambulam em seus versos. Cada dor ou pó, são gritos da sua poesia inflamada… Um cavaleiro que sangra por dentro da armadura, por dentro da loucura. Sem compreensão de sua força mór de lobo pensa ser um poeta bobo.
A vida, essa barra Dura, Às vezes, É uma força Bruta: Humilha, Agride, Mói, Dói, Esfola, Frustra, Sola, Abisma: Arrisca Ser feliz.
A vida, Às vezes, Voa Em várzeas Vesgas De vários Rios efêmeros E intensos.
Insisto, Absurdo E abusado, Que as abduções Para cordilheiras De amanhãs Não são feitas Sem armas canhotas: Sangue, Coração, Bússolas quebradas E mapas de utopias.
É preciso ainda, Para demolir As barras dessa vida, Uma força bruta: Asas de serpente E agulhas de aranha.
Se não for possível Entre excelentíssimos e excelências Esse mundo menos grifado em negrito E mais colorido arco-íris
A gente deixa adentrar na sala Alguma fresta de luz do dia E faz poesia em meio a concreto e asfalto, Olha pro alto e colhe o azul do céu na retina…
Se não for possível Deixar de lado tanto polimento e poeira a gente se pinta de esperança por dentro e guarda o melhor do sentimento Pra desaguar no Amazonas…
Lá, onde as lavadeiras nascem E a alma, enfim, descansa O perfume do peito exala aquilo que a memória ama…
E se fizer barulho demais A gente fala de amor baixinho E se acelerar o passo, A gente sonha bem devagarinho
E jamais desiste de fazer e acontecer De um jeito fraterno, leal e diferente, Porque a gente só guarda da vida, meu bem Aquilo que o peito sente.
Do valor de um riso ou de um segundo Da página final de um livro à última colher de brigadeiro e o prazer de caminhar lado a lado (Seguir a vida desatentamente enamorado)
Retribuir
O abraço e o apreço Sentir o calor do beijo matinal Onde o amor é único endereço E a ausência de juízo Diz que vale o preço.
Sentir
Tocar o mundo e sempre muito Doar-se sem impor! – Num mundo onde tudo se barganha E se perde enquanto ganha –
Ser
Gente que poetiza além de Carteira de Identificação e do Cadastro de pessoa física – Onde a existência vale o que se somatiza –
Conhecer, retribuir,sentir, ser: e Chegar!
De forma tal que ao ter contigo Não precise barganhar com tudo, Mas apenas, calmamente, Sentar com um amigo.
Olha, meu amor Está chovendo na sala de casa Bem nos olhos da noite Uma chuva que não passa Nem fala comigo Diz que tem saudade Que no peito há falta Que não sabe se sonha Que não sabe se amanhece Escreve cartas nunca enviadas Diz teu nome fecha os olhos E segura coração Com tua fotografia E a chuva não passa Fica e me dá bom dia Sem imaginar que o nosso amor Partiu em um navio
(Poema de Pedro Stkls, cantado por ele e Deize Pinheiro)
Não morro mais de banzo Nem sofro nos silêncios. Nem choro por espiralados ventos de memórias. Sou como fui sempre, parte da tua angústia E peça-carne do teu sofrimento. Vínculo de ferro/elo de candura Âncora/ferrugem/tempo oxidado Limo esverdeado, se me queres Pronúncia silabada que sepulto Em teu armazém de água: – Bilha viva e intransportável Que me sacia a sede À revelia do baque do cipó timbó Que me cicuta artérias Que nada sei, eu sei.
Apenas venho inaugurar silêncios Romper murmúrios e espúrios sons E desnudar-me diante de ti Antes de fundir-me em ti em espírito.
eu queria tanto te fazer um poema ou algo que pudesse eternizar o que sinto (desde quando ditongo aberto tinha acento e ainda se usava trema) mas toda vez que tento me lembrar das tuas lacunas – mistério nunca extinto –, sou tomada de ausências inoportunas: entre todas as coisas em ti que me servem de inspiração me falta o léxico e sou tomada por um vazio: o vazio dos apaixonados. não me entenda errado, pois esse vazio é causado pelo impacto daquilo que me assola; a surpresa é um coelho sendo tirado de dentro da cartola: só existe o desejo de contemplação e eu permaneço, contra minha vontade, estática. mas me vendo imersa em tanta ternura joguei fora a gramática. reservei um tempo para tirar palavras do indizível perdidas em meio aos teus silêncios e meu próprio espaço intangível. talvez isso nem seja um problema, afinal; foi como descobri o amor: longe, distante, calado. nunca precisei pronunciar, sabia que estava ali por bem ou por mal, aparentemente camuflado e hoje? aflorado. tulipas espalhadas na rotina do que se guardou, um baú de acúmulos: anos-bola-de-neve e essa é apenas a ponta do iceberg. as calotas polares derretem e eu sigo te amando Titanic afundou e eu continuo te amando Julieta morreu e nada mudou e se amanhã eu morresse também… mesmo assim não seria diferente. então finalmente entendi que amor é calmaria por tudo que me ensinas dia-a-dia e nesse sentimento maduro eu (per)duro passe o tempo que for, foi, é e sempre será amor.
há uma citação de Scott Fitzgerald… there are all types of love in this world but never the same love twice. amores são sempre tão plurais e singulares em cada recomeço… basta dar adeus aos ais abrindo chance para virar-se do avesso. amores vêm e vão: alguns resistem aos empecilhos, outros ficam retidos em algum vão, uma fresta, lapsos temporais presos em estribilhos de poemas nunca publicados, pelo chão espalhados, por toda a casa; casa esta que está impregnada do aroma de antigos buquês de flores e das lembranças de cada namorada. eis que entre todos os amores, um único é o amor de sua vida: o dono da mais úmida lágrima derramada, durante meses contida, na resistência de aceitar a perda da amada. em meio a esse processo é perdoável qualquer excesso: quando dizes se cuida, no fundo ainda quero ser cuidada. a tal tristeza é comprida, cumprida fielmente e a cada dia crescida na esperança de ser curada. de todos os amores que tive, em apenas um me detive: o amor que se perpe(tua). em mim há a absoluta certeza de que serei permanentemente tua e essa é minha maior fra(n)queza, porque sou livre e mesmo assim sigo na contramão ao ser ciente de que meu efêmero coração te pertence eternamente.
Uma coletânea de poemas, poesias e prosas que reúne cerca de 100 textos de 20 escritores amapaenses será lançada no dia 23 de fevereiro, a partir das 19h, na biblioteca pública Professora Elcy Lacerda, no Centro de Macapá.
Com o intuito de incentivar a escrita e dar espaço aos autores do estado, a Associação Literária do Estado do Amapá (Alieap) coletou o material fez os trâmites para realizar a publicação.
Serão textos de todos os estilos, que podem agradar todo o público. Essa versatilidade, de acordo com José Queiroz Pastana, um dos escritores, é um dos atrativos da publicação.
“Temos poemas sobre amor, natureza, regionalidade e muitos outros temas. Essa versatilidade deve agradar qualquer tipo de público. Isso é um grande atrativo”, comentou Pastana.
No trabalho, estão reunidos textos dos escritores: Alcinéa Cavalcante, Annie de Carvalho, Celestino Filho, Eliade Cristina Silva, Fábio Nescal, Hamilton Antunes, Jaci Rocha, Jô Araújo, João Barbosa, José Queiroz Pastana, Luiz Alberto, Manoel Bispo, Maria Éster, Marven Junius, Neth Brazão, Raquel Braga, Ricardo Pontes, Rogério Silva, Ronilson Medeiros e Tiago Quingosta.
Na noite de lançamento do livro, a programação contará com declamações, intervenções poéticas dos escritores e apresentações musicais. A coletânea será vendida ao preço de R$ 30.
Serviço:
Lançamento do livro “Poemas, poesias e outras rimas”
Data: 23 de fevereiro
Hora: 19h
Local: Biblioteca Pública Profª Elcy Lacerda (Centro)
Preço do livro: R$ 30
Entrada: livre
Livre das correntes corre ao oceano Que este tempo insano é o que te chama Sanozama.
Vale o vale, o verde, as samambaias Sons primordiais, teus pesadelos, Sanozama.
Algo-luz descia dos céus naqueles dias. Fervia o mar nos seus apelos e primícias
Mas antes de tuas águas se espalharem Eu te convido a virar o curso da tua história E virar lenda do contrário E se voltar para o Oriente Para novamente renascer com o sol.
Num tempo de luar estranho (Nas noites e nos dias) Rebrilhava um lusco-fusco Próprio ao nascimento de entidades.
Um raro oxigênio sufocava O respirar da noite, Um leve farfalhar de folhas/centopeias Acusava o arrastar Do iguana E a flecha-língua dos lagartos/salamandras.
O ronco de bugios em sinfonia Feria de muito o pacto acordado Para o silêncio das aranhas (Caladas construtoras de armadilhas).
Aves voavam na floresta Ávidas por mutações E à tona d’água peixes eram homens Que contavam suas histórias De um passado glorioso.