Poema de agora: O ANZOL DA ESPERA – Fernando Canto

O ANZOL DA ESPERA

Meu tempo
Não é um achado de lembranças
Não é selo/estampa/escudo/emblema/taciturno ícone
Insígnia invisível,
Sombria projeção de sonhos aparentes,
É círculo vagante, mítico
Recém-saído
Do jogar do anzol em dias de águas revoltas
Quando encurralado fico em mim mesmo.

Anzol-arpão-rede-zagaiama-zagaia-zagarana
Olhos e bocas espantados esperam,
Borbulham no fundo d’água:
Condomínio de botos/caruanas.

O brilho do anzol é uma cilada – a morte anterior
Ao fruto da vida – ligação tardia
Do amor em seu percurso

Agora um peixe eu sou
Fisgado e vindo à superfície
Pelo anzol da lembrança/pela linha da corrente.
Sou guelra/brônquios/ barbatana/ escama
Sou ar que explode
Em séculos de espera.

Fernando Canto

Poema de agora: CONDUZIR-SE – Fernando Canto

CONDUZIR-SE

Eu enxergo melhor
Quando durmo
Ouço com perfeição
Quando sonho
Conduzo com mãos de asas
Minhas vontades e gestos
Para seguir o destino
(supostamente)
Por mim imposto.

Caminho passo a passo
Pelas trilhas que abro e conservo
Pois sou deidade em meu ser
E el diablo no coração
Da minha memória
Onde arbitrariamente enxugo
Uma estranha realidade.

Fernando Canto

Poema de agora: Mapa, cá. (Jaci Rocha)

Foto: Chico Terra

Mapa, cá.

Sempre que procuro no peito
A geografia do amor
O mar que abriga meu lar

A luz de um lugar acende em meu peito.

Paisagens que o tempo não leva:
Um santo que abraça o amazonas,
Grande casa de pedras, igrejinha,
A bênção, meu S. José!

Sempre que penso no lar,
É batuque, samaúma, maré cheia
Ruas enfeitadas de mangueiras
Capital morena, segunda mãe

Casa minha.

Terra da poesia de Fernando, Alcinea, Maria Ester
Marabaixo no pé, de Tia Luci até aqui,
É igarapé das mulheres, lendas e crenças,
Flores do mato,

Ervas que curam , vida que abunda,
Cá dentro de mim.

Jaci Rocha

* Parabéns, terra querida.Obrigada, segunda mãe.
Observação: Há muito mais poetas, cantores e artistas em geral em nossa linda cidade.
Sintam-se representados.

Palco Lagoa anima público durante programação dos 260 anos de Macapá

Mais uma vez a Praça Floriano Peixoto foi palco principal das comemorações dos 260 anos de Macapá, celebrado neste domingo, 4. Diversas atrações animaram o público durante toda a manhã. Logo cedo, a programação foi voltada para a criançada, que dançou e se divertiu com a apresentação da banda Chocolate com Pipoca.

“É muito bom ver que neste ano a prefeitura novamente se preocupou em incluir atividades para as crianças. Minhas filhas estão adorando estar aqui hoje. Já dançaram, brincaram, estão se divertindo bastante”, informou a empreendedora Ângela Nery.

O evento continuou com a chegada do cortejo do Banzeiro Brilho de Fogo, que saiu da catedral de São José após o encerramento da santa missa em ação de graças pela data comemorativa. A Banda de Fuzileiros Navais, da Marinha do Brasil, também participou da festa e deu um show a parte, com um repertório bem diversificado. Amadeu Cavalcante, Val Milhomen, Brenda Melo, Nonato Leal e o Grupo Pilão também participaram da festa.

A administradora Helena Sampaio, que está de passeio pela cidade, participou da festa. “Esta é a minha primeira vez em Macapá. A convite de minha prima, que mora aqui nas proximidades, viemos prestigiar a programação e está tudo muito bom, estou adorando”, relatou.

Para atrair a atenção das crianças, foi montado um espaço com atividades educativas, cantinho da leitura, pintura de rosto e contação de histórias. “Este foi o cantinho preferido do meu filho. Desde muito cedo a gente coloca ele para ter contato com os livros de historinhas e de figuras. É algo que hoje já gosta, e quando chegamos correu para cá”, narrou a dona de casa Daiane Silva.

Além da programação cultural, o evento contou também com a feira de artesanato, exposição de quadros, entre outras atividades.

Karla Marques
Assessora de comunicação/ PMM
Contato: 99119-2467
Fotos: Gabriel Flores e Nayana Magalhães

Poema de agora: A cidade submersa – Pedro Stkls

Foto: Floriano Lima

A cidade submersa

quando a cidade quase submerge
agarra-se numa bóia
um tronco de árvore sonâmbulo
que vagueia pelas águas
no mapa sublinho a palavra Macapá
que quer dizer:
senhora de óculos sentada de costas para o portão
com 260 primaveras floridas
em uma saia de marabaixo
a coisa mais bonita do mundo
aquilo que vem enfiado nos pés
uma ponta de madeira, uma dança
o meio do mundo
uma fortaleza nunca usada
lugar de muitas bacabas
boêmios, laguinho
por onde um trem nunca para
em nenhuma estação
há sempre de seguir viagem
é um trava língua pronunciar: buritizal
é inevitável sobretudo não dizer:
“cidade morena ou linha do equador”
desconfio que a palavra Macapá
não vem do tupi como dizem os historiadores
surpreendente seria se Macapá
tivesse sido extraída do barro escuro
que estranhamente se espreguiça
no rio amazonas.

Pedro Stkls

Poema de agora: MACAPÁ – @PedroStkls1

MACAPÁ

maria, bem no olho do mundo
há uma flor distraída
bebendo a chuva da goteira
como as vozes guardadas
das tribos que trouxeram o rio
pintaram um céu azul marabaixo
quando a chuva voltou pra casa
só ficou o perfume na lama
da saliva de um jambeiro
que veio fora de época
no inverno brincar de primavera
só pra confundir o nosso coração
acho que foi assim que a pedra sagrada
onde o padroeiro ergueu o seu quintal
onde o rio amazonas deixa florir
dilúvios e dilúvios em roda de batuque
foi assim que a pedra do rio veio parar
na beleza das marés
em dias onde o inverno vestido de primavera
sacoleja o jardim das águas o soneto do barro
no alumiar das lamparinas
maria, eu brinco de fazer banzeiro
na ponta da tua doçura
por você me contar três palavras
é como se o meu rio fosse o teu sentimento
olha, vamos atravessar esse mundo de água
que fica nas costas do padroeiro
vamos descobrir onde nasce a cidade
essa será nossa aventura
nosso pacto secreto de canoa
e se chover a gente descobre a chuva
e se der saudade a gente passa amor crescido
vamos você e eu descobrir por onde anda
a pororoca.

Pedro Stkls

Poesia de agora: POEMA DE AMOR PARA MACAPÁ – Paulo Tarso Barros

POEMA DE AMOR PARA MACAPÁ

Paixão equilibrada e eterna da minha vida
do tamanho do rio-mundo Amazonas:
MACAPÁ!
Falo de ti e meu coração universal de poeta
pulsa mais e mais forte
– bate docemente como toneladas de manganês,
ouro, cassiterita, tantalita (tanta luta!)…
Meu coração bate e eu viajo no tempo
e permaneço todo o tempo ao teu lado.
Acompanho com felicidade teus momentos
de crescimento e progresso, mas sofro
como um pássaro engaiolado nas horas tristes
e quando tentam te espoliar.

Meu coração,
que veio lá das águas maranhenses do Mearim,
trouxe consigo a poesia,
o carinho,
o amor
e a vontade de fazer
a cada dia alguma coisa de útil:
e eu fiz e faço!

Agora, como filho apaixonado,
entreguei a minha vida a ti,
cidade dos meus melhores sonhos,
dos meus delírios de poeta e de todos
os amores que enriqueceram liricamente
de carinho este viver,
sob as estrelas e o céu infinito do Equador.

(Paulo Tarso Barros)

Lançamento de Livro “Das declarações de amor que eu não fiz”

Mary Paes lança seu primeiro livro solo, no sábado (3), em Macapá. O evento conta com a participação de artistas, amigos da autora. Além do lançamento, vai rolar música, exposição e performances inspiradas nos poemas do livro. O público pode se preparar para algumas surpresas.

O livro…

O novo livro de Mary Paes “Das declarações de amor que eu não fiz” é uma experiência criativa que estabelece outra perspectiva do eu-poético para com suas frustrações, por assim dizer. Engana-se quem pensa que o livro trata de uma lamúria sobre amores que não vingaram, na verdade, o que temos aqui é o extremo oposto disso. Mary Paes promove, através de seus versos, um retorno, uma rememoração ou mesmo uma reinvenção da “vida inteira que podia ter sido e não foi”, a escritora usa sua escrita para reviver o que não foi vivido ou dar um novo fim a uma história cujo final não lhe apraz. Ao proceder desse modo ela dá continuidade a uma tradição poética que existe desde que a Literatura é Literatura. O título do livro é a um só tempo belo e instigante, pois desvela um tema não muito explorado entre os chamados poetas líricos. Neste livro de poemas Mary Paes opta por falar de amores não vividos, de desejos incontidos, de pensamentos que não se concretizaram, porém ao falar de tudo isso a poetisa sul-mato-grossense radicada no Amapá, consegue, através de sua escrita fácil, dizer algo ao seu público sem carregar o peso que o próprio tema acarreta. Os poemas são curtos, de formas livres e marcados por um forte apelo erótico, marca registrada da autora que já teve alguns de seus poemas lançados em diversas coletâneas. Mary Paes faz poesia com a mesma intensidade com que ama a vida e a nos cabe apenas apreciar a boa literatura que está sendo produzida por aqui. Escreveu Ezequias Corrêa, professor de língua portuguesa e literatura.

LIVRO “Das declarações de Amor que eu não fiz ” – LANÇAMENTO
DATA: 03/02/2018
HORÁRIO: 20h
LOCAL: Avenida Mendonça Júnior – 12 H/Altos ( próximo à praça de alimentação da Casa do Artesão)
PREÇO DO LIVRO: R$ 25,00
Contatos: (96) 98128-5712 \ 99179-4950 (Mary Paes)
Classificação: 16 anos
Produção/Realização: Tatamirô Grupo de Poesia

Poema de agora: Macapá 260 Anos – Pat Andrade

Macapá 260 Anos

Minha cidade comemora mais um ano de existência.
Digo minha, porque me apodero dela, todos os dias, em dura jornada; todas as noites, em longas caminhadas.
Macapá me cobre com seu céu inconstante, me descobre em versos e rimas; me abriga em (m)seus bares, em (m)seus becos, em (minhas) suas praças, (m)seu rio…
Macapá me expõe, me oprime, me liberta…
E aqui permaneço, retribuindo com meu amor, minha esperança e minha alma de poeta.
Te amo, Macapá.

Pat Andrade

Poema de agora: AROMA DE TEMPO PARADO – Marven Junius Franklin

AROMA DE TEMPO PARADO

Ah, insensato desejo!
Este que emana & parte
[oscilando como maré]
em meus rios de incertezas
(que ao fim do dia
deixa no ar o aroma
de tempo parado).
Ah, insensato desejo!
Este que arde & esfria
correndo em extrema vibração
pelos cabos de eletricidade
(que ao meio dia
deixa rastro
no asfalto quente).
Ah, este desejo!
Que experimenta
porres homéricos
em bares de fronteiras.

Marven Junius Franklin

Poema de agora: A cidade e o progresso invertebrado – @juliomiragaia

A cidade e o progresso invertebrado

Vi brotar do peito da cidade
Balas perdidas, execuções
Prédios limpos, cercados por
Escassos esgotos que deságuam
Canhotos e asmáticos
Na boca do rio
Mais amazônico da Terra

Vi dormir nos braços da cidade
Os sonhos de uma criança pedinte
O cansaço dos ônibus lotados
E o cansaço das pessoas
Igualmente lotadas
Endividadas, tristes
E perdidas

Vi sorrir na boca da cidade
Um sol ranzinza e pterodátilo
A colher pelas ruas e pelos ventos
Pedras tímidas de futuro

Vi sorrir um velho livro invertebrado
Enquanto chove nos quintais
Quentes de janeiro
Que anunciam o carnaval

Júlio Miragaia