Poema de agora: RECEITA – Pat Andrade

RECEITA

pra não sofrer
por teu amor
caço novos sorrisos
desvendo mistérios

refaço caminhos
disfarço sentimentos
visito meu passado
desenho o futuro

desmancho saudades
costuro boas memórias
invento amores
pinto meias verdades

teço mais versos
ensaio mil rimas
escrevo uns poemas
e declamo só alegrias

PAT ANDRADE

Poema de agora: IMPRESSIONISMO – Pat Andrade

IMPRESSIONISMO

penso que agora
me encanto mais com o céu
olho ainda mais
para as árvores e flores
sinto cada vez mais
a intensa noite
e consigo ver melhor
o brilho das estrelas

absorvo luzes e tons
capto cores e matizes
e começo a perceber
que desvendar Van Gogh
é cortar a própria orelha

PAT ANDRADE

Poema de agora: AZUL – Pat Andrade

AZUL

o azul me arrebata
me inspira
me atravessa
me atira
para além do dia
para além do verso

o azul me emociona
me encanta
me faz feliz
me leva
para além da cor
para além do amor

o azul me tinge
me preenche
me pinta
me leva
para além da tela
para além da tinta

é no azul
que me encontro
e me perco…

é no azul
que te acho
e te deixo…

PAT ANDRADE

Poema de agora: poeminha irrequieto – Pat Andrade

poeminha irrequieto

estendi minha poesia na janela
pra ver se aquecia o coração
mas não veio nem sol, nem calor…

ansiei desesperadamente pela chuva
para ver se refrescava a alma
mas não veio água, nem nuvem…

chateada, guardei a poesia na gaveta
pra ver se ela esquecia do que há de ruim.

mas é tão irrequieta que se livrou de lá
e voltou correndo pra dentro do peito
e não para de me cutucar

mas diz que não sai, de jeito nenhum…

vou esperar que fique mansa,
que se acomode…

quando estiver distraída,
agarro-a pelo primeiro verso
e boto pra fora,
até a última rima

Pat Andrade

Poema de agora: eu amo – Patrícia Andrade

eu amo

de manhã cedo, manhãzinha,
no branco do lençol
um dengo, um chamego…
eu quero, eu dou, eu faço

depois do almoço,
no embalo da rede,
eu peço, eu quero, eu dou
um beijo, um abraço

no fim do dia, à noite,
no quentinho da cama
eu dou, eu quero eu peço
um carinho, um amasso

e assim, de dia e de noite,
eu amo teu cheiro,
eu amo teu gosto…
eu amo estar nos teus braços

Patrícia Andrade

Poema de agora: RESPIRO – Pat Andrade

RESPIRO

quando preciso ser mais forte
é minha poesia que me dá suporte
quando minha voz se cala
é minha poesia que fala
quando me sinto triste
é minha poesia que subsiste
quando a angústia aumenta
é minha poesia que me sustenta

então não cale minha poesia
não encarcere minha rima
não sufoque minha lira
deixe que ela viva e grite
as dores do mundo
que chore e sofra o meu penar

é minha poesia que me faz respirar

PAT ANDRADE

Poema de agora: Um caminho para o coração – Pat Andrade

Um caminho para o coração

são muitas as barreiras
parece difícil de acessar
tem pedras, tem espinhos
é bem penoso o caminhar

a trilha é longa e estreita
pouca sombra pra descansar
mas, devagar e com cuidado,
uma hora se há de chegar

deve ser boa a recompensa
desistir não é uma opção
é preciso ir até o fim da estrada
pra abrir a porta do coração

Pat Andrade

Poema de agora: AS JANELAS – Pat Andrade

AS JANELAS

estou trancafiada…
o teto é muito baixo
e achata os pensamentos

as paredes comprimem
minhas vontades
o corredor estreita
meus desejos
(que nem são tantos)

apenas as janelas da casa
são minhas aliadas.
elas libertam
meus pensamentos
deixam escapar
minha imaginação
(que se espreguiça
com os gatos)
pelos telhados

é pelas janelas
que grito e solto
minha poesia

PAT ANDRADE

Poema de agora: PRIMAVERA EM PARIS (de Patrícia Andrade para seu amigo Cruz)

PRIMAVERA EM PARIS

Para meu amigo Cruz

é primavera em Paris
e aqui as aranhas tecem casas inteiras
as flores murcham nos vasos
e os olhares são embaciados

é primavera em Paris
e aqui choramos por noites inteiras
por tantos vasos quebrados
por olhos já fechados

é primavera em Paris
e o artista pinta telas inteiras
com a dor que vem das quebradas
através de seus olhos vidrados

é primavera em Paris
e o coração percorre as fronteiras
pra quebrar a saudade em pedaços
e alegrar seus olhos cansados

PATRÍCIA ANDRADE

Poema de agora: OBSCURO ABSURDO – Pat Andrade

OBSCURO ABSURDO

acordei dentro do absurdo
num mundo obscuro
tateio em torno sem tocar em nada
em curtos passos exploro o parco espaço

reviro a casa, descarto objetos
misturo as rotinas, espano o teto
caminho a esmo pelo imaginário
me dispo das dores dentro do armário

não caibo mais em mim e a loucura me espreita
enxergo o jardim da janela à direita
mas não vejo flores

no mundo lá de fora não há desespero
mas posso ver as dores e o medo
viro de lado e tento dormir

amanhã, acordo cedo

Pat Andrade