Inquietação incrédula


As noites de sono perdidas ao imaginar os feitos bons e ruins que justifiquem as voltas que o mundo dá e, os caminhos que nos levam a um lugar qualquer, remetem à reflexões vazias sobre a impotência diante de nossas frágeis vidas.

Que o nome seja destino, karma, acaso, o certo por linhas tortas, não nos detenhamos a definições para as inexplicáveis consequências às quais nos submetemos direta ou indiretamente.

Apenas ilusões…Alguns ateus felizes.

As inúmeras razões responsáveis pela perda do controle da emoção, estimulam à busca por um bode expiatório, alguém em quem por a culpa… Das mudanças nos planos, do tempo perdido, das desistências covardes, de todo o tipo de abandono;

O certo é que nada fica por isso mesmo na doce ilusão que nos acompanha, de que o mundo de fato é uma roda e tudo que vai, um dia volta…

Não há nada que se sustente em pilares construídos sobre as lágrimas de alguém, outrossim, Charles Chaplin replica, “nada é permanente nesse mundo malvado, nem nossos problemas”, soa como um conforto para seguir em frente.

Construímos estratégias e recuamos.

E, se ainda amarmos nossos piores inimigos, quando será a melhor hora de contra atacar? Os deixaremos acordar?

Contudo, se não houver sequer respeito, que o golpe seja fatal e deixemos os mortos, bem mortos.

Hellen Cortezolli

A descrição de Quintana me cai bem

Minha alma deficiente, me fez louca, cega e surda, muda e paralítica. A diabetes ainda não se manifestou completamente e minha pequenez é ainda menor que a de um anão. Tão pobremente miserável, apesar de indigna me resta um sopro de vida, porque a “amizade é um amor que nunca morre” e isso ainda me sustenta.

Hellen Cortezolli


DEFICIÊNCIAS 

Deficiente” é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
“Louco” é quem não procura ser feliz com o que possui”.
“Cego” é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
“Surdo” é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir os seus tostões no fim do mês.
“Mudo” é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
“Paralítico” é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
“Diabético” é quem não consegue ser doce.
“Anão” é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:”Miseráveis” são todos que não conseguem falar com Deus.
“A amizade é um amor que nunca morre.

Mário Quintana (escritor gaúcho nascido em 30/07/1906 e morto em 05/05/1994)

Poema de hoje: Nem flores, nem frutos


Nem flores, nem frutos 


Minha mente me faz pensar que na primavera não irei florescer, não darei frutos.
Meus pensamentos não congelaram no inverno, mas sinto que sequei como as folhas no outono.

Quanto mais reflito, vejo o mesmo da janela da alma e envelheço.
Tem algo lá, muito parecido com cinzas ou apenas pó.

Não rejeito o amor romântico, apenas o evito.
Me assemelho a um redemoinho, sem vento.

Hellen Cortezolli

Li e gostei: “A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional…”

Gostaria de falar sobre a Legião Urbana de uma forma clara e objetiva. Mas para isso eu precisaria estar em UMA OUTRA ESTAÇÃO. Talvez, QUANDO O SOL BATER NA JANELA DO MEU QUARTO, eu encontre no LIVRO DOS DIAS a inspiração que POR ENQUANTO não tenho.
EU SEI que HÁ TEMPOS, MENINOS E MENINAS, estão tentando entender Renato Russo, só que para isso precisariam mergulhar profundamente na FONTE DO ESPÍRITO.
Hoje pode não ser UM DIA PERFEITO para se falar sobre Legião Urbana, se houvesse MÚSICA AMBIENTE, poderia até me sobressair melhor, mas A TEMPESTADE que se forma aqui, LONGE DO MEU LADO, me deixa muito a desejar.
MAURÍCIO, LEILA, NATÁLIA, CLARISSE, EDUARDO E MÔNICA, muitos são os SOLDADOS que lutam heróicamente para que a Legião Urbana não se desfaça em MIL PEDAÇOS.
A GERAÇÃO COCA-COLA, às vezes se sente confusa, pois O MUNDO ANDA TÃO COMPLICADO. São DUAS TRIBOS, PAIS E FILHOS, uns aos VINTE E NOVE, outros, DEZESSEIS, brincando de ÍNDIOS e FAROESTE CABOCLO, na tentativa de serem diferentes, só que no final acabam sendo sempre o MAIS DO MESMO.
EU ERA UM LOBISOMEM JUVENIL, quando comecei a curtir Legião Urbana, e agora vejo que não foi TEMPO PERDIDO.
Quando ouço certas músicas parece que estou a viajar por entre a MONTANHA MÁGICA e o MONTE CASTELO, e num piscar de olhos já estou sentindo o VENTO NO LITORAL e observando OS BARCOS, mas voltando à realidade vejo que não passou de uma L’AVENTURA.
Sei que AINDA É CEDO, mas SÓ POR HOJE quero ficar olhando a VIA LÁCTEA, apreciando as SETE CIDADES, apesar de que HOJE NÃO TEM LUAR.
QUASE SEM QUERER, MARCIANOS INVADEM A TERRA, mas tudo não passa de um DADO VICIADO, de uma legião de fãs que a muito se esqueceram das FLORES DO MAL, mas que procuram entender o TEATRO DOS VAMPIROS.
Com a morte de Renato, até OS ANJOS perderam a PERFEIÇÃO, e ANTES DAS SEIS, QUANDO EU ESTIVER CANTANDO LOVE IN THE AFTERNOON, quero novamente rever Renato Russo fazendo um METAL CONTRA AS NUVENS, ESPERANDO POR MIM.
Marcos J. Silva.

NARIZ (Ronaldo Rodrigues)

Por Ronaldo Rodrigues

Meu nariz cansou de mim. Diz que não sou digno dele. E propõe que nos separemos. Que eu fique com os olhos, que não aceitaram a proposta de ir embora. Que eu fique com a perna, com o pé. Que eu não conte com o dedão, que deve fugir na primeira bobeada. Uma topada serve.

Mas o que é isso? Meu nariz acaba de dizer, na minha cara, que vai embora e ainda instiga a debandada de todos os meus órgãos!

Segurei os óculos imediatamente. Temi que a orelha, dando ouvidos ao nariz, se evadisse, levando os óculos pra, sei lá, ter uma companhia, no mínimo.

Eu estava de mãos atadas com aquela situação e espero não vê-las dando aceno de despedida e se juntando ao nariz naquela tresloucada deserção.

Como vou negociar com meu nariz se tenho apenas 16 anos, não tenho a chave de casa, ainda não ganho o meu sustento?

Como vocês podem ver, eu não sou dono do meu nariz.

Texto quase de humor


Com quantos paus se faz uma canoa em Noa Noa? Será que o sol da meia-noite é mais forte que a lua do meio-dia? E a sereia? Seria de cera ou será que anoitecera?

Não sei responder às questões mais simples, dizer aquilo que ninguém sabe, saborear a comida a quilo que ninguém come.

A TV continuará, afinal, transmitindo a final do campeonato em que me mato torcendo pelo time que precisa fazer trinta e cinco gols para levar a decisão pros pênaltis?

Muitas perguntas e nada de dicas tipo vide o verso ou confira na página 44.

Eis que ouço a explosão. São pincéis atômicos explodindo em vários pontos do planeta. E não causam destruição. Pelo contrário. Há Um incêndio também. São corações incendiados de emoção fazendo a cidade arder de paixão.

Ouço o rugir da tempestade, mas calma! Trata-se de flores de várias cores caindo do céu e inundando a cidade.

Peço pausa para pichar o muro da folha de papel pra dizer que perdi o fio da meada, morri no frio da geada, perdi a última moda, fui moeda de troca e não me restou nada.

Voltemos, então, a este texto fora de contexto que soa apenas e a duras penas como pretexto pra minha vontade de escrever.

Lembro dos contos de fadas que minha avó contava. Ela gostava de interferir nas histórias, começando pelos títulos: A Raposa e as Saúvas, A Bela e a Fera Adormecida, João e Mariah Carey, O Grito Falante, Erram os Deuses e os Astronautas, Abominável Mundo Novo e por aí vai.

E o meu universo continuará rolando em prosa, em verso, em setembro, oitembro, novembro, dezembro. Ah! Nemlembro.

Até que, de repente, enfim: FIM!

Ronaldo Rodrigues


Drops

Um submarino viaja atravessando os esgotos da cidade. Vez em quando, sempre que descobre um bueiro, mete por ele o periscópio e fica olhando cá pra fora. E vê que aqui fora tem muito mais lixo que dentro dos esgotos.

Sem sono/ sem sonho, atravesso a madrugada. Navego no ego, à deriva. Atravesso um oceano de insônia. Navego sem balsa, sem bálsamo, a nado, sem nada no bolso. Sem alcançar horizonte, sem alçar vôo. Amanheço a esmo. Permaneço o mesmo.

Um enfermo, um vampiro, um sábio chinês. Olhando-os rapidamente percebo serem as faces de uma mulher que se recusa envelhecer.

Papai Noel passeia pelas ruas desertas da cidade. Como/onde achar um bar aberto a essa hora da madruga?

Os dedos passeiam pelas cordas do violão. Pelo buraco saltam golfinhos verdes, azuis, brancos, laranjas… e ficam nadando na partitura.


Olhos atentos do cyborg na silhueta de Marilyn.

O balão estoura: bolhas de sabão no ar, cacos de vidro no chão.

A lágrima do olho esquerdo do palhaço cai no centro do picadeiro. Dela nasce uma flor gigantesca de onde saltam peixes e cristais.

Na mais movimentada avenida da metrópole os arranha-céus se movimentam em direção ao iceberg. O naufrágio é inevitável.

Em frente ao computador os dedos pressionam as teclas. As impressões digitais ficam impressas no monitor.

Ronaldo Rodrigues

Por de trás da parede

Acho bonita a sonoridade que tem as frases que terminam com a palavra parede. Talvez por remeter a uma análise profunda do próprio “eu “, projetado em uma extensão capaz de isola-lo do mundo… Mesmo que por breves instantes, parede reparte o todo, cuja intenção é organizar. Parede para alguma coisa, mesmo que intrinsecamente deixe continuar…

Qual seria o grau de criatividade se as pessoas pudessem passar algum tempo do dia olhando para a parede? Quais seriam as reflexões mais comuns? Só vale parede, entendeu? Nada de imaginar pintar o teto de bege, esse exercício é para outro momento.

Enfim, se a parede não fosse algo capaz de atrair a imaginação da humanidade, não seria comumente utilizada para declarar amor, ódio, protesto ou ainda servir de tela para o bom ou mau gosto estéticos.

Acredito que não era à toa que crianças quando castigadas, deveriam se voltar às paredes, por assim imaginarem o quanto seria possível refletir, ou quantos super-heróis iriam invocar para que fossem resgatadas dali.

Derrube paredes para construir amizades.
Recorte paredes para ter novos acessos.
Levante paredes para reorganizar sua privacidade, ou quem sabe apenas pare de…

Hellen Cortezolli

A vida


Eu andei pensando com meus botões, analisando a minha vida e de pessoas que eram bem próximas a mim, há somente três anos. Me deparei com o óbvio: como essa porra muda! Um turbilhão doido, sempre trabalhando, amando, odiando, pirando, e, às vezes, somente ignorando. São tantos momentos eufóricos e decepcionantes, uma verdadeira roda viva!

Em 2009, eu não tava numa boa fase profissional e minha afetiva tava complicada. Sem falar que eu fazia parte de um grupo de “amigos” fechadão (que eu ajudei a lacrar e também contribui para desmembrar). Às vezes, me pergunto se essa gente ta feliz. Espero que sim. Pois apesar de tudo que fiz e que fizeram, tem muita coisa guardada na memória e no coração. 

É, como disse o poeta: “vida louca, vida”. Um movimento continuo onde o tempo não pára e passamos conquistando amigos, fazendo inimigos, desatando nós, reatando laços, pulando fogueiras, fazendo planos, desfazendo ilusões, levando punhaladas, dando coices sem querer, batendo forte de propósito, atirando no escuro, errando querendo acertar, conquistando e perdendo espaço, levando muita porrada e sorte. 

Os anos seguintes foram de ascensão profissional, tropeços afetivos, de conhecer gente (muita gente) e chegar a tal bonança, pós-tempestade. Graças a Deus, sou muito feliz e trabalharei para continuar nesta condição. 

Enfim, eu já disse isso antes, mas sempre me surpreendo, por isso, repito: a vida é sistemático processo de aventuras e desventuras em série. Um esforço continuo em busca da felicidade. É uma onda muito doida e passa voando, portanto, viva!

* Texto escrito há algum tempo e adequado para 2 de setembro de 2012

Elton Tavares