Poema de agora: ALMAS MALVADAS – Joãozinho Gomes

ALMAS MALVADAS

O mundo está sujo de gente má
Oh arte me diga pra onde eu fujo?
A gente carece de se abrigar
Poeta é um gauche estapafúrdio
Ao foco embaçado do vil olhar
Do rei desumano do vão repúdio
Senhor do império crepuscular
Algoz contumaz do meu prelúdio

Oh arte qual casa a nos abrigar?
Não temos a sorte do caramujo
Que leva nas costas seu doce lar
Levando consigo o seu refúgio
Mas temos a dádiva de entoar
Doar, dividir entre todo mundo
Canções e palavras lavradas, ó pá!
No livre canteiro fértil fecundo

O mundo está sujo de gente má
E a arte a lavar o bendito-cujo
Com a lágrima rubra a bom rolar
Na face assustada do astro ruivo
Desvia o seu curso para escoar
A lama empoçada do pós-dilúvio
Que almas malvadas, assolará
Regido por asas de anjos plúvios.

Joãozinho Gomes

Poema de agora: Caixa postal – (@ThiagoSoeiro)

Iluistração: Brunna Mancuso

Caixa postal

mudo as estações do rádio
na esperança de te achar
em alguma canção
ou anúncio publicitário
há dias te procuro nos letreiros da cidade
entre as linhas da minha mão
mas parece que você brinca
de esconde-esconde comigo
quando chego
você já saiu
nem nos meus sonhos você aparece mais
fugiu até a última página de um romance velho
tuas iniciais em tinta vermelha
teu nome guardado pra sempre
na estante do quarto
e esse telefone que não toca.

Thiago Soeiro

Poema de agora: EXÍLIO – Luiz Jorge Ferreira

EXÍLIO

Estou pronto para ir às estrelas.
Coloquei as meias sujas dos últimos passos.
Limpei com areia as lentes cinzas dos óculos.
E arrumei ideais sobre ideias, e lembranças inúteis.
Entre planos esquecidos emudeci alguns dos meus gritos.
E violentei minhas sombras projetadas na parede da sala.
Com sílabas tônicas retiradas de uma música afônica.
Saída de um rádio sobre a estante.

Estou pronto para ir às estrelas.
Rabisquei com os dedos sujos de dedos.
Rotas estranhas que vão se perder em suas axilas.
Desaparecer em suas costas largas, e embaraçarem-se entre seus cabelos.
E como anônimos Pontos Cardeais, retornarem a mim.
Eu agora, sombra pregada na parede, ando em círculos, tendo contra mim, o Tempo e o Vento.
Ambos velhos e cabisbaixos…surdos a música afônica que sai pela boca do rádio.
E escapa pela fresta da janela.

Estou pronto para ir às estrelas.
Satisfaço-me em lembrá-la como antes.
Lábios abertos, e estilhaços de risos, flutuando até mim.
Eu estou com as mãos ocupadas pelas palavras.
Livrando-as da chuva fina que enfileira pingos.

Escrevo algo como tantos outros algos que escrevi, talvez uma despedida para ninguém, ou um pequeno adeus.
E nunca os completo!

Fica difícil exilar-me nas estrelas.
Há a angustia da espera, que me enche de nódoas .
Umas nuvens vagabundas escondendo a saída.
E um barulho rouco de uma música.
Algo como um choro, que sai da boca do rádio.
No momento maravilhoso em que calo.
As mãos, e a fala.

Luiz Jorge Ferreira

 

* Poema do Livro Thybum – Editora Expressão & Arte – 2004 – São Paulo.
**Além de poeta, Luiz Jorge Ferreira é cronista, contista, escritor e médico amapaense que reside em São Paulo e também é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames).

“Único – Poemas Escolhidos”, o novo livro artesanal de poesias da Pat Andrade está disponível para aquisição

A poetisa e colaboradora deste site, que assina a sessão “Caleidoscópio da Pat”, Patrícia Andrade, lançou seu novo livro artesanal de poesias. A obra, denominada “Único – Poemas Escolhidos”, possui 30 poemas manuscritos e ilustrados pela escritora. Além disso, cada um dos 30 (sim, somente 30 livros) tem uma capa exclusiva.

Há 19 anos em Macapá, a poetisa paraense escreve belos poemas, declama, edita seus livros. Ela sempre comercializa suas obras em eventos culturais bares e da capital amapaense.

Sempre compro e recomendo. Aliás, já encomendei o meu “Único – Poemas Escolhidos”. Corre lá com a Pat e compre o seu!

Serviço:

ÚNICO – POEMAS ESCOLHIDOS
Livro artesanal (10x15cm).
São 30 poemas, manuscritos e ilustrados por Pat Andrade.
Capas exclusivas. Apenas 30 exemplares.
(96)99188-6565 (W’app – Patrícia Andrade)

Elton Tavares, com informações de Pat Andrade.

Poema de agora: A faca no peito – @ThiagoSoeiro


A faca no peito

é neste nó no meu peito
que engatam as palavras
eu não saberia dizer que é mentira
quando tu perguntas se é a ti que amo
um golpe certeiro
uma faca no peito
esse sentimento
que beira a imoralidade
me pego contando as tábuas no teto
tudo parece ter um pouco de nostalgia
a janela do quarto aberta
tuas mãos me abrindo caminho
não saberia dizer se ainda estou vivo
ou se aqui é o céu.
deveria ser proibido
amar tanto alguém assim.

Thiago Soeiro

Poema de agora: – Avesso do Espantalho – Luiz Jorge Ferreira

Avesso do Espantalho

Depois que mamãe morreu, sobramos eu, uma bailarina de louça, e um dog de nome Flip.
Um sobrado enorme de frente para o sol, ficou maior ainda.
O cão viciou-se em mostarda, e eu me viciei em solidão.
A bailarina de louça tornou-se alcoólatra.Iniciou a colecionar Posters da Madonna, e filmes antigos do Paul Newman.


Todas as Quintas-feiras, assim que começava a chover, ouvíamos Jazz.
Em noites de lua cheia Frank Sinatra, e assim que íamos dormir, Tom Jobim.
Eu não cortei mais as unhas dos pés, e Flip não roeu mais ossos, e começou a comer alpiste.
As coisas de mamãe dobrei, e as coloquei dentro de um dedal.
Suas teorias sobre a preamar, e acasalamento dos botos, transcrevi em Morse.
As roupas mais coloridas, os apetrechos, os penduricalhos, e os olhares mais a fins, doei para a bailarina de louça.
Com ela a prendi a dançar Fado, domesticar Faunos, e beber orvalho.

O sol invadiu a casa. Enferrujou as janelas.
Descascou as paredes.
Empenou as portas.
Fragmentou as telhas.
Sugou as falas.
Sujou as idéias.
Apagou os sorrisos.
Por fim, exausto, foi.

Ficamos sentados ao redor de mim.
Eu, e dog , e a bailarina de louça.
Contando calados, as batidas ímpares do meu coração.
Eternamente… começando por cinco.

Luiz Jorge Ferreira

 

* Do Livro O Avesso do Espantalho. Scortecci / 2010/ São Paulo.Brasil.
** Além de poeta, Luiz Jorge Ferreira é cronista, contista, escritor e médico amapaense que reside em São Paulo e também é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames).

Poema de agora: Beijo Revolucionário (Pat Andrade)

Beijo Revolucionário

Brasília, 1999
entre centenas de bandeiras,
o vermelho da paixão…
entre as palavras de ordem,
tua voz ecoava mais alto,
causando sensação.
ditador e imperioso,
ignorando o comando de greve,
o amor ocupou meu coração.
veio o beijo,
em plena manifestação…
apaixonado, avassalador,
instalou em mim a revolução.

Pat Andrade

 

Poema de agora: ESPANTALHO (Luiz Jorge Ferreira)

ESPANTALHO

Estou nu, mesmo coberto de pele, de pêlo, de pó.
Estou azul, mesmo colorido da nódoa do tempo.
O que desboto, empilho em monte de ferrugem, e dor.
O que estilhaço, amarro em feixes de lágrimas, e saudades.
O que mastigo, engulo em noites de insônia.
Estou sem cor, sem cheiro, sem tato,sem olfato, e sem paladar.
Estou no mesmo lugar sempre, embora a vida toda eu vague.
De dentro para fora de mim, de mim para fora do dentro.

Sou um Espantalho.
Mantenho os braços abertos para um abraço eterno, com sol e lua.
Tenho um sorriso calado e um grito amordaçado, enormementes pequenos.
Talvez se eu gritar, eu fale, talvez se eu falar, eu grite.
Eu sou um Espantalho, que amo as coisas ao contrário.
A água, o rio, a chuva, o silêncio, a balbúrdia dos Quero-Queros, a solidão da semente, a doçura da serpente, colorida e traiçoeira.
Eu recebo o pouso, dos insetos, das abelhas, e das folhas secas.
Eu sou uma ratoeira, e eu próprio caio nela.

Estou palha, e estou barro.
Estou indo, e estou parado.
Estou cercado de nada, e até o nada me incomoda.
Até que o nada sou eu, e até que eu sou o nada.

Quando me dispo da palha, do chapéu, e do olhar.
Quando me deixo, e me espalho, e me perco mais de mim.
Aí, eu sou o Espantalho, aí eu sei o que valho.
Mas aí.
É tarde demais.

                                                                                    Luiz Jorge Ferreira

* Do Livro O Avesso do Espantalho. Scortecci / 2010/ São Paulo.Brasil.
** Além de poeta, Luiz Jorge Ferreira é cronista, contista, escritor e médico amapaense que reside em São Paulo e também é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames).

Hoje rola “Palco Os Pinducos”, no projeto Arte Tattoo Naldo Amaral

Nesta quarta-feira (12), no projeto Arte Tattoo Naldo Amaral, vai rolar “Palco Os Pinducos”, banda das ilhargas de Macapá, que possui repertório tipicamente nortista. Com canções autorais e sucessos do carimbó, Cacicó e outros ritmos, eles prometem fazer a festa do público.

A noite contará com participações especiais dos cantores João Amorim, Silmara Lobato; Megh Araújo, Fanie Caena e Erick Pureza. Além de muita poesia com Patrícia Andrade; Hayam Chandra e Lia Borralho.

Serviço:

“Palco Os Pinducos”
Local: Naldo Amaral Tattoo, na Avenida Cora de Carvalho, Nº 360, centro de Macapá.
Hora: a partir das 19h
Mais informações pelo telefone: 96-981090563.
Entrada: gratuita.

Elton Tavares

Poema de agora: Em cima da borboleta uma planta! – Annie de Carvalho

Ilutração de Felícia Bastos ([email protected])

Em cima da borboleta uma planta!

É verdade
mas, não importa se acredita
a planta pousa na borboleta.

Matizes de poemas aromatizantes
surgem na linha imaginária que separa
a seiva do dia… como flecha que passa.

Mas eu garanto tudo acaba quando
a parca natureza humana
em vez da flor colhe o espanto.

Annie de Carvalho