Poema de agora: DISTOPIA – Fernando Canto

DISTOPIA

Aqui
Onde a língua corta a faca
Há um jogo de eternidades
Na memória dos falantes
– Esses deuses que sabem todas as senhas dos mortais,
Seres que aplainam a tábua dos fatos
Para lhes tirar os excessos que lhes condenariam

Aqui
Há casas sobre as águas
Feitas com os crassos troncos das marés
Aqui mora a ira
Mora a iracúndia profunda expressa em rugas
E o costume de engolir palavras nunca articuladas

Do convívio estreito com o sol
Dentes se oxidam e línguas apodrecem
Sem sonhar futuros e a embotar o brilho das estrelas

Talvez numa estrada de águas e ínguas
Uma légua de língua corte a jugular
Para sair a palavra evasiva ao último esforço
Aqui, onde se mastiga a sílaba silente

Fernando Canto

Hoje rola “VII Aniversarau do Pena & Pergaminho”

 

Evento ocorrerá no próximo sábado, 23 de março às 19h no Sesc Centro.

O Sistema Fecomércio AP, por meio do Serviço Social do Comércio (Sesc), inicia as comemorações de sete anos da Associação Cultural Pena & Pergaminho. Em comemoração à data, será realizada mais uma edição comemorativa de aniversário, chamada “Aniversarau”, que acontecerá no dia 23 de março, no Sesc Centro, a partir das 19h e a entrada será gratuita.

Na ocasião será lançada a “Antologia Pena e Pergaminho” que é resultado do trabalho feito durante esses sete anos, valorizando o trabalho de jovens poetas e que, atualmente, conta com a participação de 40 escritores. Além disso, neste dia, terá também declamações poéticas, apresentação musical e intervenções literárias.

Movimento Literário

Com o objetivo de democratização da literatura, o projeto “Movimento Literário” é uma associação cultural sem fins lucrativos, aberta a toda a comunidade, para artistas de diferentes vertentes e para o público apreciador e multiplicador da arte, em suas mais variadas formas e estilos. A associação realiza ações literárias, para apreciadores da arte cultural literária, abarcando todas as faixas etárias, o que engloba um público maior, por não ter censura de idade.

Serviço – Sesc Amapá

Larissa Lobato – Coordenadora de Comunicação & Marketing
Marcel Ferreira – Assessoria de Comunicação e Marketing
Anézia Lima – Estagiária de Jornalismo
Email: [email protected]
Fone: (96)3241-4440 (ramal 235)

Poema de agora: MERCADO DE CARNE – Obdias Araújo

MERCADO DE CARNE

Era só enfiar o dedo indicador no canto da boca
Melar bem de cuspo e erguer a mão
Com o dedo apontado.
O friozinho apontava a direção do vento.

Chico Marques…

Bom mesmo era à boca da noite
Quando soprava o Terral
e as cangulas chinavam
lá pras bandas do Del Pillar.

Foi ali
Bem pertinho da barbearia do Timboteua.

O sujeito em ridículo decúbito dorsal
Calça Brim-Coringa até os joelhos
Parafuso de ponte – dos grandes! – atoxado no fiofó.

Acolá no clipper o Amilar Brenha no cavaco
Fazendo ponteados para o Mercedes Benz do Caixa-de-Cebola

Pai d’égua também era brechar as putas do Maria-Mucura
Ou as filhas do Santa Brígida nuínhas em pelo
Tomando banho no quintal embaixo do coqueiro todo meio-dia.

Em frente a bar du Pedro o inspetor Oto
Vermelho de birita esbravejava que
O balão de aço do moleque petequeiro
Era roubada da balança do Mercado-de-Carne

Mentira!
Ele queria mesmo era as petecas.

Encheu os bolsos e saiu
Assoviando a canção da Guarda Territorial
Sem dar bola para o choro dos meninos.

Na verdade o que eles queriam era ensinar que
As esferas de aço da balança tinham
Uma cintura para a prancha não deslizar
Debaixo dos quarto de boi e dos quilos de peixe
Que o picolé trazia nas costas
Paneiros enormes!

A solução encontrada
Após rápidas confabulações foi alçar a baladeira e tocar
No lombo do meganha o que sobrou das petecas.

E mais o balão restante bem maior que o primeiro

– este sim roubado da única balança do mercado
Bem debaixo do único olho de Lachina.

Obdias Araújo

Exposição de obras e autores marca comemoração do Dia Nacional da Poesia na Escola SESI Amapá

Por meio do contato com obras literárias, os alunos da Escola do Serviço Social da Indústria (SESI) do Amapá comemoraram o Dia Nacional da Poesia. A programação, realizada na biblioteca da instituição, contou com exposição de obras de poetas brasileiros e portugueses. Participaram estudantes da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Novo Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos.

De acordo com a colaboradora da biblioteca, Lucineide Esteves, foram programadas atividades que promoveram a leitura e o contato dos alunos com publicações de poemas e poesias. “Poemas bem escritos inspiram e nos fazem refletir. O objetivo dessa ação é contribuir para o crescimento intelectual de nossos alunos, e incentivar o hábito de ler e escrever”, frisou a colaboradora.

Ana Carolina Santos prestigiou a programação com o filho Gabriel de 4 anos, elogiou o varal de poesias. “As crianças gostam muito de ouvir histórias e manusear os livros, fazendo sua própria leitura. A literatura é indispensável no ambiente educativo”, destacou.

Dia Mundial da Poesia

O Dia Mundial da Poesia é celebrado em 21 de março. Foi criado com o intuito de comemorar a diversidade do diálogo, a livre criação de ideias por meio das palavras, da criatividade e da inovação. A data confere importância à reflexão sobre o poder da linguagem e do desenvolvimento das habilidades criativas de cada pessoa.

Assessoria de Comunicação do SESI/SENAI – AP
Contato: (96) 3084-8944
E-mail: [email protected]

Poema de agora: Ethereal (@cantigadeninar )

Ethereal

há uma citação de Scott Fitzgerald…
there are all types
of love in this world
but never the same love twice.
amores são sempre tão plurais
e singulares em cada recomeço…
basta dar adeus aos ais
abrindo chance para virar-se do avesso.
amores vêm e vão:
alguns resistem aos empecilhos,
outros ficam retidos em algum vão,
uma fresta, lapsos temporais presos em estribilhos
de poemas nunca publicados,
pelo chão espalhados,
por toda a casa;
casa esta que está impregnada
do aroma de antigos buquês de flores
e das lembranças de cada namorada.
eis que entre todos os amores,
um único é o amor de sua vida:
o dono da mais úmida lágrima derramada,
durante meses contida,
na resistência de aceitar a perda da amada.
em meio a esse processo
é perdoável qualquer excesso:
quando dizes se cuida,
no fundo ainda quero ser cuidada.
a tal tristeza é comprida,
cumprida fielmente e a cada dia
crescida na esperança de ser curada.
de todos os amores que tive,
em apenas um me detive:
o amor que se perpe(tua).
em mim há a absoluta certeza
de que serei permanentemente tua
e essa é minha maior fra(n)queza,
porque sou livre e mesmo assim sigo na contramão
ao ser ciente
de que meu efêmero coração
te pertence
eternamente.

Lara Utzig

Poema de agora: Beijo Divino – Graça Penafort

Beijo Divino

Manhã chuvosa
Lágrimas do céu caem sobre nós.
O coração desconhece a dor e a alegria.
Só os sentidos falam.
Entre o verde repousante,
bela, glamurosa, delicada,
abre-se à Luz a perfeição do Universo.
Limito-me a contemplá-la.
O impulso é devastador: arrasta-me!
Meus lábios tímidos procuram as pétalas molhadas.
Isso basta.
Um quase imperceptível perfume desperta-me à poesia.
É o beijo divino na minha boca profana.

Graça Penafort

Fonte: Blog da Alcinéa

Poema de agora:Bússola – (@cantigadeninar)

Bússola

Imagem de compass, vintage, and grunge
éramos felizes:
encontramo-nos por acaso.
porém, de uns tempos pra cá
começou um descompasso…
antes caminhávamos juntas,
combinando bem os passos.
agora tropeçamos:
meu pé direito, em direção ao futuro,
se atrapalha com teu pé esquerdo
emperrado
no passado.
e no desritmado compasso
estancamos no marasmo
dos desentendimentos estúpidos
no meio da Avenida FAB.
eu quase caí num bueiro,
tu desviaste de um buraco.
nem sei mais pra onde íamos,
tamanho o embaraço.
de tanto discutir em vão,
a fim de não perder o norte
[era para a praça da Bandeira,
Parque do Forte,
ou à orla da cidade?]
soltei de vez tua mão
e segui rumo à liberdade.

Lara Utzig

Poema de agora: (A) POETA DEUS – De Ori Fonseca para Pat Andrade

A poeta Pat Andrade – Foto Paulo Rocha.

(A) POETA DEUS

“Deus é bom! Obrigada”, disse a poeta
Deus se ri dela que acredita
Deus chora a me pedir que acredite.
A poesia é um jogo de crenças
Eu acredito em Pat
Pat acredita em Deus
Deus não acredita em ninguém
A poesia acredita em tudo
Eu, mudo, quero Pat em tudo
Pat, quer Deus, o orador mudo
A poesia quer a todos, eu escuto
Deus não quer ninguém.
Tá puto!

Ori Fonseca

Poema de agora: Acaso – (@cantigadeninar)

Acaso

Sorveterias sobrevivem de domingos.
Alfajores são vendidos a turistas.
Pet shops enriquecem com a tosa de poodles.
Cinemas encarecem ingressos para filmes 3D.

A parada do Dia de São Patrício desfila.
A fila do banco dá voltas no quarteirão.
O extrato aponta R$0,29 na conta corrente.
Livros emprestados são devolvidos com orelhas.

Carimbos dão ciência em papeladas burocráticas.
A caixa de entrada acumula spams “aumente seu pênis”.
A vida segue seu diário curso como sempre.
Minhas mãos criam rugas e a barriga aumenta.

Escadas rolantes levam à praça de alimentação.
Professores tecnológicos passam slides no datashow.
Carteirinhas estudantis concedem meia-entrada.
Bolsonaro propaga discursos de ódio.

O destino tsunami revolve as ondas da rotina.
Um arco-íris se ergue por detrás do outdoor.
A beleza se manifesta na Orla do Rio Amazonas.
Minha retina assiste a tudo com óculos de sol.

Lara Utzig

Poema de agora: Velho Balcão – Luiz Jorge Ferreira

Velho Balcão

E se sobre a pele dos caboclos o Sol desenhou tatuagens de outras paragens.
Nas suas fêmeas- riscou um Sol aceso, e uma lua apagada.
Já no meio da rua a noite cedeu a azulidade do céu para o breu.
Isso tudo eu escondo nas fotografias dentro da memória onde tenho as cédulas de identidade.

Na fotografia, o balcão da venda de Seu Bill.
Sofre de solidão, marcado dos sulcos deixados pelos cotovelos, e sobrevoado pelo vôo dos copos do balcão a boca.
É uma ilha.
Onde tropegas…sede e fome.
Dão as cartas.


Ele reflete o pôster de Rose de Primo, que estimula os desejos pregado na parede.
Na parede tem a cal que racha e fraqueja, repleta do odor nauseante de carne seca.
Tem a queda de cascas de tinta, e cada casca solitária, cai manchada do tempo que a colocou Ontem lá .


Tem o barulho do sino da igreja que desce pela laje, e cai no bueiro.
Tem a negritude inteira da Noite.
É ela que toma assento nos degraus, sopra ventos mais frios, e cutuca para dentro.
A cor negra que orgulhosamente transborda.No bairro negro do Laguinho.

Indiferente a esse episódio rotineiro.
Vão-se os Janeiros, um a um para detrás da Igreja.
E se eu retiro os cotovelos do horizonte e os acompanho como ordena a vida.
Eu sumo!

Luiz Jorge Ferreira

* Do livro “Nunca mais vou sair de mim, sem levar as Asas”.

Poesia que não se esgota (do poeta Fernando Canto)

A poesia não se esgota no pensamento porque ela é o esforço da linguagem para fazer um mundo mais doce, mais puro em sua essência;

A poesia procura tocar o inacessível e conhecer o incognoscível na medida em que articula e conecta palavras e significados;

Cada imagem representada, projetada pelo sonho, pela imaginação ou pela realidade, é um símbolo que marca o que sabemos da vida e seus desdobramentos, às vezes fugidios.

Mas nem sempre é o poeta o autor dessa representação, pois tudo o que surge tem base social e comunitária, depende da vivência de realidade de quem propõe a linguagem e a criação poética.

Quando isso ocorre estamos diante da autenticidade do texto poético. E todos somos poetas, embora nem sempre saibamos disso. E ainda que nem tentemos sê-lo.

Fernando Canto

Edição do “Encontro com o Escritor”, na Biblioteca Pública Estadual Elcy Lacerda, recebe Fernando Canto nesta quinta-feira (14)

Nesta quinta-feira (14), a partir das 15h30, na Biblioteca Pública Estadual Elcy Lacerda, será realizada mais uma edição do “Encontro com o Escritor”, com o poeta e escritor, Fernando Canto. A entrada será gratuita. A iniciativa, da direção da Biblioteca em parceria com a Associação Literária do Estado do Amapá (Alieap), visa proporcionar a estudantes, professores, leitores, amantes da literatura o contato direto com poetas, contistas, cronistas e romancistas amapaenses.

Sobre Fernando Canto

Fernando Pimentel Canto, natural de Óbidos (PA), é macapaense em seu coração há mais de meio século. O Tucuju “pegado de galho” desde os sete anos, tem o título de Cidadão Amapaense. Também é imortal membro da Academia Amapaense de Letras (AAL), compositor, cantor, músico, jornalista, sociólogo, professor, Doutor, poeta, contador de histórias, causos e estórias, contista e cronista brilhante, apreciador e incentivador de arte, ícone da cultura amapaense, escritor “imparável, incentivador de todas as vertentes artísticas, membro fundador do Grupo Pilão e servidor da Universidade Federal do Amapá (Unifap).

Ao todo, Fernando Canto possui 16 obras publicadas. O escritor é estudioso e observador do seu mundo. Além de ser contista, poeta e cronista brilhante, também é um detalhista da memória, comportamento e cenários do Amapá. Tenho a honra de ser amigo deste gênio, pois é impossível contabilizar a contribuição dele para o desenvolvimento da nossa cultura.

Serviço:

Encontro com o escritor com Fernando Canto.
Data: 14/03/2019
Local: Biblioteca Pública Estadual Elcy Lacerda
Hora: 15h30
Entrada: gratuita

Elton Tavares