Palavras, palavras, palavras…

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Pouco me interesso pelo real. Somente os sonhos e os delírios me deixam em estado de alerta. Ou letargia total, sei lá! Agora, por exemplo, não sei se é sonho: o momento em que pouso o copo de uísque barato na mesa barata do boteco barato e tento continuar escrevendo estas linhas toscas, que ninguém lerá. 

O sonho em que pareço mergulhado nem sempre me dá prazer. Prazer é artigo de luxo. A TV mostra bombardeios horrendos narrados por repórteres em modelitos impecáveis. Os comentários das pessoas ao lado me desagradam profundamente. São opiniões equivocadas, que revelam o nível precário de consciência em que o ser humano chegou neste princípio de milênio. Penso em Caetano Veloso. Ele tem razão quando fala de uma nova Idade Média situada no futuro.

Posso pensar que a amargura dos ultrarromânticos escreveu belas páginas da literatura mundial. Em verdade, posso pensar qualquer coisa. E, quando estou de posse de uma caneta e um pedaço de papel, esse poder se transforma em palavras que revelam poder nenhum. A não ser uma sensação de aniquilamento. Mas prosseguiremos. Prosseguiremos?

Não há motivo aparente para desespero. E o desespero não existe realmente. Mas se existe no delírio, e é o delírio que me interessa, o desespero passa, então, a existir. Eu coloco uma distância entre o desespero que há e o sofrimento que ele pode causar. É como se eu fosse apenas o cinegrafista do filme que é minha vida. Um observador desatento, mas privilegiado, das coisas que acontecem comigo e que alguém, sentado na poltrona do cinema, pode dizer: “Ei! essa é a vida de alguém!”.

Um trabalhador que pega no batente às sete da manhã, o que o obriga a acordar às cinco, dirá: “Frescura! Na minha terra, homem que é homem não tem tempo ou disposição para questões que esse cara acha que abriga no peito, na cabeça”. É verdade. O tempo disso já passou. A adolescência não voltará para me redimir, me colocar nos eixos. Hoje, adulto, eu deveria saber que não há eixo algum. Há somente uma tentativa, por muitas vezes frustrada, de consciência. Saber-se na escuridão, tentando manter os olhos abertos.

BRASIL SEXACAMPEÃO!

Crônica de Ronaldo Rodrigues


O Brasil entra em campo com a cabeça erguida, disposto a dar no couro e traçar a maricota!

Ninguém vem aqui, na nossa casa, deitar na nossa cama e gozar na nossa cara!

Vamos botar quente nessa gringalhada bola murcha e dar uma goleada de deixar qualquer um sem fôôôôôôôôôôôôôôôlego!

Craques como Romário, Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho já deram prova de que matam a bola e mostram o pau!

Então vamos lá, galera! Agora é bola no pé e calcinha no chão!

Vamos suar a camisa, sem esquecer a camisinha, que a nossa torcida é toda deles!

Vamos entrar com bola e tudo porque nós é foda!

Sexacampeão! Sexacampeão! Sexacampeão!

Mas que porra é essa? (por falar em Copa do Mundo)

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Invoco meu pai neste momento (ele que era invocado pra caramba!) e pergunto: Mas que porra é essa?

Mas que porra é essa a que me refiro?, você deve estar pensando. A porra a que me refiro é esse lance de que o brasileiro não deve torcer pelo Brasil nesta Copa do Mundo. De que o brasileiro que se preza vai torcer para o Brasil (time) se dar mal e o Brasil (país) ser um fiasco na organização da Copa.

Ora, senhores! Desde que me entendo (se é que me entendo, entende?) o brasileiro torce pela seleção brasileira nas Copas do Mundo. Comemora as vitórias e chora as derrotas. Agora, que a Copa vai ser realizada no Brasil, vem esse papo de que quem torcer pelo sucesso da Copa está apoiando os corruptos que se aproveitam do evento para autopromoção e enriquecimento. Que a Copa deve ser boicotada. Que devemos torcer para que a Copa não se realize.

Pois eu digo que torcerei, sim, pelos dois Brasis: o time e o país. Porque tudo o que acontece no Brasil é um festival de corrupção, de desvio de dinheiro e superfaturamento. Corrupção no Brasil ocorre desde que Cabral deu na costa. Se é para boicotar a Copa por causa da corrupção, teríamos que boicotar os campeonatos estaduais e o brasileiro. Ou será que alguém ignora que corre mais corrupção fora das quatro linhas do a bola dentro de campo?

Claro que a constatação de que a corrupção está presente em todos os aspectos da vida brasileira não me deixa feliz. Mas por que a Copa deve pagar por isso? Pois bem! Em julho, estarei com a minha bandeira dando a maior bandeira, torcendo pelo Brasil e tomando a minha cerveja. E que se dane quem vai torcer contra.

*Fotos da Arena da Amazônia (encontradas no blog Espaço Aberto: http://blogdoespacoaberto.blogspot.com.br/ ) inaugurada ontem (9), em Manaus (AM). O jogo foi entre o time da casa, Nacional e Remo do Pará, pela Copa Verde. A partida terminou 2 x 2. Sobre o texto: assino embaixo (Elton Tavares). 

Palavras do nosso especialista de futebol

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Eis que é chegado o grande momento. Amanhã as cortinas se abrirão e os atores tomarão suas posições neste que é considerado o maior espetáculo da Terra. Vamos ver quem vai brilhar, quem vai ser ofuscado, quem vai surpreender, quem tem roupa na mochila, quem tem garrafa vazia pra vender. O especialista de futebol (e quem não é?) deste conceituado blog entra em campo e apresenta suas análises, tão estapafúrdias quanto às dos verdadeiros comentaristas, aqueles que são muito bem pagos pra falar merda. Eu falo merda de graça. Lá vai, galera!

Messi

O mais espanhol do que argentino Lionel Messi quer colocar Pelé pra escanteio. Antes disso, terá que mostrar que é maior do que Maradona, que, por sua vez, jamais superará Pelé. O baixinho Messi, com sua cara de rato, o messias dos argentinos, conta com a ajuda de seu conterrâneo papa Francisco para interceder junto a Deus, que todo mundo sabe que é brasileiro.

Cristiano Ronaldo

O galã de pornochanchada Cristiano Ronaldo deverá ficar com o título de Jogador Mais Bonito da Copa, já que o francês Ribéry está fora do mundial, por lesão, e o argentino Carlitos Tévez não foi convocado. O futebol de Cristiano Ronaldo é até bonzinho, mas não chega a bater o dos nossos Ronaldos, o Fenômeno e o Gaúcho. Cristiano Ronaldo poderá fazer uma boa Copa do Mundo, se não preferir ficar conferindo seu penteado nos telões dos estádios. 

E Neymar?

O que os deuses do futebol reservam para o nosso craque? Reservam não, já que ele é titular absoluto e não admite nem falar em reserva. Neymar pode surpreender e ganhar um título. Não o de Melhor Jogador da Copa, mas o Oscar de Melhor Ator, graças às suas dramáticas simulações de falta. Vamos torcer para que Neymar tenha topete para comandar o Brasil. Se bem que o Barcelona mandou cortar o topete dele assim que o contratou.

Bem, senhoras e senhores. Não sei mais o que falar. Na verdade, ninguém sabe, mas todo mundo enrola e eu termino com uma tirada de Romário, que comentou a Copa de 1998 para a Rede Globo. O locutor perguntou a Romário o que ele tinha achado de um lance e o baixinho respondeu, na maior cara de pau: – Esse lance foi… sem comentários! Depois ele pegou o cheque e foi curtir. Que é o que vou fazer agora, só que sem cheque. Até a próxima.

Quase um texto de humor

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Com quantos paus se faz uma canoa em Noa Noa? Será que o sol da meia-noite é mais forte que a lua do meio-dia? E a sereia? Seria de cera ou será que anoitecera?

Não sei responder às questões mais simples, dizer aquilo que ninguém sabe, saborear a comida a quilo que ninguém come.

A TV continuará, afinal, transmitindo a final do campeonato em que me mato torcendo pelo time que precisa fazer trinta e cinco gols para levar a decisão pros pênaltis?

Muitas perguntas e nada de dicas tipo vide o verso ou confira na página 44.

Eis que ouço a explosão. São pincéis atômicos explodindo em vários pontos do planeta e não causam destruição. Há um incêndio também. São corações incendiados de emoção fazendo a cidade arder de paixão.

Ouço o rugir da tempestade, mas calma! Trata-se de flores de várias cores caindo do céu e inundando a cidade.

Peço pausa para pichar o muro da folha de papel pra dizer que perdi o fio da meada, morri no frio da geada, perdi a última moda, fui moeda de troca e não me restou nada.

Voltemos, então, a este texto fora de contexto que soa apenas e a duras penas como pretexto pra minha vontade de escrever.

Lembro dos contos de fada que minha avó contava. Ela gostava de interferir nas histórias, começando pelos títulos: A Raposa e as Saúvas, A Bela e a Fera Adormecida, João e Mariah Carey, O Grito Falante, Erram os Deuses e os Astronautas, Abominável Mundo Novo, e por aí vai.

E o meu universo continuará rolando em prosa, em verso, em setembro, oitembro, novembro, dezembro. Ah! Nemlembro. Até que, de repente, enfim: FIM!

Uma carta para você

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Eu sei o que se passa bem lá no fundo dos seus corações! – Me diz a mosca, já decolando do meu corpo morto, à procura de outro corpo.

Não sei como estou aqui relatando isto, já que estou morto. Depois da explosão da última bomba nuclear, estamos aqui, todos mortos. As baratas não sobreviveram, esclarecendo um erro milenar que dizia que só as baratas sobreviveriam às explosões atômicas.

Nós, sim, sobrevivemos! – Me diz outra mosca que veio pousar em meu corpo morto. Ela também não fica por muito tempo. Durante estar aqui, um batalhão de moscas já pousou e levantou voo. Elas ficam fazendo esse rodízio. Não sei qual o motivo, mas deve haver um. Já entendi que as moscas não fazem nada em vão.

Estou morto, igual aos outros. Será que eles também estão conscientes? Será que eles também estão incomodados com as moscas? Será que elas estão falando com eles? Morri com o rosto virado para baixo, meus olhos direcionados ao chão. Outra coisa que não entendi. Achava que, expostos à radiação atômica, os corpos se desintegrariam, não sobraria matéria. Mais um engano. Será que algum estudo do passado está certo? Não dá pra saber.

Em todo caso, deixo aqui estas palavras para quem as encontrar. Talvez tenha utilidade no futuro. Se as moscas deixarem, é claro. Também não sei em que formato está escrito, mas não tenho tempo para pensar nisso. Vou parar de pensar agora e me entregar à morte. Antes que as moscas mudem de lugar.

A noite promete

Conto de Ronaldo Rodrigues

Acordo com a maçaneta da minha porta sendo forçada. Alguém tentando entrar no meu apartamento. Meio tonto, me dirijo à porta e pergunto quem está tentando entrar. Ouço voz feminina:

– Ah! Desculpe! Me enganei de apartamento…

Logo me passa pela cabeça: se uma mulher errou de porta, de apartamento, deve estar muito louca de birita ou outra droga.

Abro a porta na esperança de que haja uma mulher muito bela e muito louca de birita ou outra droga querendo invadir meu apartamento e realizar fantasias e fetiches indizíveis com a minha pessoa.

Abro a porta e realmente há uma mulher muito bela e muito louca de birita ou outra droga se afastando pelo corredor, cambaleando, à procura de seu apartamento. Chamo a mulher:

– Você está bem? Posso ajudar?

A mulher volta seu rosto e eu constato sinais evidentes de embriaguez. Me aproximo e sinto cheiro de álcool e cigarro. A convido a entrar no meu apartamento, ofereço café forte, sem açúcar. Dizem que isso corta um pouco o efeito do álcool. Mas ela prefere vodca. Penso: “Opa! Essa é das boas!”.

Entramos em meu apartamento e ela vai logo se deitando no sofá da sala. Digo sala para dar um ar de grandeza ao meu apê, mas a sala é também o quarto e a cozinha. Sinto que ela está dormindo e tiro seus sapatos de salto alto. Ouço baterem na porta e vou ver quem é. É o marido, ou coisa parecida, da mulher. Vou logo explicando o que aconteceu e a mulher acorda gritando:

– Eu não tenho culpa de nada! Foi ele que me arrastou pra cá! Se aproveitou da minha embriaguez!

O marido, ou coisa parecida, me olha enfurecido. Tento explicar de novo, mas ele me interrompe:

– Eu não estou aborrecido com você, mas com ela! É sempre assim! Ela se engana de apartamento toda vez que enche a cara! Acho que, inconscientemente, ela não quer voltar pra casa. Não quer voltar pra mim!

E começa a chorar. Fico meio atarantado no meio daquela cena. Ele chorando cada vez mais escandalosamente. Ela debochando de tudo. De repente, ele respira fundo, para de chorar, limpa o rosto e fala muito decididamente:

– Eu não vou ficar aqui chorando! Vou sair! Ela que fique aí curando a ressaca!

Se dirigindo a mim, agora ele grita:

– Onde estão os sapatos que você tirou dela? Diga!

Digo onde deixei os sapatos, ele os pega, os calça e sai pela porta do meu apartamento, falando para a mulher:

– Agora você vai ver o que é vingança!

Fico sem ter o que pensar, o que dizer. A mulher, já totalmente refeita, pega dois copos, enche de vodca e começamos a beber. A noite promete.

Santo brazuca

Crônica de Ronaldo Rodrigues

José de Anchieta era português, das Ilhas Canárias, mas fez história aqui na Terra Brasilis, quando veio na missão jesuítica “domar” os índios, infundir o temor ao Deus branco, vingativo, tornar o caminho mais fácil para a dominação dos primeiros habitantes e verdadeiros donos deste pedaço de chão.

Anchieta teve atuação destacada no início da colonização do Brasil, o que fez o padre ser considerado brasileiro. Vale ressaltar aqui que, por colonização, entenda-se invasão, expropriação, escravização, pilhagem, estupro, tortura e assassinato.

Canonizar José de Anchieta é uma missão que começou há cerca de 400 anos e agora, finalmente, chega ao seu final feliz. O papa Francisco, também jesuíta, acaba de santificar Anchieta, para júbilo daqueles que ansiavam por mais um santo brasileiro, ainda que nascido em outra região do planeta. Anchieta é o terceiro santo brasileiro. Os outros dois são Madre Paulina, que também não era brasileira de nascimento, e Frei Galvão, este, sim, brasileiro que nem nós.

O novo santo brasileiro me fez pensar numa daquelas respostas estapafúrdias que temos nas salas de aula Brasil afora. O professor pergunta:

– Quantos santos brasileiros existem?
O aluno mais brilhante responde:
– Quatro, fessor! Madre Paulina, Frei Galvão, José de Anchieta e Santos-Dumont.

Tudo bem, terminou sem graça, mas consegui quebrar um jejum de duas semanas sem apresentar texto novo para este blog. Valeu, Elton?

Meu comentário: sempre vale, RR. Valeuzão!

Duas crônicas sem muito o que dizer

Crônica de Ronaldo Rodrigues

É sempre assim quando vou gozar. Olho para a parede cinza do meu quarto e fico pensando no que ela significa para mim. Ela, a que me refiro, não é a parede cinza. É a mulher com quem transo.

Finalmente, chego ao gozo e a mulher, a quem dediquei minha melhor performance, volta para seu lugar, embaixo da cama. Não. Não é uma revista de nus femininos. Nem uma boneca inflável. É uma mulher mesmo.

Volto a olhar para a parede cinza. Volto a pensar no que ela, a mulher, significa para mim. No que as mulheres significam para mim. Estendo o pensamento para uma aranha, que faz sua teia na antena da televisão. O que essa aranha significa para mim? O que eu significo para a aranha? O que eu significo para mim? O que, finalmente, a vida significa para mim?

Poderia ficar aqui pensando essas coisas, infinita e indefinidamente, mas, neste momento, meu organismo já se recuperou da trepada e quer mais sexo. Puxo a mulher do seu lugar, embaixo da cama, e agora reconheço: ela significa tudo para mim.

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Do fundo do baú, a vida me acena. Estive com ela há alguns dias. Ela estava bem, apesar da tosse insistente. Naquela ocasião, convidei a vida para um passeio. Me vesti da vida e saí pela cidade a esmo, como sempre. Vi pessoas que não me viram, cumprimentei alguns conhecidos e fiquei com a mão no ar, esperando que alguém a apertasse.

Minha vida sorriu e me olhou assim de soslaio. Isso queria dizer que ela não estava satisfeita. Argumentei que a coisa iria melhorar. Era só ir ao lugar certo, encontrar as pessoas certas.

Minha vida olhou novamente aquele seu olhar que diz saber que eu era um sonhador, que não adiantava ficar jogando pérolas aos porcos.

Voltei com minha vida e a devolvi ao baú, de onde ela me acena agora. Fecho o baú e vou embora. Quem sabe um dia eu dê mais sorte e ofereça à minha vida um pouco mais de diversão…

Malhando os malhadores (Crônica de Ronaldo Rodrigues)


Semana Santa. Sempre que chega esta data fico pensando no sentido de justiça de certas pessoas. Elas pegam Judas e fazem o diabo com ele. Malham o cara de todo jeito. Dizem que é a única forma de fazê-lo pagar pelo crime de ter traído Jesus. Isso é o que mais me preocupa. Se tudo já estava escrito, segundo a própria Bíblia, qual é a culpa de Judas? Se há culpa, é de quem escreveu. 

Prefiro acreditar que Judas foi um elemento para que a história se cumprisse da forma que se cumpriu. Judas foi um aliado de Jesus e agiu daquela forma para que tudo saísse segundo o roteiro do Todo (Todo é como chamo o Todo-Poderoso na intimidade). Ora! Parem com esse negócio de associar o nome de Judas à traição. E parem de fazer essa justiça esquisita que comporta todo tipo de torpeza que vocês veem no cara, que condenam nos outros, mas que em vocês é aceitável. 

Traidores são vocês! Traidores da palavra de Deus! (vocês são quem vestir a carapuça). Na verdade, sou a favor da reabilitação de todas as figuras malditas da Bíblia, pelo mesmo motivo: não foram elas responsáveis por seus destinos. Como dizem os árabes: maktub! (estava escrito!). 

Portanto, Judas, Caim, Lúcifer, Barrabás, Pilatos, Herodes etc. devem ser vistos como personagens desempenhando seus papéis. Aí algumas pessoas dizem que há o livre-arbítrio, que esses personagens poderiam ter tomado outro caminho. E como ficaria a palavra do Todo? 

Na verdade, os cristãos (a maior parte deles) confundem tudo. Esse papo de dizer que Jesus morreu para nos salvar acho exagero e injusto com o cara. Cada um tem que fazer por si, pela sua salvação, e não achar que está tudo bem, bastando ir à igreja rezar que – abracadabra – estamos salvos. Muito confortável, não acham?

Agora vou me despedir porque tem uma multidão de fanáticos correndo atrás de mim querendo me linchar. E olha que eles nem leram esta linhas. É que estou com barba e cabelo grandinhos e estão me confundido, claro, com Judas. Por que não me confundem com Jesus Cristo? Ah, daria no mesmo! Só que, em vez de me linchar, eles me colocariam na cruz. Ó my God!

Ronaldo Rodrigues

Nem sinal

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Fora de área. Que nem o náufrago do filme. Que nem o avião da Malaysia Airlines. Que nem qualquer vítima da telefonia. A Vivo tá mortinha da silva. A Oi já foi, nem deu tchau. A Claro, é claro, nem sinal. A banda larga passa ao largo da minha aflição.

Quando conseguir sinal, já terei esquecido o assunto. Ou a validade já estará vencida. Ou não fará a menor diferença. Ou não terá a mínima importância.

E assim fico eu, ficamos nós, a mercê da tecnologia, refém dos planos milagrosos que dão não sei quantas horas ininterruptas de papo furado para qualquer ponto do planeta. Não só deste planeta. Coloque aí Vênus, Marte, Saturno… Talvez por lá funcione…

A menos que o assunto a ser tratado seja fofoca, o número que você ligou não existe ou está temporariamente desligado para sempre. Vamos estar transferindo a sua ligação para você estar se fodendo em mais um labirinto criado pelo telemarketing das operadoras inoperantes.

Meu crédito é insuficiente para esta ligação, para qualquer ligação, para qualquer sistema digital e tal. A ligação é grátis, mas ficará acumulada e será cobrada no juízo final, quando eu estiver no inferno, achando tudo bem mais ameno do que esta maratona insana para falar com alguém.

Eu já disse algumas vezes que, se o ser humano tivesse mesmo evoluído, estaríamos nos comunicando por telepatia. Mas a maioria das pessoas, pelo menos as que sustentam o mercado, não se interessa por algo tão fora de moda quanto o ato de pensar. Aí, o tal do mercado não investe nessa bobagem, apenas no maior número de superavançados equipamentos e planos mirabolantes para que o consumidor tenha milhões de possibilidades de falar, fotografar e filmar e nem uma vontade de, realmente, se comunicar. Ostentar é o único objetivo.

Tudo bem (ou tudo mal) que as pessoas não consigam e não queiram se comunicar através do pensamento, mas eu estou tentando isso neste momento. Concentração… Concentração… Opa! Alguém atendeu!

– Para continuar falando, tente um de nossos serviços…

Se você consegue ler pensamento, adivinhe para onde estou mandando toda essa merda de telefonia?