Poema de agora: Às rosas (Jaci Rocha)

Às rosas

Todas essas tolices
Que conto às rosas…
Ah! Todas essas divagações.
Misturam-se à chuva da manhã
Que cai.

E faz o orvalho que beija
As coisas todas do jardim.
Nasce um dia branco de fevereiro:
Bem-vindo,dia…

Que anuncia as novas:
O segundo novo, o novo riso,
e até um novo coração!
– Pois, mais que viver,
AMAR é preciso:

é luz que alimenta o jardim da emoção

Jaci Rocha

Poema de agora: Os escafandristas…(Jaci Rocha)

Os escafandristas…

Deixa aos escafandristas
Aos anjos e equilibristas
O que a gente não consegue ser…

Deixa então
Não precisa ser tão diferente
Nem deixar o peito dormente
é só aquietar…

Eles se amaram à luz do luar
à sombra de um quarto
Eles se amaram em cada ato
E não há pecado em não acomodar…

Disse o poeta “somos quem podemos ser”…
E a minha paz por tanto tempo
Ecoou dentro de você em rima
Que o mais é aprendizado. Ou sina.

Jaci Rocha

Poema de agora: As paisagens no sonho do pássaro-pretérito – @juliomiragaia

As paisagens no sonho do pássaro-pretérito

Um terçado puro e
De faro claro,
A cortar olhos e peles
Das noites de ventos escuros

Amnésica canção
A dormir nas asas do coqueiro
Entre o silêncio
E a solidão
Do quintal

Um farol de velhas borboletas
Empoeiradas,
Senhoras-visagens
Com vestidos aromatizados de cebolas
E alhos

E tu, nas margens
E no centro
Dos versos e dos berros
Deste pássaro-pretérito
Entre cirandas e restos de vinho

Júlio Miragaia

Poema de agora: Pássaros (Jaci Rocha)

 

Pássaros

Pássaros formam ninhos

E voam!

E cantam quando descansam

– Será que eles amam?…

Pessoas formam voos

E ninhos

E cantam quando amam

– Será que descansam?

O elegante movimento do universo

Não responde o labirinto

Apenas do que é feito a matéria

Que o formou…

Aquele canto que o passarinho entoou

Não tinha um adeus, nem até breve

O vento que sopra suas asas

É mais leve…

Jaci Rocha

Fonte: Blog da Alcinea

Poema de agora: CREAM CRACKERS MUNDANOS – Marven Junius Franklin

CREAM CRACKERS MUNDANOS

what do i stand for today?

pois em detrimento
do olhar cabisbaixo
de um morador de rua

não carecia mesmo
olhar vitrines
avec élégance
instalados em shoppings
de uma metrópole cinza

e assim
eu vou seguindo as estruturas
até esperar surgir
outros deuses
sob luas tenebrosas de abril

ah, logo esqueço
as verdades irrestritas
que ouvia quando criança

e sigo o caminho real
de uma Alice
às avessas

And I’m looking for what?

em que esquina
meus olhos
espelham os
girassóis anunciados?

e as ruas não me induzem
as pessoas não me desviam
o amor não me leva em sua
corcunda hipócrita!

assim
o canto que ouço
vindo de um bar de quinta-feira
me faz apenas entender
que a vida tem o sabor
frio e salgado
de cream crackers
mofentos
na sala dos professores

Marven Junius Franklin

Poema de agora: Amalucada (Jaci Rocha)

Amalucada

Do mundo dos sensatos,expulsa
Exilada dessa mistificação de ritos que cultua
Pois fui à sacada…
E vi a beleza da noite enluarada!

Mando no tempo
Não uso relógio
Reformo o pensamento
Sigo ritmo próprio…

Não sei amar comedida
Perco a réplica, a rima
Levo tempo, amor e poesia em prosa
Fico passional, profunda, real…

Vislumbro milagres
Da flor que nasce ao sol nascente
Tome goles de poentes
Pra manter o peito quente!

Jaci Rocha

Dois Poemas do Avião – Por Fernando Canto

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Lemiscata 1

O escritor me deu seu mundo e eu usufrui dele sem medidas, pois sua imaginação astuciosa foi capaz de me fazer abrir o laço que encerrava o que criara.

E eu cresci por ele em meu mundo, atando nós para que outros também os desatassem nos degraus da escada do infinito.

xxx
Lemiscata 2

As calças de um homem penduradas no cabide do infinito são espíritos ocos da intangível estrela que refaz seu brilho excruciante no interlúdio da agonia e da morte.

Fernando Canto (autor de ambas “lemiscatas”)

Poema de agora: Nômade (@cantigadeninar)

Nômade

Nasci circense;
Nem americana,
Nem amapaense:
Sem morada.
Conheci apenas,
A duras penas,
O pé na estrada.
E, como passe de mágica,
Vi-me numa peça
Épica, romântica ou trágica:
Estava presa
Por vontade própria
Na cidade ilusória
De teus lábios.
No picadeiro
Estava entregue por inteiro
Em teus braços.
Depois de rodar tantos bares,
Estava eu ali,
Alvo de teus malabares,
Como vítima que ri
De seus azares.
Nunca caí do trapézio:
Meu truque é ser alada.
Mas no fim, dei-me por vencida…
Todos disseram: “palhaçada”!
Julgaram-me descabida
E seguiram viagem
Enquanto eu escolhi a vida
Sem quilometragem.

Lara Utzig

Poema de agora: Sobre o pêndulo que caiu no poço – Lara Utzig (@cantigadeninar)

 
Sobre o pêndulo que caiu no poço.
 
Todas as suas razões eu já sei de cor.
De estrela, enfim, tornei-me pó
quando o corvo solenemente crocitou
o trágico destino que não vingou.
And at my chamber door,
assim como Poe escutou,
o anúncio inevitável soou:
Nevermore.
 
A distância
é uma criança
que cresce, às vezes, em menos de um mês.
Um gesto incontido, algo que você nem fez.
Quando se vê, já é muito tarde,
e a despedida se dá sem qualquer alarde.
 
Um gato preto cruzou o caminho
mas não o responsabilizo por esse azar.
E agora, persisto, andarilho sozinho
já sem esperanças de recomeçar.
Plantei, num jardim, ilusões com carinho
e de uma semente de amor
brotou uma flor…
Do(f)lorida:
Murchou em 5 dias.
 
Qual foi meu erro?
Um passo para a liberdade:
Conceito tão vago, um ritual, um enterro?
O nunca dura uma eternidade.
 
(O poema faz referência a três obras de Edgar Allan Poe: os contos “The Black Cat” e “The Pit and the Pendulum” e o poema “The Raven”).
 
Lara Utzig   

Poema de agora: Engrande-SER (@cantigadeninar)

Engrande-SER

Às vezes, por um lapso de lucidez,
Percebo o que sou dentro do universo
E noto minha infinita pequenez.
Se sou hábil para escrever algum verso,
Não é porque almejo qualquer glória.
Nessa vida onde somos nada mais que grãos de areia,
Sobreviver dia-a-dia já é uma vitória
Que queima, flamejante, tal qual centelha.
Entretanto, há algo que dignifica o homem;
Um sentimento capaz de nos transformar em gigantes,
Que dá sentido à rotina para louvarmos seu nome:
Sim, meus caros… Apenas o Amor nos faz grandes.

Lara Utzig

Poema de agora: O bêbado (Jaci Rocha)

O bêbado

Agente de minha própria sorte,
Caminho.
Trôpego e lúcido
Negocio copos de vinho
Com pedaços de alegria
E a minha fantasia
é ser rei!

Neste baile de carnaval
Somente eu ando nu de minhas verdades
Essa gente lúcida que vende o tempo
Nada sabe dos negócios do vinho com a felicidade…

Às vezes vejo em dobro
O que é reduzido a esmo:
Os sorrisos, o abraço
E até o olhar de reprovação
Que essa gente me lança
Sem reconhecer sua própria maldição…

E me apiedo delas
No tempo que me resta para compreender!
Mas a dor e o vazio é tamanho em cada um…
Que me visto em rei-fantasia
Peço mais vinho à infantaria
E sorrio,

De já não fazer parte
do pacto com a hipocrisia!

Jaci Rocha