Poema de agora: VAGAMUNDO – Obdias Araújo

VAGAMUNDO

A gente pode ir para qualquer lugar do universo enquanto pensa..
Posso amarrar as rédeas de meu puro-sangue árabe
Nos anéis de saturno ou escapar dos Piratas do Caribe
Envergando a mezena da carangueja
Do mastro de ré do meu iate de 18 metros.

Enquanto penso encontro em meu quintal uma gema
Que faz o Espírito De Grisogno parecer agulha de vitrola.
Enquanto penso bebo uísque escocês com limão da Sardenha
Mel de Japuto e gelo do Himalaia.

Enquanto penso levo nos ouvidos
O assobio dos quatro ventos do mundo
Assobiando em meus auriculares
Enquanto pensando voo
E penso
Em ti.

Obdias Araújo

Poema de agora: ORDEM DO DIA – Obdias Araújo

ORDEM DO DIA

Um dia atípico.
Nem mais nem menos.
Apenas atípico.

O rapaz que passa
Às cinco e trinta
Vendendo pão caseiro
Hoje dormiu um pouco mais
E passou às nove em ponto
Gritando pamonha.

A mocinha
De uniforme plissado
Escolheu outra rua
E ninguém hoje
Ouviu seus passos na calçada.

Fernando Canto
Pontual à beça
Não passou hoje
Perseguindo a crônica cotidiana.

Já o Osmar Júnior
Este veio.
Passou por aqui agora mesmo
Rebocando um
Carrinho de bebê
Com um imenso rabecão a bordo.

E uma vontade insana
De cometer poemas.

Obdias Araújo

Poema de agora: Elogio do sobrevivente – @juliomiragaia

Elogio do sobrevivente

Nas mãos e nas asas,
Que não sabemos ter,
Há matéria de um vento
Nu e oxidado, por cada
Loucura e cada chuva
Onde o peito mergulhou.

Nas mãos e nas asas,
Que às vezes sentimos,
Os abismos são
Pequenas esperanças,
Canhotas feras azuis ou
Velhos sóis empoeirados.

Nas mãos e nas asas,
Que julgamos nem ter,
Há jardins de mofo,
Mercedes Sosa e caminho,
Equações de nós mesmos,
Entre a aspa e o futuro.

Há também, nas mãos e nas asas
Que sentimos nos braços da espera,
Mururés florescendo em cidades,
Heróis de uma porre-literatura,
Amores perdidos e invertebrados
Que insistem em sobreviver.

Entre a aspa e a espera,
Nas mãos e nas asas,
Dormem, ao som do trabalho,
Cavernas inteiras de ti…
Ruas tímidas e empoeiradas
Que insistem em se dizer.

Júlio Miragaia

Poema de agora: AMOR REBELDE – Obdias Araújo

AMOR REBELDE

Um dia atípico.
Nem mais nem menos.
Apenas atípico.

O rapaz que passa
Às cinco e trinta
Vendendo pão caseiro
Hoje dormiu um pouco mais
E passou às nove em ponto
Gritando pamonha.

A mocinha
De uniforme plissado
Escolheu outra rua
E ninguém hoje
Ouviu seus passos na calçada.

Fernando Canto
Pontual à beça
Não passou hoje
Perseguindo a crônica cotidiana.

Já o Osmar Júnior
Este veio.
Passou por aqui agora mesmo
Rebocando um
Carrinho de bebê
Com um imenso rabecão a bordo.

E uma vontade insana
De cometer poemas.

Obdias Araújo

Poema de agora: FLOR DE JADE – Obdias Araújo

FLOR DE JADE

Perdoa meus arroubos
Meu excesso de romantismo
Meu deslumbramento de menino
Minha sede de amante
Meu olhar fixo no teu.

Perdoa se às vezes pareço te querer
Presa em meus braços. Quero sim
Te envolver em meu abraço
E sentir que fechas os olhinhos
Prazerosa como a siamesa no cio…

Perdoa se não te trago ouro
Incenso e mirra. É que
Gaspar, Belchior e Baltasar
Zeraram o estoque.

-Taí Alcy Cavalcante de Araújo
Homem do Cais
E taí Alcinea Cavalcante
Eles que nunca me permitiram
Falsear a verdade.

Mas posso te dar uma
Floresta de Origamis
Um copo de Don Perignon
Safra 1912
E uma flor de jade
Que roubei do caramanchão
Quando Tondo foi buscar
Minha quinta ou sexta xícara de café
E mais algumas pupunhas
Que eu sempre repetia
O mesmo pedido
Para ficar alguns minutos
Sozinho contigo…

Você lembra
Telmitcha?
Era já noite e duas
Estrelas e meia
Testemunhavam
Nossos beijos
E aplaudiam
Nossas juras
De eterno
Amor!

Obdias Araújo

Poema de agora: RETORNO – Obdias Araújo

RETORNO

Quando voltar a Macapá
Visitarei primeiro
Meu bom amigo
Francisco das Chagas bezerra
O Professor Chaguinha
Que nunca leu O Quinze
E sempre foi amigo
Amigo do peito
De João Belchior
Marques Goulart.

Quando voltar a Macapá
Faremos eu e Vagalume
Um samba
Lembrando o Pintão
Que arribou daqui
Levando consigo meus antigos
Long-Play’s de Glenn Miller.

E por falar nisso
Vou passar no La Boeme
Na segunda de noitinha
Dar um beijo na cabeça
Negra do maninho Nena Leão
E recusar o Cuba Libra
Caprichosamente elaborado
Pelas mãos ágeis e negras
Do Rei da Noite.

Quando voltar a Macapá
Não quero receber ninguém.
Quero deitar entre as cruzes
De Nossa Senhora da Conceição
E descansar
Em paz!

Obdias Araújo

 

Poema de agora: MACAPÁ QUANDO ABRUMA – Marven Junius Franklin

Foto: Manoel Raimundo Fonseca

MACAPÁ QUANDO ABRUMA

Macapá quando abruma
criaturas adejadas sobrevoam a pracinha do Forte
(O seu canto doce pode ser ouvidos lá pelos rumos da Zona Norte.)
Macapá quando enevoa
Iaras-Mães-d’água desfilam faustosas
sobre os carris abandonados do Trapiche Eliezer Levy.
Macapá quando enoita
botos de blazers alvos e bem-incisados
seduzem deusas-caboclas lá pelos lados da Fazendinha.
Macapá quando nubla
naus do velho mundo rastejam trôpegas pelo leito denso do Rio-Mar
(Indo ancorar destroçadas na beirada cinzenta do Igarapé das Mulheres.
Oh, em Macapá quando o crepúsculo chega!
Os pioneiros passeiam garbosos nos arredores do Forte
(São os mortos da cidade que nunca dormem
esperando pelo barqueiro de Hades que sempre tarda.)

Marven Junius Franklin

Foto encontrada no site ArteAmazon

Poema de agora: Legio (Obdias Araújo)

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Legio

Lembro-me que fui mendigo em Istambul
vendedor de pasta de amendoim em Nairobi
participei da Revolução dos Cravos em Portugal
e defendi a ferro e fogo Salvador Allende no chile.

Também namorei Mata Hari
tive quatro filhos e dezenove cobras
com Luz del Fuego
comprei biquinis para Jaqueline Papadopoulos Onassis
acendi os charutos de Winston Churchill
provei a sopa de aspargos de Che Guevara
e participei de acaloradas discussões
entre o urbanista Lúcio Costa
o arquiteto Oscar Niemeyer
e o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira
que sempre aceitava meus palpites
para desespero de Niemeyer e Lúcio costa.

Em um momento sombrio de minha existência
você e sua exuberante luz invadiram
meu horizonte.

Nunca mais fui o mesmo. Você nunca saiu
não sai e jamais sairá de minha mente.
sempre cantarolando A Flauta Mágica
em meus ouvidos e passeando
minúsculos shortinhos
e reveladoras camisetas
em meu coração!

Obdias Araújo

Poema de agora: PRIÈRE POUR LES OPPRIMÉS – Marven Junius Franklin

PRIÈRE POUR LES OPPRIMÉS

sobre o mármore [encardido] dos necrotérios públicos
se posta a indiferença [municiada]de brutal injustiça
e belicosos punhos de aço inox [degolando] experimentos hipócritas
de nossa [Pseudo] société fraternelle
em antemanhãs desenxabidas [que vislumbro] em lágrimas
segue naus fantasmas [a colher] os mortos
que angaria pelas sarjetas das cidades gris
devorando [aprovisionada de bulimia]
o bucho dos desarrimados
em tardes frígidas de domingo [ensejo em que meus olhos turvam]
o senhor dos miseráveis canta seu hino de guerra
[a pedir passagem para a eternidade]
levando almas petrificadas
que fraquejadas impetram clemência
[pelo culpa que legaram]
oh! pelas ruas das cidades mortas…
nem girassóis [nem devaneios de quixote]
apenas lamúrias a encharcar o parapeito
dos casebres [desalumiados]

Marven Junius Franklin