Poema de agora: JOSUÉ ( Obdias Araújo)


JOSUÉ

Matronas que passais 
arrastando vossas pencas 
deixando atras de si 
um rastro de intriga 
e de patchuli.
Colarinhos duros! Corpos balofos! 
Impotentes que trazeis as faces 
amarelecidas pela falta de sol! 
Vampiros! Cúmplices da escuridão! 
Sacerdotes do espúrio! 
Lancem sobre mim 
o fel de vossos negros corações!
Rasguem meu manto! Cantem meu pranto! 
Fazei cessar meu grito! 
Derribai meus escombros porque vossa vitoria 
jamais será completa! 
Eu voltarei! Estarei de horizonte a horizonte!
Serei os quatro ventos 
e toda a horda verá o sorriso do meu filho 
– estandarte drapejando 
à luz do sol 
que nasce 
e que me traz consigo! 

Obdias Araújo

Poema de agora: Justificativa (Obdias Araújo)


Justificativa 

Canto o sofrer do abandono
A dor d solidão.
Canto o estar só.
A falta de um corpo
Que se deite a meu lado
Que nos faça um.
Meus cantos trazem sons
Da bruma
Da lama
Dos invernos
Dos infernos
Das tormentas
E dos amores desfeitos.
Raras vezes
Meus cantos são outros.
E se queres saber
O porque do assim
Pergunta aos profetas
Aos magos duendes
Pergunta aos poetas
Ou mesmo a mim.

Obdias Araújo

Poema de agora: Auge da Paixão (Telma da Cunha)


Auge da Paixão (para Obdias Araújo)

No auge dessa paixão
incontida, desenfreada,
embarquei, naveguei nesse mar
me desnorteei.

Me extasiei nas delícias
que só a paixão explica.
Foi real, vivi
explodi prazerosa,
nessa viagem sem retorno.
Bailei no redemoinho
do tempo.

Me embalei na melodia
de sua flauta,
que soa traiçoeiramente
aos meus ouvidos,
hoje e sempre.

Essa paixão, foi fogo,
brasa que arde, energia
que transcende,
eletriza meu ser.

Nessa sintonia, embarcamos
lobo e borboleta
único sopro, úmido gemer.

Hoje, essa paixão se esvai
perde-se no sonho que não sonhei.
Você foi ficando no caminho,
sem entender o que realmente 
aconteceu.

Poema de agora: Legio (Obdias Araújo)


Legio

Lembro-me que fui mendigo em Istambul
vendedor de pasta de amendoim em Nairobi
participei da Revolução dos Cravos em Portugal
e defendi a ferro e fogo Salvador Allende no chile.

Também namorei Mata Hari
tive quatro filhos e dezenove cobras
com Luz del Fuego
comprei biquinis para Jaqueline Papadopoulos Onassis
acendi os charutos de Winston Churchill
provei a sopa de aspargos de Che Guevara
e participei de acaloradas discussões
entre o urbanista Lúcio Costa
o arquiteto Oscar Niemeyer
e o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira
que sempre aceitava meus palpites
para desespero de Niemeyer e Lúcio costa.

Em um momento sombrio de minha existência
você e sua exuberante luz invadiram
meu horizonte.

Nunca mais fui o mesmo. Você nunca saiu
não sai e jamais sairá de minha mente.
sempre cantarolando A Flauta Mágica
em meus ouvidos e passeando
minúsculos shortinhos
e reveladoras camisetas
em meu coração!

Obdias Araújo

Poema de agora: Saudades (Obdias Araújo)


Saudades

Ah 
O balir das rimas 
E este desejo insano 
De apascentar poemas…
Ah 
O girar mundos… 
Reler Baudelaire no original 
E respirar os ares 
De Sevilha…
E bem ali 
Na Ferro de Engomar 
Ignorar solenemente as formigas 
E devorar alguns livros
:Benilton Cruz 
Alonso Juraci 
Francisco Nascimento e outros 
Paraoaras poetas 
De Ildoneidade 
Soeiramente comprovada. 

Obdias Araújo

Poema de agora: Iconoclasta (Obdias Araújo)


Iconoclasta

A esperança
reduzida a cacos
salta aos olhos 
– meu olhar sanguinolento.
O messias jaz no pó 
tombado ao peso
de suas próprias falhas.
Onde a mulher
que fui buscar
no brega? 
Bebi com ela 
dancei com ela 
dormi com ela 
e só.
Despejam azeite 
sobre minhas muralhas.
Soam trombetas 
defronte ao meu repouso.
Lançaram sorte 
sobre meu manto 
e me deixaram nu.
A diaba protetora dos poetas 
em menopausa beijou-me os lábios 
e o cadafalso que me serve de abrigo 
ameaça ruir sobre minha cabeça.
Amaldiçôo
a todos.
Troco um olhar cúmplice 
com Maria – a magdalena 
e exijo meu espírito de volta! 

Obdias Araújo

Poema de agora: Ellen (Obdias Araújo)

Ellen

Menina de olhares tristes
De pele clara e cabelos
De boneca de marfim
Por que me olhas assim
tão triste
fixamente
com se eu fosse o espelho
e tu a Fada Morgana
Por que me olhas
Menina
de rosto de camafeu?
Há um mistério em teu rosto
Um oceano em teus olhos
e teus cabelos escondem
mil segredos, mil pensares
E aumentam meus penares
Teus olhos fitos em mim
o que esconde
menina
este rosto de marfim?

Obdias Araújo

Poema de agora: Poema para meu Cristo (Obdias Araújo)


Poema para meu Cristo

Meu cristo traz
no olhar
restos de noite
e madrugada nos gestos.
É impuro e bom
casto e conivente
arrostando multidões
na orla de seu manto.
Outro dia
vi meu cristo em Montecarlo.
(Não havia anjos ou nereidas
machucando o rosa e o marrom.)
Na terceira rodada
prenderam meu cristo.
Alguns homens
de boa vontade o levaram.
Não havia revolta
em seus olhos negros
como as coisas que ficam
para trás.

Obdias Araújo

Poema de agora: Escólio (para Fernando Canto) – Obdias Araújo

Desenho de Obdias feito por Fernando


Escólio (para Fernando Canto) – Obdias Araújo

A palavra é conto e canto
O calar é desencanto
A palavra é alegria.
Por isso
meu povo
canta
Que o calar é nostalgia
A palavra é conto e canto
O silêncio é desencanto
A palavra é alegria.
E se a palavra é alegria
O silêncio é desencanto.
A palavra é conto e canto
Por isso
Meu povo
Canta
Que o calar é nostalgia!

Obdias Araújo

Poema de hoje: A neblina de Pedra Branca (@fernandofranca5)


A neblina de Pedra Branca

Pedra Branca amanheceu branca
 Serração branca
 Manhã fria e um sol refrescante
 E a felicidade logo tornou-se branca
 Com leve tom azulado
 Agradeci a Deus primeiramente
 Depois ao Zé Tupinabá
 Ao seu Baiano
 À Vovó Servana
 A São Jorge
 Ao meu pai que olha por mim sempre
 A minha mãe que sempre me acompanha em suas orações
 Aos anjos
 Querubins e a todos os guerreiros de Deus que me protegem
 Agradeci também a todos que sorriem quando me aproximo
 Aos que possuem boas energias

Fernando França 

Poema de agora: Crepúsculo (para Obdias Araújo) – Telma Cunha


Crepúsculo (para Obdias Araújo) – Telma Cunha

No céu crepuscular,
quase madrugada, 
no enlevo doce do desejo
do teu hálito. 

Nesta agonia gostosa
do Amazonas
que nos separa
te aperto
te cheiro
te vejo
tu és tudo isso:
o mais bonito. 

És mistura. 
Céu lilás
Melodia do rio.
Rio revolto.
Celestial. 
Azul
noturno.

Perdida no som da flauta, 
busco tua alma, 
sussurro
suspiro
sonho.

Telma Cunha

Poema de agora: Verso Fálico (Obdias Araújo)


Verso Fálico (Obdias Araújo)

Dizes que
não me entendes.
Na realidade
Não quero que
me compreendas.
Quero sim
Que me mantenhas preso
Ao teu tronco feito a jabuticaba
Em frente à tua casa
Que me tragas presa fácil
De teu sexo
Que me mastigues e engula
Feito um naco de queijo parmesão
Que é duro como é duro duro duro
O meu desejo
Quando falo falo¿ falo!
Contigo…

Obdias Araújo